Um símbolo...

Um símbolo! Pela primeira vez em mais de cinquenta anos, estamos a meio de Maio e a Roda do Mouchão não anda, nem foi ainda feito o açude tradicional. Mas a ridícula fonte modernaça da Rotunda -com água às cores e tudo, como em Las Vegas/USA- essa funciona e consome energia eléctrica, paga por todos nós. Dir-se-à que, a partir do momento em que a infeliz reformulação do Mouchão, patrocinada por António Paiva (que nunca ali brincou ou namorou, o que explica muita coisa...), destruiu o tradicional e ecológico sistema de rega, a roda não tem qualquer utilidade prática. Será mesmo assim? Os turistas virão a Tomar para ver a fonte modernaça da Rotunda, os pastéis de cão pelas ruas, as obras da Estrada do Convento, a falta de sinalização adequada, os monumentos fechados e uma cidade decrépita? Ou, pelo contrário, para verem, visitarem e saborearem coisas típicas, ruas limpas, gente alegre e uma cidade dinâmica? 

Sobre o actual estado de coisas, correm duas versões convergentes. Há quem garanta que a roda não funciona porque a actual maioria relativa já não consegue controlar os funcionários da autarquia, descontentes com a cada vez maior penúria e as desagradáveis e por vezes ridículas medidas de austeridade. Outros acrescentam que foi a própria troika local a decidir não fazer o açude, como medida emblemática da nova e forçada política de poupança. Em ambos os casos há portanto um aspecto comum -a falta de dinheiro para horas extraordinárias. Exactamente aquilo que o vereador socialista Luís Ferreira deixa transparecer no seu mais recente texto, aqui. A ser assim é grave, mas entende-se. É grave, pois doravante os tomarenses e os visitantes deixam de ter a certeza de que poderão contar com pronta assistência dos bombeiros ou com eficazes serviços autárquicos, quando necessários. Entende-se, porque ainda recentemente o presidente Carrão, tentando passar a mão pelo pêlo demasiado susceptível dos senhores funcionários, se proclamou adversário resoluto da inevitável racionalização dos meios humanos da autarquia, com uma curiosa justificação: "Temos 529 funcionários, o que representa outras tantas famílias que dependem do município". É humano e à primeira visa solidário. Mas será que as autarquias existem para dar emprego (por vezes de favor...) aos cidadãos? Ou prioritariamente para desempenhar com eficácia e prontidão os indispensáveis serviços públicos à comunidade?

Por este caminho, a resposta final não tardará muito. Pois se até o guarda da Mata, lamentando há poucos dias a situação "numa cidade que dizem de turismo", exclamou que "Até parece fazermos de propósito para colocar o carro à frente dos bois!" Queria ele dizer que temos o hábito lamentável de distribuir e gastar a riqueza que ainda não produzimos, ou de fazer conta com os ovos nos ovidutos das galinhas... E não há meio de aprendermos!