quinta-feira, 21 de maio de 2009

AFINAL É A VERDADE NUA E CRUA


António Rebelo
De cada vez que alguém, na imprensa ou na blogosfera, critica a sobranceria de muitos autarcas e funcionários, que têm uma tendência doentia para considerar que os cidadãos estão ao serviço da Câmara, quando é exactamente o contrário, porque somos nós que pagamos; a resposta é sempre a mesma -silêncio, encolher de ombros, fingir que não se ouviu nem se leu. Quando muito, insinuar privadamente que tudo não passa de maledicência, sabe-se lá com que intenções.
A recente e corajosa intervenção de José Lebre, aquando de uma sessão pública, marcou uma viragem importante na atitude dos tomarenses, conforme já aqui escrevemos. Os que não acreditaram, têm agora mais uma prova e de excelente qualidade. Está no TEMPLÁRIO desta semana e tem por título "O BLOQUEIO DAS AVESSADAS". Trata-se, sem dúvida, de uma das melhores, ou até a melhor peça de jornalismo publicada em Tomar nos últimos tempos. É uma entrevista longa, que todos os tomarenses devem ler e meditar, porque estão lá, ditas ou subentendidas, todas as causas da acentuada decadência tomarense.
Tanto Luis de Melo e Castro Alvelos com José Salazar Lebre são cidadãos livres, bem formados, independentes do governo e dos dinheiros públicos, descendentes de velhas e abastadas famílias da região, pouco dados a atitudes contestatárias. Se resolveram falar claramente, terá sido decerto por considereram que, em termos populares, "tudo o que é demais, parece mal, e quem não se sente não é filho de boa gente". Tanto um como outro apontam à Câmara atitudes inaceitáveis, já bastas vezes denunciadas, até agora sem quaisquer resultados. Falta de educação, falta de respeito pelas normas legais, sobranceria, desprezo óbvio pelos eleitores, gestão caótica, sucessivas decisões erradas, hostilidade para com os empreendedores, as queixas não faltam. Luis Alvelos dá um exemplo claro de falta de ética -"A Câmara tinha 12 meses para apresentar o Plano de Pormenor na Assembleia Municipal. Levou quase oito anos." Quem era então responsável pelo Departamento de Gestão Urbanística?, perguntamos nós aqui. -A senhora Paula Marques, promovida a tal cargo pelo seu homónimo Pedro Marques. Com que intenção agiu a autarquia assim? Naturalmente com o claro intuito de criar dificuldades. Ora, não digo que tenha sido o caso, pois não disponho de provas para tal. Contudo, normalmente, quem cria dificuldades tem em vista, directa ou indirectamente, monetizar facilidades. Afinal, a não ser assim, as coisas sucederiam apenas por mero acaso, hipótese de todo improvável, dada a sua repetição e duração no tempo, apesar de haver cada vez mais recursos humanos na autarquia.
Porque outro aspecto importante da entrevista referida, para além da excelente qualidade frásica, é exactamente esse: Enquanto José Lebre criticou fortemente esta Câmara e a anterior, Luis Alvelos foi forçado a ir mais longe. Citando-o só quando indispensável, não deixou de insinuar que Pedro Marques esteve longe de ter, enquanto presidente da edilidade, um comportamento exemplar, coisa que já era do domínio público. Diz o entrevistado, abstendo-se de citar nomes, porque para bom entendedor... "A Câmara ficou de fazer um Plano de Pormenor para a Quinta (das Avessadas), mas juntou mais 61 hectares de outros proprietários, daí resultando um plano megalómano que talvez desvirtuasse os propósitos iniciais do contrato." A pergunta que se impõe parece ser esta: Porque terá a Câmara de Pedro Marques agido assim?
Seria demasiado longo e tornar-se-ia decerto enfadonho resumir todos os temas abordados de forma ponderada e magistral por Luis Alvelos. Fiquemos, por isso, apenas com as suas reivindicações de cidadão, pontual pagador de impostos e eleitor na plena posse dos seus direitos de cidadania.
"A Câmara tem que se conformar a cumprir contratos e a ter uma atitude correcta para com a Quinta das Avessadas. E já agora para com todos os munícipes, que são contribuintes e cada vez o são mais.... ...Terá também de ser alterado o chamado Regulamento Municipal de Edificações Urbanas, que é totalmente desajustado da realidade no que toca a taxas de loteamento, de construção e outras, estacionamento, etc., o que tem afastado investidores da cidade. ... ...Tem que ser completamente alterada a atitude de quase hostilidade para com os empreendedores, que são parceiros e não inimigos. Não é admissível que fiquem sem resposta cartas correctas que versem assuntos de interesse para a comunidade, na medida em que essa comunidade é o suporte financeiro, com os seus impostos, dos membros da autarquia."
No século passado, Marshall MacLuan, reputado especialista de comunicação, afirmou que "O meio é a mensagem." Na altura causou algum espanto. Hoje em dia, já todos entendem que um texto dito no café da esquina, deixa de ser a mesma mensagem, quando lido na televisão. No caso presente, o facto de Luis Alvelos ter escolhido O TEMPLÁRIO para o entrevistar constitui uma mensagem óbvia para quem a quiser ler, dado que a sua família esteve entre os fundadores de Cidade de Tomar. E aqui surge outro aspecto a ter em conta. Quando autarcas e funcionários agem conforme relatado para com membros eminentes das chamadas "melhores famílias tomarenses", "la crème de la crème", diria o Herman, quais não serão os padecimentos dos pobres membros tomarenses da arraia miúda?
Perante tudo isto, só um caminho nos parece susceptível de voltar a colocar as coisas nos seus devidos lugares -uma auditoria externa, exaustiva e independente. Quanto mais depressa melhor. Antes que a podridão nos atinja a todos, pelo menos no sítio mais sensível -A CARTEIRA. Porque alguém tem de ir pagando tanta argolada, manifestamente intencional.

