terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UNS VÊEM POUCO E MAL, OUTROS MAL E POUCO

Na mais recente sessão do executivo municipal, noticia a Rádio Hertz, um pedido de ajuda para o V Festival de Tunas Femininas foi retirado da ordem de trabalhos, após aceso debate. Curiosa troca de argumentos, na verdade. Rosário Simões, professora no topo da carreira, mostrou-se agastada com algumas pretensões abusivas das alunas tunantes do IPT, nomeadamente uma baixada da EDP. No mesmo diapasão, o experiente advogado e autarca Pedro Marques discordou da pretendida instalação de uma barraca de cerveja na Praça da República, bem como da realização de um churrasco no claustro de S. Francisco. 
Paradoxalmente, o único membro do executivo tomarense que nunca rompeu fundilhos em qualquer estabelecimento universitário é que sentiu a necessidade de defender a pretensão das alunas requerentes, para o que procurou moderar as reacções da sua parceira de lista e de Pedro Marques.
Alguns dias mais tarde, no seu blogue alguresaqui, puxando pelos galões de jovem trintão, de quadro político e de professor, o presidente do PS, Hugo Cristóvão, reagiu asperamente, escrevendo que as declarações dos nossos autarcas são de morrer a rir e que os mesmos consideram os alunos do Politécnico apenas ou sobretudo "uns putos bêbedos e desordeiros", fingindo ignorar que eles  dão um contributo importante para a economia local e que são os embaixadoes permanentes desta terra, nos locais onde residem e/ou onde acabam por se fixar.
Que me desculpem os citados intervenientes. Considero que todos eles estão de alguma maneira equivocados, sendo que esses equívocos não podem deixar de envenenar qualquer futura troca de argumentos. Comecemos pelo nível mais básico. Rosário Simões tem toda a razão, porque algumas pretensões são exorbitantes. Pedro Marques tem razão, porque não é nada digno facilitar a instalação de uma barraca de cerveja na principal praça citadina e frente aos Paços do Concelho. Carlos Carrão tem razão, porque se as alunas em causa, ou as suas antecessoras, sempre contaram com a colaboração da autarquia, carece de sentido negá-la ou reduzi-la desta feita. Finalmente, Hugo Cristóvão tem razão, porque se a câmara todos os anos financia excursões de comezaina+tintol, carece agora de autoridade moral para negar às jovens tunantes a oportunidade de apanharem umas valentes cardinas de cerveja.
Todos cheios de razão, os nossos representantes padecem contudo, na minha opinião, de duas maleitas -vêem pouco e vêem mal, ou vice-versa. Enxergam pouco, pois tendem a ficar-se quase sempre pela aparência das coisas. Enxergam mal, dado que se consideram isentos de culpas em tal cartório, quando afinal somos todos responsáveis, sobretudo os professores, os país e os que mais subiram nos estudos. 
É meu entendimento que uma das principais chagas sociais deste país reside na crença generalizada de que as entidades oficiais, todas as entidades oficiais, têm a obrigação de desenrascar todos os cidadãos, de lhes conseguir empregos, alimentação, animação, assistência médica, etc.Tudo gratuitamente, bem entendido. Este estado de espírito provém de uma educação familiar e escolar que nunca ensinou aos educandos a realidade social em que vivem. Nunca teve coragem de lhes dizer que nesta vida nada é gratuito. Tudo tem de ser pago, assim ou assado, aqui ou acolá, por estes ou por aqueles. No que concerne à autarquia, por exemplo, se anteriormente, em relação a todos os pedidos de ajuda, se tivesse apresentado depois uma factura detalhada dos custos para a autarquia (transportes, combustível, desgaste de material, mão de obra, limpeza e recolha de resíduos sólidos, ocupação de espaços públicos, água, luz, etc), as ora requerentes talvez tivessem outra noção daquilo que estão a solicitar. Assim...
Assim, Hugo Cristóvão, universitário e professor que já é um produto post-25 de Abril, considera-se chocado e ofendido quando membros eleitos de uma entidade pública se mostram indignados perante um pedido que ele julga normalíssimo, haja ou não haja crise, porque sempre terá ouvido dizer que "Deus nosso senhor tem lá muito para nos dar, temos é de pedir". E bem assim "Ou há moralidade, ou comem todos". Lá porque os alunos do Politécnico regra geral não votam cá, enquanto que os velhotes das comezainas+tintol votam, isso não é razão suficiente para decisões discriminatórias, terá ele pensado. Tem toda a razão, digo eu, sendo responsáveis por tal mentalidade os seus progenitores e os seus professores.
Segue-se que nem a vereadora Rosário Simões, nem o vereador Pedro Marques têm agora, neste segundo nível,  à luz desta vertente do problema, legitimidade para propor alterações àquilo que sempre se tem feito até ao presente, apesar dos péssimos resultados alcançados em todos os casos. As pretensões das alunas do IPT, o despesismo do vereador Luis Ferreira, ou o caso de Renato Seabra, por exemplo, têm afinal uma origem comum, segundo o meu ponto de vista: a educação viciada que lhes deram e que inculcou neles a ideia de que, por um lado, os orçamentos públicos são inesgotáveis; por outro lado, que como cidadãos membros de uma determinada comunidade, só temos direitos e nenhum dever para com a sociedade; os outros, os mais velhos, é que têm a obrigação de nos ajudar sem qualquer contrapartida...
Quando o desditoso Carlos Castro se tornou demasiado insistente na questão do pagamento "em géneros" pelos seus onerosos serviços, acabou por pagar com a vida tal imprudência. O que ele terá julgado ser-lhe devido, nunca foi afinal considerado admissível pelo seu companheiro de viagem e de quarto. Um trágico equívoco, em suma.
Nunca é tarde para retomar bons caminhos. Convém, todavia, fundamentar de forma detalhada as razões de cada mudança de atitude. Caso contrário, caminhamos para o desastre colectivo, num país onde é prática corrente dar-se o peixe, sem nunca mencionar os seus custos, em vez de se ensinar a pescar. Também por isso, estamos cada vez melhor, não é verdade?

