sexta-feira, 12 de abril de 2013

A malta da esquerda anda baralhada

Nota prévia

Não sou advogado de Passos Coelho. Não tenciono filiar-me no PSD ou em qualquer outro partido. Não vou pedir benesses governamentais a ninguém. Acedi por concurso público a todas as funções públicas que desempenhei. Menos a guerra em Angola, que resultou do então serviço militar obrigatório.

Aos factos. Aqui há uns meses, quando o primeiro-ministro, se calhar cuidando estar a alvitrar uma saída engenhosa, mencionou a emigração como uma opção a ter em conta por todos os desempregados, sobretudo os jovens, caiu-lhe em cima toda a malta de esquerda. E a pés juntos. Só não o crucificaram porque já não estamos na Palestina no tempo de Cristo.
O que se compreende. Desde o 25 de Abril que a opinião pública dominante em Portugal tem por adquiridas algumas "verdades dogmáticas", entre as quais avulta a de que o capitalismo está condenado. Donde resulta que os portugueses tendem a considerar na prática a República como mãe e o Estado como papá. Logo, com a obrigação de providenciarem a todos os seus filhos saúde, educação, segurança, cultura, desporto, alojamento e emprego. Agora que a crise precipitou o advento da era das vacas pele e osso, com o Estado a dispor de cada vez menos recursos para cada vez mais funções, é natural a angústia violenta dos filhos da nação.
Infelizmente, o país está impossibilitado de continuar a viver a crédito. Não por opção própria mas por vontade dos credores, que exigem poupanças substanciais como condição para continuarem a investir, cada vez com mais parcimónia. Donde resulta obrigatoriamente um cada vez maior adelgaçamento do Estado. E lá se vão muitos dos usuais benefícíos, universais e gratuitos ou quase, mesmo para aqueles que nunca pagaram IRS, apesar de poderem muito bem vergar a mola. Donde a singular irritação perante a sugestão de Passos Coelho. Pretendem continuar a mamar no orçamento e na emigração não há disso.
Há dúvidas a tal respeito? Então leia-se o que segue:

                                             Capa do Nouvel Observateur de 10/04/2013

Nouvel Observateur, 10/04/2013

"Karelle Maura: Chefe de compras de Reckit Benckiser, em Nova Iorque - USA
"Ganho mais do dobro do que ganharia em França."
"A tentação da emigração -Estudar/Trabalhar no estrangeiro. Com ganas, conquistadores, aventureiros, frustrados, desocupados, os jovens são cada vez mais numerosos a deixar a França. Inquérito sobre uma nova tendência que está na moda."

Nouvel Observateur, 10/04/2013, página 58
"Guia de Estudos - A Escola do Mundo - O intercâmbio tipo Erasmus é coisa do passado. Agora a tendência é para a aventura individual. Eis os nossos conselhos para estudar nos seis países mais apreciados pelos estudantes franceses (Bélgica, Inglaterra,  Estados Unidos, Suiça, Canadá (Quebec) e Alemanha).
Fayçal Lounes, director financeiro de Ernst & Young, S. Francisco - USA: "Aqui as pessoas estão-se nas tintas para a origem nacional de cada um".


Nouvel Observateur, 10/04/2013, página 56


Os vinte principais destinos dos emigrantes franceses, por ordem decrescente. No que se refere a Portugal, há que considerar que muitos são apenas franceses luso-descendentes, que regressaram à origem, ou ex-emigrantes com dupla nacionalidade.