6 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela análise que faz à entrevista do Engº Luís Alvelos.

É mais do que justa!

Isabel Miliciano

Anónimo disse...

Tudo está podre em Tomar

Anónimo disse...

«Tudo está podre em Tomar»

Mais um pessimista? Que triste fado, em?

«O Pedro trocaste a Graça pelo Cosme, isso não se faz.»

Não será "oh Pedro trocaste o Cosme pela Graça, isso não se faz"?
Acho que os escrivas desta linhagem devem preocupar-se também com o rigor na escrita. Esta é uma das razões porque os portugueses em geral não gostam de matemática: não gostam de rigor com as palavras, por exemplo, pois é quase sempre tudo "assim assim". Mais meio valor menos meio valor: e meio valor pode ter tanta significância!
Sinto que paira muito incómodo pelo presença, por certo assertiva, da Dr.ª Graça. Isto é normal pois é mulher e participa na vida política (e não só) tomarense com a sua irreverência, coragem, competência e juventude. Quanto ao Sr. Soares pois... tenho, como já escrevi, que dizer que a sua grandeza como homem educado, como profissional, como político, é directamente proporcional à sua altura métrica mas o Dr. Pedro Marques lá saberá porque o escolheu em vez do fiel e honesto trabalhador Dr. João Simões. Observe-se que enquanto o segundo (durante o seu percurso político) fez intervenções com razoável qualidade nos jornais, na rádio e nos orgãos autárquicos para que foi eleito, o primeiro passou a escrever uma dúzia de linhas estéreis a roçar palhaçada ou confronto com o PS.
Uma coisa eu sei, não aparecerão nas listas dos IpT indivíduos contrariados contudo pelo que sinto só meio dúzia, como há 4 anos, terão voto na matéria pois o resto serão para encher "chouriços": esta é uma crítica que deixo à dupla Dr. Marques/Sr. Rosa Dias. Crítica construtiva que sei que lhes fazem chegar mas é-lhes indiferente pois ao que julgo saber a sua auto-estima é elevadíssima e numa terra de pessimistas isto é de "louvar".
E por aqui me fico de momento.

Julião Petrúchio :-)

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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