domingo, 20 de fevereiro de 2011

FINANÇAS E ECONOMIA - PORTUGAL VISTO DO ESTRANGEIRO

PORTUGAL À BEIRA DO "CLUBE DOS RESGATADOS?"

"E vão onze! Na sexta-feira passada, pelo 11º dia consecutivo, a dívida pública portuguesa foi negociada nos diversos mercados a taxas superiores a 7%, para as obrigações a dez anos. Cuidado, zona perigosa... Foi quando se ultrapassou esse limite simbólico que a Grécia e a Irlanda virem os seus problemas multiplicados por dez. Encontram-se agora ambos ligados à máquina da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.
Estará Portugal quase a ser o 3º membro do "clube dos resgatados"? Por agora, os rumores vão alternando com os desmentidos. Uma coisa é porém certa: Por muito que desagrade aos mais optimistas, a crise da zona euro ainda não acabou. Lisboa está a ser cada vez mais pressionada pelos investidores e pelos seus parceiros comunitários para solicitar a ajuda do Fundo Europeu de Estabilidade (FESF), o mecanismo de ajuda adoptado na primavera passada para socorrer os estados em dificuldade.
"Portugal está afundar-se. Não aguenta até ao fim de Março", afirmou um fonte europeia à agência de notícias Reuters, na quinta-feira passada. "O perigo é evidente" sublinhou também Gilles Moëc, analista financeiro do Deutsch Bank, que chamou a atenção para "a insustentável trajectória da dívida pública portuguesa". Mesmo que Lisboa consiga atingir o seu objectivo de reduzir o défice a 3% do PIB até 2013 -um cenário demasiado optimista- "a dívida pública manter-se-á muito próxima dos 100% do PIB até 2020", concluiu a mesma fonte.
Para complicar ainda mais a situação, Portugal é forçado a gerir estes custos proibitivos de refinanciamento, a par com um crescimento económico anémico. Publicados na segunda-feira passada, os dados do 4º trimestre  dão vontade de chorar: o PIB registou um recuo de 0,3% em relação ao trimestre anterior. De acordo com os analistas, 2011 vai ser um ano de recessão. E neste cortejo de más notícias, os portugueses souberam também, na quarta-feira passada, que o desemprego continuou a aumentar, atingindo agora 11,1% da população activa.
Apesar de visivelmente com falta de ar, Portugal não parece nada apressado para pedir ajuda. "As turbulências no mercado da dívida soberana não são específicas da dívida portuguesa", argumentou na quinta-feira o porta-voz do governo Pedro Silva Pereira.
Lisboa parece ter esperança de evitar pedir ajuda antes de serem alteradas as condições do FESF. Há conversações em curso para simplificar as condições de utilização do fundo, bem como para flexibilizar as contrapartidas exigidas. Todavia, como acontece com frequência na zona euro, a promessa de um acordo parece afastar-se à medida que as partes se vão aproximando. Gorando as expectativas dos mercados, nada foi finalizado na reunião dos ministros das finanças, na segunda-feira passada, em Bruxelas. Próximo encontro: a reunião europeia de alto nível, em 24 e 25 de Março.
Os especialista interrogam-se: Será então reforçado o fundo europeu de resgate e a sua capacidade de empréstimo efectivo (250 mil milhões de euros) aumentada? Na verdade, se Portugal também não resistir, os mercados podem muito bem resolver "experimentar" a Espanha. Quarta economia da zona, não tem uma dívida pública por aí além, mas debate-se com um sector bancário em mau estado.
De acordo com dados publicados na sexta-feira pelo Banco de Espanha, a taxa de crédito mal parado dos estabelecimentos financeiros espanhóis -o índice da sua vulnerabilidade- continuou a aumentar, tendo atingido em Dezembro 5,81%, o nível mais alto desde Dezembro de 1995.
Entretanto, no mercado de câmbios, a moeda única europeia não parece perturbada com o aumento de tensão na zona euro. Começou a semana a valer 1,3554 dólares, chegando sexta-feira a 1,3671 dólares."

Marie de Vergès, Le Monde, 20/02/11, página 12

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