15 comentários:

Anónimo disse...

Gentalha!

Anónimo disse...

Bem esgalhada, esta sua peça. Tudo tem sido demasiado facil de alcançar ou de obter na sociedade portuguesa...até um barraco na Praça da Republica!
Hábitos...e "autarcas". Até os que já estão "preparados para ser Presidentes de Câmara"...
Tem sido de fartar vilanagem...e a cidade está onde está.
Pobres de nós.

Funiculin disse...

A barraca da cerveja deverá ser instalada no Estádio Municipal para apoiar o clube que mais utiliza aquelas instalações sem pagar as devidas taxas. Por outro lado deveria desaparecer a barracada existente na Capela de S. Gregório e arredores, que está lá há mais de quatro anos, para vergonha de todos os políticos, principalmente os 3+2 e mais dois verbos de encher que por lá andam.

Anónimo disse...

António,

Afinal,de bem com gregos,troianos e alentejanos,e misturando alhos com bugalhos,qual é a sua posição?

É que da confusa arenga nada se consegue espremer...

E...

Desculpe o atrevimento de questionar V.EXA.

Anónimo disse...

Esta geração segue a antecessora, que fez do mote "Quem não chora não mama" o princípio de todos os males.
É preciso é saber dizer não! Sobretudo quando os pedidos não fazem sentido.
AA

Unknown disse...

Para comentador das 11:03

Ia a responder-lhe "Olhe que não, olhe que não!", no salutar claro e alegre (salvo seja!) estilo do Bochechas, mas desisti. Lembrei-me do aprendido em Paris VIII, na altura ainda CUEV: uma vez difundida, a mensagem fica a pertencer a quem a recebe. Confusa arenga, portanto. Embora eu não consiga vislumbrar onde terá ido o brioso comentador encontrar os bugalhos. Em Nova Iorque, querem ver ?! Realmente aquilo incomoda e arrepia, mas faz parte dos alhos e da famosa estrofe do Variações: "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que as paga..." E como o Seabra, vítima involuntária da omnipresente "cultura da mama", não estava disposto a pagar com o corpo...
Qual é a minha posição em relação à educação? Que se acabe com o facilitismo e se ensine aos jovens que a vida, de simples não tem nada. Que se acrescente que cada um deve tratar de si, salvo em caso de catatástrofe, doença ou incapacidade.
Em relação à autarquia, que para começar se simplifique a vida de quem quer investir, criar emprego, recuperar imóveis, gerar riqueza, tornando em contrapartida mais exigente o proceso de abtenção de subsídios para cultura rasca, desporto reles e outras actividades assim-assim. Enquanto houver um inválido tomarense com fome ou sem uma cama condigna, é uma vergonha andar a estragar dinheiro dos contribuintes com extravagâncias, por muito bem enroupadas que sejam.Assim à primeira vista é uma posição que vai alienar muitos votos, bem sei; a médiom prazo, porém...