Nouvel Observateur, 10/04/2013, página 55

"Conselhos provocadores de dois jovens emigrantes franceses
Se gostas da França, abandona-a!
Emigrar é excelente quando se trata de encher a cabeça de ideias e de representar a França.
Empreendedor, se queres triunfar, se gostas do teu país, emigra para melhor o ajudares. Não percas tempo a lutar contra os cobertores. Vai encher-te de energia. Disseram-te que não vais conseguir? Então parte à procura do virus "I can". Nesta difícil conjuntura, procura os novos meios de comunicar, de revolucionar a educação e de criar os vencedores de amanhã. Não falas inglês? Não foste aluno de uma universidade de topo? Não tem importância. Podes aprender tudo na Net e de borla, nas melhores universidades francesas (Canal-U) ou estrangeiras (Coursera, Udacity, Khan Academy). Procura falar com quem já o fez, aperfeiçoa o teu projecto, via iniciativas locais (StartupDigest).
Depois regressa com a tua visão, as tuas inovações e as tuas soluções: Desenvolve-as em França, como os nossos engenheiros e os nossos trabalhadores, que são excelentes. A seguir difunde o que produzires aos quatro cantos da terra. A Internet chega a dois mil milhões de pessoas! É assim que vais triunfar: ajudando a França a entrar no novo mundo, a exportar o que é novo e a recuperar o astral positivo. A revolução da inovação pelas startup está em curso. Todos os que procuram manter privilégios de outra época vão passar por momentos difíceis. Deixemos de nos queixar e mudemos a França pela inovação."

Clément Cazalot, cofundador de docTrackr (segurança informática de documentos), Boston - USA
Franck Nouyrigat, cofundador de Startup Weekend, (formação em empreendedorismo), Seattle - USA
COMENTÁRIO FINAL

Tudo lido e ponderado, qual a atitude mais positiva para o país? O evidente realismo de Passos Coelho, ao apontar o caminho da aventura, na senda dos navegadores de antanho e dos emigrantes do século passado? Ou continuar à espera que a crise passe e o Estado resolva os nossos problemas? A resposta é urgente para todos. Como escrevem acima os dois jovens franceses expatriados, "Todos os que procuram manter privilégios de outra época, vão passar por momentos difíceis."
Um último esclarecimento: Reaccionário tudo isto? Olhe que não! O semanário Nouvel Observateur é um dos três viáticos da esquerda francesa, muito querido até do nosso Mário Soares. Os outros dois são o Le Monde e o Libération. Alguma pergunta?

3 comentários:

Unknown disse...

Pergunta.
O que é que tem o Mário Soares e o PS a ver com a esquerda?

Unknown disse...

Obrigado amigo Caiano pela pergunta, cuja resposta é óbvia: Se o governo é de centro-direita e se o PS e Mário Soares são oposicionistas, onde colocá-los, no espectro político?

Leão_da_Estrela disse...

Nova pergunta:
E o governo tem alguma coisa de centro?
E ainda nova pergunta:
E o Ps tem, na sua prática, alguma coisa de esquerda?

Ainda antes de haver roda, que veio possibilitar uma maior mobilidade nas deslocações, já havia emigração. Nunca deixou de haver emigração e neste tempo de "aldeia global", a emigração é corriqueira, pelas mais variadas razões, dentre as quais a económica é claramente a mais relevante.
Não pode é o meu caro prof. insinuar que na emigração está a solução para os problemas do país (pelo facto de deixar de ter encargos, etc.), uma vez que se ela continuar como está, em forma de êxodo, um destes dias teremos aqui os velhos, as crianças e os seus "amados" funcionários públicos, que então sim, serão completamente desnecessários.
Espere! para cá virão uns desgraçados duns negros da África sub-sariana, ser completamente explorados e tratados abaixo de cão, habitar em barracas que voltarão em força em redor dos grandes centros, ou, por benesse dos bancos (a quem o Estado pagará, tipo PPP's), as milhares de casas que vão ficando devolutas, porque quem as comprou não tem dinheiro para as pagar.
A emigração pode resolver um problema individual, certamente. Nunca resolverá o problema do país.
É que os emigrantes de hoje já não mandam pra cá o dinheirinho! pelo menos era o que eu faria: dar ao coiro lá por fora e mandar o dinheiro para os que me obrigaram a ir embora governarem-se à grande? ora sai lá um grande manguito!

Nota:
A propósito, que me diz das recentes declarações do sr. Kruger?

BFS