sábado, 13 de abril de 2013

Turismo e gargarejos eleitorais

Com os dias de céu azul e de calor que aí vêm, vai ser um fartote. Todos os candidatos em pré-campanha vão afiançar em todos os tons que o turismo será um dos principais vectores do desenvolvimento económico dos concelhos respectivos. E estarão cheios de razão. De acordo com o mais recente relatório do Fórum Económico Mundial, à escala global um em cada onze empregos é na área do turismo. Pena é portanto que, apesar de cada vez mais gargarejos políticos, a tendência dominante em Portugal seja para o agravamento da conjuntura. O que não admira, sendo sabido que os portugueses somos especialistas em muita parra e pouca uva. Muita conversa, mas pouca ou nenhuma acção eficaz.
De acordo com o Relatório mundial sobre a competitividade na área do turismo, publicado no mês passado (ver ilustração infra), Portugal está em 20º lugar, tendo descido duas posições em relação a 2011. Durante o mesmo período, a nossa vizinha Espanha subiu quatro lugares, de 8ª para 4ª, e até Moçambique logrou ascender do 128º lugar para o 125º. De forma que, segundo esta respeitável fonte não governamental e sem fins lucrativos, com sede na Suiça, algo terá de mudar e depressa, se realmente pretendemos mesmo apanhar o comboio do progresso europeu na área do turismo. Sem mas nem meios mas.


Sucede que para mudar, é prioritário determinar o que está mal. Tarefa muito facilitada neste nosso querido jardim à beira mar plantado, tantas e tão flagrantes são as mazelas. Não é o local nem a ocasião para tentar escalpelizar o tema a nível nacional, até por carência de documentação fiável. Em todo o caso, seguem-se algumas considerações de âmbito nacional e local, sobretudo como tópicos para futura discussão.
A nível nacional, espanta antes de mais o volume das dotações orçamentais, quando comparado com os magros resultados obtidos. Mas aprofundando um pouco, percebe-se tal fosso. A anterior responsável governamental pelo turismo era uma conhecida jornalista e o actual nem se sabe qual a sua formação académica e profissional.
Noutros escalões a situação é bem pior. No Convento de Cristo, por exemplo, há 37 empregados, mas nenhum é profissional de turismo, pelo que não pode haver visitas guiadas credíveis, tal como é impensável um consulta médica por alguém não formado em medicina. Ou não? O próprios directores do monumento, Património da Humanidade desde 1983 e cuja principal utilidade prática é a exploração turística, têm sido das mais variadas áreas: Um era arquitecto, outro historiador especialista do século XIX, o seguinte especialista em restauro de vitrais, o sucessor museólogo industrial e a actual é arqueóloga. Convenhamos que devem existir no mercado laboral luso perfis mais em conformidade com a gestão turística operacional da sede da Ordem dos Templários e de Cristo.
Também é verdade, porém, que o ensino profissional português na área do turismo não tem navegado nas melhores águas. Tanto a nível secundário como superior, há por esse país fora dezenas e dezenas de cursos que melhor fora não existirem. Concluído o respectivo currículo, as várias escolas atribuem diplomas cuja principal e praticamente única utilidade é ornamentar paredes, uma vez encaixilhados.
À excepção notável da Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril, que goza entre os profissionais de excelente reputação no país e no estrangeiro, quase todas as outras terão mais tarde ou mais cedo de proceder a uma rigorosa recentragem da sua actividade. Porque uma coisa é não ter qualquer diploma,  mas bem mais grave é ser diplomado em coisa nenhuma, apesar do que consta do canudo.
Enquanto isto, ainda a nível local, o município tem 500 e tantos funcionários, mas apenas uma profissional de turismo. O convento de Cristo pratica o horário normal da função pública, não tem visitas guiadas e cobra 6 euros por cada entrada. No domingo de Páscoa, por exemplo, esteve encerrado, provocando os protestos indignados de centenas e centenas de potenciais visitantes, muitos em circuitos organizados. Tudo cidadãos que irão decerto difundir excelentes opiniões sobre o turismo em Tomar...
Dir-se-à que os funcionários conventuais também têm direito a descansar. É verdade. Até porque, segundo consta nos meios geralmente bem informados, alguns são uns verdadeiros escravos do trabalho. Dito isto, cabe perguntar: Encerram-se também nos feriados os hospitais, os bombeiros, as esquadras da PSP, os postos da GNR, o 112, as prisões e por aí fora, para os seus profissionais poderem descansar?
Deixem-se mas é de gargarejos para ornamentar discursos, que assim não vamos lá!

1 comentário:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Sem dúvida. Assim não vamos lá.