Anónimo disse...

Óh António...

Apesar de algumas consensuais receitas que prescreve,continuamos a nada saber sobre qual a sua resultante para as "três razões" dos ilustres polemicantes.

Desculpe a insistência e curiosidade,que espero não lhe provoque maleita ácida.

Unknown disse...

Para comentário das 12:17

A resultante do abortado debate edílico é de nula importância. Fundamental é elaborar, debater e aprovar um conjunto de normas, a submeter depois à AM, no sentido de evitar novos confrontos de ideias num quadro conceptual/legal vazio, que faz com todos os intervenientes tenham razão, consoante os ângulos e níveis de abordagem.Uma dessas normas basilares deveria ser: "Nos 15 dias seguintes a qualquer evento subsidiado, monetariamente ou com facilidades, os seus responsáveis estão obrigados a entregar na autarquia um relatório detalhado, do qual constem as respectivas contas finais. Recebido esse relatório, a autarquia entregar-lhes-á uma factura próforma, englobando
a importância concedida e/ou as restantes facilidades facultadas (transportes, pessoal, luz, água, isenção de licenças e taxas...).
No final de cada ano civil, o executivo deveria publicar uma relação de todos os auxílios(mas mesmo todos...) concedidos, com a respectiva identificação e custo unitário. Só para ver se os especialistas do costume começam a perceber que os contribuintes já sabem quanto custam alguns dos seus onerosos devaneios...e quais as receitas que geram.
Se calhar é pedir demasiado...

Anónimo disse...

Ó ANTÓNIO, OLHA QWUE NÃO FOI O BOCHECHAS A PROFERIR O CÉLEBRE "OLHE QUE NÃO, OLHE QUE NÃO". FOI O CUNHAL...E NESSA NOITE FOI O PC A AMPARAR O TEU PS!

Anónimo disse...

Isto é uma discussão sem sentido nem ponta por onde se lhe pegue.

Fui coordenador geral da Cultura do Núcleo da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra há bem pouco tempo, sendo da minha competência organizar convívios e festas deste género.

A única coisa para a qual tínhamos que falar com a Câmara de Coimbra era para pedir a licença de utilização dos espaços. De resto, tínhamos que ser nós a arranjar viabilidade económica para organizar as festas. Assim, contratávamos com a Sagres de forma a pagar apenas os barris que fossem abertos, mais uma tranche que se pagava pela cedência e montagem de barracas e equipamentos; Concessionávamos as bebidas brancas a cafés interessados, mediante preço vantajoso para ambas as partes; Fazíamos promoções de bebidas que impulsionavam o consumo e destas formas, simples, sobrava dinheiro para pagar a DJ`s, empresas de iluminação e às senhoras de limpeza. Lembro-me que no último convívio, por não termos dinheiro, andámos todos de vassoura na mão a apanhar copos durante várias horas, já de manhã e com o sol a queimar o corpo.

Mesmo nestas actividades, sobrava dinheiro para pagar as restantes do nosso núcleo. Isto porque as coisas eram planeadas de forma a correrem bem e a gastar apenas o que se tem. Nada de pedinchices a outros. Se éramos nós que queríamos fazer a festa, nós é que nos governávamos.

Será que esta malta do IPT nem para organizar uma festa serve ? Mas o que me surpreende ainda mais é a posição dos senhores da Câmara, que vão na conversa. Tirando a Dra Rosário, a única que me parece ter bom senso.

Alexandre Oliveira

HC disse...

Prof. Rebelo e Alexandre Oliveira,

Parece-me que está a existir uma grande confusão nesta discussão.
O que está aqui verdadeiramente em causa, e que não vem de agora, é essencialmente a utilização dos espaços.

E aí repito o que já escrevi no meu blogue: "Enquanto que outras cidades se esforçam por dar o melhor de si aos estudantes, os espaços mais nobres para a realização de actividades, apoios logísticos, financeiros e outros... em Tomar, para aqueles senhores do século passado quanto mais longe os estudantes estiverem melhor. E o melhor mesmo, segundo vai sendo demonstrado, é irem fechar-se no Politécnico onde não chateiam ninguém."

Claro que não podemos comparar Tomar com Coimbra, particularmente com o poderio da A.Académica que é uma cidade dentro da cidade. Mas também em Coimbra, tal como genericamente por todo o país, os espaços nobres das cidades são utilizados para eventos de estudantes.
Ora, em Tomar vem sendo desenvolvida a tendência de afastar os alunos do IPT da cidade, particularmente da Praça da República como se aquilo fosse algum museu (no sentido arcaico de museu), quando se mais não for, até por questão de diminuição do incómodo público aquele é um excelente espaço - só lá mora uma pessoa e é a primeira a participar em tudo o que os estudantes lá fazem.

