sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TENTAR RESPONDER...

"Porque é que as pessoas quando passam uma certa idade acham sempre que se deve "educar" a juventude de uma certa forma, etc.etc.etc." Hugo Cristóvão, comentário ao post "Uns vêm pouco e mal, outros mal e pouco", 02/02/11, 21H55.

É tão raro a nossa juventude interrogar-se em público, interrogando os outros, sobretudo nesta terra abençoada, onde todos sabem de tudo e só têm certezas, que julgo obrigatório aproveitar o ensejo. Escrevendo só em meu nome, é claro, pois cada um apenas se representa a si próprio, salvo mandato expresso antes concedido.
Antes de ir mais adiante, convém situar os contornos da questão. Hugo Cristóvão refere "uma certa idade". Cronológica? Intelectual? Ou ambas? É que, conforme sabemos, num saber de experiência feito, como na época dos descobrimentos, há jovens já velhos e avós bastante jovens de espírito...
É conhecida a exclamação "Ah! Se a juventude soubesse e a velhice pudesse, o mundo seria bem diferente!". Pois creio residir nela uma parte da resposta que o amigo Hugo procura. Com o passar dos anos, uma pessoa vai acumulando vivências, as quais acabam por lhe facultar aquilo a que se pode chamar uma mentalidade de helicóptero -começa a ver as pessoas e as coisas de longe e de cima, sempre com a tolerância proveniente dessa mesma experiência interiorizada a dizer-lhe que só não erra quem não faz.
No caso específico de "educar", tenho até um exemplo num contexto sociológico semelhante ao do Hugo. Ajudei a educar o meu filho (em conjunto com a mãe e a avó materna), que tem praticamente a mesma idade, e não estou nada descontente com o seu percurso. Sempre procurei que fosse livre para escolher o seu caminho, num corredor balizado pelo dístico "Um máximo de liberdade, num máximo de responsabilidade". É agora um adulto responsável, com uma profissão para toda a vida útil, se assim o entender. Como é que conseguiu? Com coragem, humildade, perseverança e trabalho, muito trabalho. Recusando sempre o facilitismo ambiente. Aprendendo a aprender.
Apresentou-se a um exigente concurso a nível nacional, sem cunhas, nem palavrinhas, nem influências. Era apenas um dos quase dois mil candidatos para 160 vagas. Foi admitido, frequentou com êxito a subsequente
preparação, igualmente muito laboriosa, e aí o temos a exercer as suas funções.
De forma que, prezado amigo Hugo, quando me refiro, de tempos a tempos, a alguns tópicos sobre o nosso ensino, julgo saber do que estou a falar. Andei por lá mais de 30 anos, tenho alguma experiência prática "cá fora", conforme acima sucintamente relato, e tive a sorte de participar  numa aventura intelectual apaixonante, que me marcou para o resto dos meus dias  -a da experiência universitária que veio a resultar na Universidade de Paris VIII, na altura apenas com 9 mil alunos e seminários com um máximo de 15; agora com mais de 40 mil. 
A partir de então passei a perceber duas ou três coisas novas. Que o mais importante de tudo é aprender a aprender; que as pessoas não são todas naturalmente boas; que o facilitismo é um veneno para os menos favorecidos socialmente; que se pode subir na vida por duas vias: a aristocrática e a meritocrática, às quais (constatei mais tarde) convém acrescentar a variante portuguesa -a via partidocrática. É a vida, como dizia o camarada Guterres, antes de ter emigrado e começado a ver o pântano de longe e de cima. O tal "feitio de helicóptero".
Penso que, como adulto com alguma experiência, muito mundo e cada vez mais dúvidas, lhe devia estas palavras cordiais, que concluo incitando-o a nunca deixar de se interrogar e de questionar os outros. É também assim que as coisas avançam. De forma caótica, como sempre.

3 comentários:

Anónimo disse...

Será "idade geológica"?
Fazendo fé na quantidade de fósseis que vagueiam pela cidade, quer-me parecer que seria melhor medirmos o tempo de vida de alguns conterrãneos em milhões de anos.

Anónimo disse...

Que dirá o guru Hugo Cristóvão àcerca da cruzada do seu "chefe espiritual" Jorge Lacão?

O que é que deu ao "roda 21" do PS?

Passou-se para a Opus Dei ?

Eu só quiria entendê...

Anónimo disse...

Só sabe da juventude quem com ela trabalha e vive.