terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma nova fase

Foto NouvelObs/AFP

Num mundo em que alguns raros cidadãos têm a coragem de se queimar, tanto em sentido próprio como figurado, em prol das suas ideias, julgo dever uma explicação aos leitores de Tomar a dianteira. Sobretudo aos tomarenses. Desde Setembro de 2009 que venho procurando escalpelizar a política nabantina. Bem ou mal, cabe aos leitores apreciar. Mas uma coisa sei: até agora tratou-se de um esforço inglório. A situação local é agora bem pior que em 2009, como de resto aqui se previu desde o início, quando praticamente todos ainda pensavam que a crise seria uma coisita passageira.
Iguais a si próprios, os meus caros conterrâneos continuam a aguardar um salvador, eventualmente numa manhã que nem precisa de ser de nevoeiro. Pior ainda. Habituados a que lhes passem a mão pelo lombo no sentido do pêlo, enquanto com a outra lhes apertam os ditos, para vomitarem impostos e taxas, irritam-se quando alguém que não precisa da política para nada ousa escrever duas ou três verdades. Um exemplo flagrante são as considerações aqui feitas sobre os funcionários redundantes, integrados no império burocrático que vai asfixiando o país e as cidades, os quais devem vir a ser dispensados assim ou assado. O nosso leitor Leão da Estrela -que é funcionário autárquico- alega imediatamente que há os assessores, os secretários, os adjuntos, os chefes de gabinete... Tem toda a razão. Mas esquece deliberadamente o detalhe da escala. 
De acordo com cálculos europeus, mais tarde ou mais cedo entre 100 e 150 mil funcionários públicos terão de procurar outra vida. Não por má vontade deste ou de qualquer outro governo ou autarquia. Apenas porque a situação orçamental que temos não é sustentável. Na melhor da hipóteses, haverá uma média de 30 nomeações políticas por autarquia + 300 no governo. Temos assim 30 x 308 = 9240 + 300 = 9540 nomeações partidárias. Muito longe portanto dos tais 100 mil, mesmo considerando as diferenças de vencimentos...
Isto para mostrar que os tomarenses tardam mesmo em adaptar-se aos novos tempos. Cismaram num determinado modelo societal e por aí se mantêm. Gabo-lhes a constância. Preocupado com a sombria evolução económica do concelho, naturalmente provocada pela peculiar situação política, procurei provocar eleições antecipadas, como forma de iniciar a cura antes que a doença se torne irremediável. Falhei. Resta-me por isso tentar mais uma vez esclarecer os tomarenses e seguir em frente, sempre na dianteira das ideias.
Não tenho alma de mártir nem feitio de homem providencial. Se e quando os tomarenses precisarem de mim, cá estarei, disponível para conversar e decidir. Caso nunca venham a precisar, pior para eles e para o concelho. Melhor para mim e para os meus. Ainda não me fartei de estar bem e a política, com as suas querelas e outros solavancos, não dá saúde a ninguém.
Termina aqui a primeira fase deste blogue. Daqui para a frente deixarei de escrever duas vezes por dia. Apenas o farei quando entender que há temas assaz importantes para isso. Por conseguinte sem periodicidade certa.
Desejo a todos muita saúde e felicidades. Foi uma honra e um prazer trabalhar afincadamente para vocês durante estes 33 meses. Mas não sei se valeu a  pena.

5 comentários:

alexandre leal disse...

Vale sempre a pena Professor!

A desonestidade intelectual não pode ser considerada(e jamais será premiada).

Cumprimentos

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Fico lisonjeado com a referência, convencido que o que escrevo lhe diz alguma coisa, perdoe a imodéstia.

A minha condição de funcionário público, que presta serviço numa autarquia, permite-me conhecer um pouco mais do que quem está de fora e por fora, apenas isso, não me acuse de mais nada, muito menos corporativista. Sempre defendi a progressão na carreira por mérito; há coisa de 5 anos, o sistema de avaliação foi alterado, passou a chamar-se avaliação de desempenho. Sabe quem tem sempre a máxima classificação, aqui no meu departamento? ( a coisa agora é por quotas) pois, o secretariado e o motorista do vereador...creio estar tudo dito, quanto a progressões (que agora estão congeladas) por mérito!

Já quanto à fixação do elevado número de FP's, meu caro, começaria por onde? pela polícia, ou pelos médicos? pelos professores, ou pelos enfermeiros? é que esses são os únicos FP's, os outros têm um contrato de trabalho em funções públicas, com menos regalias que qualquer trabalhador do sector privado (até levam menos indemnização se se quiserem ir embora, veja lá). Claro que grande parte dos outros cada vez mais são menos necessários, cada vez mais os serviços vão sendo privatizados...a água, os resíduos sólidos, os esgotos, a vigilância, a limpeza urbana, mas a questão que lhe coloco é se concorda, se concorda que dentro de pouco tempo, o Estado apenas tenha as forças armadas, a polícia, os médicos e enfermeiros e os professores e tudo o resto seja privado? pelo seu raciocínio, deduzo que sim. Olhe, quando isso acontecer, das duas, uma, ou quero ser primeiro-ministro, que governar será a coisa mais fácil do mundo, ou fujo daqui p'ra fora, porque coitados daqueles que não girem na esfera do poder, que vão morrer de fome em menos de três tempos!

Preocupa-se então o professor com o excesso de FP's. Ficamos a saber, se porventura um dia ocupasse a cadeira do poder no nosso Concelho, que uma das medidas seria diminuir o número de trabalhadores. Já pensou em pô-los a trabalhar de forma a fazê-los ser úteis, que é para isso que lá estão? (não serão eles um exército sem general?) ou entregará os serviços a privados, para demonstrar que tem pessoal a mais?

Professor, não sei se tem contador de visitas, mas pelo menos respostas aos seus posts, ultimamente tem tido poucas, o que quererá eventualmente dizer que está a pregar no deserto; provavelmente quem perderá não é você, mas quem o não lê.
Quanto a mim, salvo esta questão de que faço ponto de honra de não deixar passar em claro e uma ou outra pontual, até me revejo em muito do que defende. Eu vou aparecendo para acompanhar as novidades.

Cumprimentos

Leão_da_Estrela disse...

Meu caro Alexandre Leal,

Como o meu nick é o único que aparece neste post, posso inferir que se refere a mim, quando fala de desonestidade intelectual?

Tenho p'ra mim que é mais "intelectualmente honesto" do que isso e que chega mais longe quando faz o favor de ler o que escrevo e olha para os números que não deixam mentir.

Se estou enganado, desde já me penitencio, até pelo atrevimento de me dar uma importância que de facto não tenho.

Cumprimentos

Leão_da_Estrela disse...

Professor, a propósito da minha "teima", se se quiser dar ao trabalho:

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=52514

http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/nomeacoes.aspx

E números, são números, um destes dias trago-lhe os das autarquias e os da AR, se estiver disposto a continuar a conversa.

Ctos

alexandre leal disse...

Caro Leão da Estrela

Asseguro-lhe que não me referia a si!

Poderei ir concordando ou discordando do que escreve mas é sempre correcto .

Vê-se que é uma pessoa de causas e isso tem o meu absoluto respeito.

Cumprimentos