E depois critica-se que esta seja uma cidade cada vez mais "lar de terceira idade".
E poderíamos alargar muito mais esta discussão - quem precisa mais de quem, a cidade do IPT ou contrário; que razões levam hoje um aluno a escolher uma cidade para estudar, e até que ponto a "vida académica" tem peso nisso; porque é que as pessoas quando passam um certa idade acham sempre que deve "educar" a juventude de uma certa forma, etc, etc.

E depois, há factos. Há o "aqui" e há o "resto do mundo".

E toda esta questão porque... o que estão afinal os estudantes a pedir, que não seja concedido a muitos outros com muito menos relevância na nossa comunidade?!

Anónimo disse...

Este Alexandre Oliveira, ou deverei escrever Sandra Costa (avençada da Dra Rosário na CMT), deve estar a gozar.

A organização das tunas tem toda a organização financiada. Os apoios logísticos pedidos à câmara são os mais triviais possíveis.

O sistema de propaganda/contra-informação da Dra.Rosário devia de tentar enganar as pessoas, que é uma vergonha a atitude que ela tem sempre contra os jovens e o politécnico.

Anónimo disse...

Primeiro que tudo, obrigado pelo esclarecimento do Senhor Hugo Cristóvão. Entendi mal a questão. De facto, em Coimbra éramos apenas representativos de um dos 26 núcleos que constituem a UC, e foi-nos sempre concedido o espaço que requisitávamos, fosse ele a Praça da República ou o Largo de D.Dinis.

Peço, portanto, desculpas pelo lapso ;)

Para o último anónimo, deve mesmo escrever Alexandre Oliveira e não Sandra Costa. Se tem por hábito falar em nome de outros, tal não é prática minha.

Como já expliquei acima, deduzi que os representantes da Tuna queriam apoio logístico e financeiro e não apenas a concessão do espaço para a festa. Veja se me entende.

Acho que a Câmara deve, sem dúvida alguma, ceder o espaço aos alunos, desde que não gaste dinheiro com isso. Como referi, e por experiência própria, a organização dessas festividades dá bastante lucro a quem a faz. Não é necessário apoio extraordinário de outras entidades, ainda por cima falidas.

Alexandre Miguel Lopes Teixeira de Olivera.

Caso restem dúvidas ao último anónimo, deixo-lhe o nº do BI: 13391518.

É que escrever no anonimato é uma coisa, dar a cara é outra. Bem diferente...

Unknown disse...

Para Hugo Cristóvão e Alexandre Oliveira

Obrigado pelos vossos comentários, que têm o mérito de recentrar o sempre saudável debate sereno. Creio que ambos têm razão quanto à cedência de espaços urbanos e, no caso de Cristóvão, à encapotada tentativa de escorraçar os estudantes da cidade antiga, o tal "lar da 3ª idade", onde habito como fisicamente me compete. Há porém, no meu entender, dois aspectos que foram escamoteados: a "baixada da luz" e a barraca da cerveja.
Em relação àquela, trata-se de uma ilegalidade e de uma exorbitância, não tendo a câmara autoridade para a primeira, nem obrigação quanto à segunda. No que concerne à barraca da cerveja é outra ilegalidade sob múltiplos aspectos: venda de álcool sem licença específica, concorrência desleal, ocupação de espaço público, incitamento ao alcoolismo...
Nestas condições, tendo em conta que os comerciantes da zona pagam as suas contribuições também para que não lhes venham roubar a clientela, a autarquia pode e deve ceder os espaços mas não a luz, desde que providencie, a expensas dos prevaricadores, a indispensável limpeza post-libações, incluindo os sucessivos "vomitados", geralmente de tintol,pois os moradores pagam o saneamento e os resíduos sólidos com esse fim.
E se os senhores autarcas da relativa maioria & companhia decidissem finalmente começar a estudar previamente os processos para cada reunião EM CLABORAÇÃO COM TODOS OS MEMBROS DO EXECUTIVO, era capaz de não ser pior...

Anónimo disse...

Não foi a Rosário Simões que num acto de desprezo por todo e qualquer profissional da área disse que qualquer pessoa sabe de Turismo e não são precisos técnicos para promoverem o turismo em Tomar?
P.M.