O indiano Amartya Sen, Prémio Nobel de Economia, durante uma aula em Harvard. Foto Christopher Morris/VII
Harvard e o mundo dos negócios
"Professora de civilização francesa no Departamento de Línguas Românicas, Stéphanie Grousset-Charrière praticamente não observou a ligação entre os professores de Harvard e as empresas. Em contrapartida, Stéphan Bourcieu, actual director da Escola Superior de Comércio de Dijon-Bourgogne, diplomado de Harvard, foi assistente durante um semestre no Departamento de Management da célebre universidade americana. Recorda a proximidade dos professores para com o meio económico: "As aulas eram dadas por professores muito versados em negócios e também consultores de empresas. É claro que apresentavam durante as aulas muitos casos reais." Uma das chaves mestras de Harvard, segundo afirma, "pois quando se analisam cinco ou seis casos reais por dia, adquire-se uma cultura real de empresa".
A universidade dispõe de um capital de 30 mil milhões de dólares, gerido por uma centena de profissionais, especializados nas subtilezas dos mercados financeiros. As propinas em Harvard são naturalmente bastante elevadas, da ordem de 43600 dólares anuais por cada aluno. Além disso, as contribuições voluntárias dos antigos alunos são bastante generosas. "Como contrapartida tácita de tais donativos, alguns filhos dos benfeitores beneficiam de educação gratuita em Harvard. Privilégio subtil? Ou esquema típico de reprodução social?, interroga-se Stéphanie Grousset-Charrière. Contudo, a universidade assegura vários apoios financeiros, de modo a garantir a primazia da excelência nos seus critérios de selecção. Em 2012 só 5% dos candidatos a Harvard foram admitidos.
"O que me surpreendeu foi o excelente enquadramento docente, com um professor por cada 8/10 estudantes, em estabelecimentos de 2.500 a 3.000 alunos. Os percursos académicos são muito abertos, quase à lista, com uma grande multidisciplinaridade, de que resultam currículos originais. Evita-se assim a especialização precoce de jovens de 18 anos, a quem não se exige que tenham já um projecto profissional bem definido. Referência também para os métodos pedagógicos, muito interactivos", diz-nos o director da Escola Superior de Comércio de Grenoble, Jean-François Fiorina, que visitou três dos 259 colégios de elite, que asseguram o primeiro ciclo universitário americano, concedendo os "bachelor's", equivalente às licenciaturas europeias. Baseia as suas observações sobre o Smith College, o Amherst College e o Wellesley College, onde estudou Hillary Clinton. A respectiva admissão é quase tão selectiva como em Harvard, com 10 mil candidatos anuais para entre 500 e 700 admissões.
Será possível adoptar este sistema em França? "Claro que não, responde-nos Stéphanie Grousset-Charrière. Mas reconheço ter usado nas minhas aulas em Toulouse a experiência pedagógica adquirida em Harvard, suscitando o debate e a interacção. Os estudantes gostaram e solicitaram mais exemplos concretos e maior ligação com a realidade económica e social."
Isabelle Rey-Lefebvre, Le Monde, 17/05/2012, página 16
3 comentários:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Quem quer pertencer a um grupo tem de se conformar com o seu padrão de pureza... É uma regra antiquíssima. A classe poderosa, o Capitalismo em si, escolhe os seus representantes (teóricos e dirigentes) por um processo iniciático, de purificação. Há várias formas de o fazer... É uma espécie de fumigação, para afastar maus cheiros, uma forma primitiva de desinfeção. Na purificação também sempre foram exigidos trajes novos, na maior parte dos casos são prescritos os trajes brancos.
É possível que Havard seja uma espécie de santuário, os candidatos a alunos estão sujeitos a um ritual iniciático, para impedir sujidades e outras perturbações, como a marca de classe e nascimento... A ideologia é só uma. "O custo total de um estudante de graduação em Harvard no ano letivo de 2008-2009 foi calculado em 800 mil euros, sendo 400 mil euros somente de matrícula, 200 mil euros de estadia e alimentação, e 200 mil euros de outras taxas" (Wikipédia). Para entrar na ordem dos Templários, era perguntado ao candidato se tinha dívidas, e, caso passasse nos rituais iniciáticos, pagavam-lhas, coisa bem diferente. Cada Ordem tem a sua regra, os Templários tinham a sua, a "ordem" do suprassumo liberal tem a sua. Há vários tipos de purificação, Havard tem o seu.
O objetivo é construir e formatar os teóricos e dirigentes do Capital. Os EUA são o país de maiores contradições sociais, do económico ao rácico, por aí a fora. Havard não o pode negar.
Provavelmente - quase de certeza -, os fautores da crise internacional que rebentou em 2007/2008, estudaram muitos deles na Havard university e não seria descabido colocar a hipótese de alguns dos tecnocratas da troika que governam o nosso País terem lá estudado.
Os artigos são de muito interesse, gostei de os ler, não tenho dúvidas que Havard é uma excelente universidade e que lá se formaram grandes homens e mulheres nas áreas dos diversos saberes. Pelo que tenho lido, parte importante desses cabeções vivem em "ilhas", longe da contaminação dos povos, dos trabalhadores, e são prodígios em reestruturação de empresas, em dinâmicas eficazes para assegurar um exército de reserva de desempregados e miseráveis, para controlar o preço do fator de produção Trabalho. E outras coisas. Na área da economia, revelaram todo o seu conhecimento, desviando os investimentos da "economia real" para a compra das dívidas soberanas, pondo os povos a encher os bolsos a capangas que desconhecemos, talvez nem esses magníficos cabeções ao seu serviço.
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Voando agora mais baixinho, ao nível da minha universidade.
No jornal "Público" de hoje, pode ler-se um interessantíssimo artigo, "Indispensável autonomia das assembleias municipais", do Professor António Cândido de Oliveira, da universidade do Minho, estudioso das autarquias locais. Apesar de ser Regionalista e eu não, recomendo a todos os autarcas e militantes partidários a sua leitura e subsequente reflexão.
Excertos desse artigo:
Mas o melhor é mesmo lerem o artigo todo. É preciso que as assembleias municipais deixem de ser uma seca e, tantas vezes, coioS(1) onde se resguardam muitos oportunistas que só pensam no próximo acto eleitoral.
Respondam-me cá! Que faz Miguel Relvas na Assembleia Municipal de Tomar?
Está-se mesmo a ver...
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(1) "Coio" também é o nome de um peixe do Brasil.
"Damn" Cantoneiro!
Desta vez assino por baixo!
E em "ambas as duas" intervenções. :)
(Já agora e ainda que mal pergunte, porque será que o Relvas não quer ir à AR no caso "Público"?)
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