segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

NEM DE PROPÓSITO...


Quando escrevia o texto desta manhã ainda não tinha lido a imprensa de hoje. Ignorava por isso estar  a desenvolver uma ideia afinal partilhada pelo professor João César das Neves, um bom cidadão católico praticante, pouco dado a esquerdismos. Parafraseando a parte final da sua crónica de hoje no DN, acima reproduzida para evitar mal entendidos, temos o seguinte: "A nossa crise, a crise tomarense, mais que aos erros de Corvêlo de Sousa, do PSD e do PS, deve-se à evolução da sociedade nabantina, à acomodação a uma prosperidade aparente, à captura das maiorias políticas autárquicas por grupos de interesses ligados às construtoras. Em grande medida, o desastrado consulado de Corvêlo de Sousa é consequência, mais que causa, da situação da cidade e do concelho. Como disse Montesquieu, "Se César e Pompeu  tivessen pensado como Catão, outros teriam pensado como César e Pompeu." Considerações sobre as causas da grandeza e da decadência dos romanos (1734), capítulo XI
Mais precisamente, para não haver dúvidas, em Tomar estamos agora -no meu entender-  a pagar não só os erros da actual maioria relativa coligada, mas sobretudo os sucessivos erros do eleitorado, desde pelo menos Jerónimo Graça. Foi no seu mandato que se criaram as condições objectivas para a eleição de Pedro Marques, que prometeu mundos e fundos durante a sua campanha eleitoral, sobretudo nas áreas desportiva e cultural.
Nos oito anos em que exerceu a presidência, como independente pelo PS, -certamente com a melhor das intenções-, foi criando pouco a pouco as rotinas administrativas, os hábitos e as estruturas asfixiantes porque complicativas que ainda hoje perduram, causando cada vez mais estragos à economia local, na medida em que repelem à partida qualquer investimento sério, responsável e de vulto.
Dado que Tomar a dianteira pretende ser um arquivo fidedigno para memória futura, é tempo de escrever a verdade factual, antes que seja demasiado tarde. Fui Chefe da Divisão Sócio-Económica da Câmara de Tomar, durante 8 meses, em 1992. Nomeado por Pedro Marques em Janeiro desse ano, na sequência de concurso público, pedi a demissão, que foi aceite, em Agosto do mesmo ano. Até hoje, muito poucos conhecem a verdade toda sobre essa minha atitude. Ela aqui vai.
Na sequência do que tive a ocasião de observar, tornou-se evidente que pouco ou nada poderia fazer de útil para a comunidade, por me encontrar numa espécie de prateleira dourada. A pretensa divisão era constituída na verdade por três secretárias. Quem dirigia, ou pelo menos tentava fazê-lo, era o Dr. Urbano Figueiredo sendo nítida a proeminência da professora Salette da Ponte, graças à sua amizade com a arquitecta Paula Marques, a verdadeira dirigente do sector urbanismo e obras do município, com acesso directo e assíduo ao presidente.
Agastado com a situação, pois tanto uma como a outra nem sequer escondiam que faziam o que queriam, meditei durante dias na melhor forma de acabar com tal situação ofensiva da estrutura administrativa legal. Como fui militar no quadro do serviço obrigatório, mantive o saudável hábito de respeitar sempre a cadeia de comando. Não podia, por conseguinte, dirigir-me ao presidente da câmara impondo-lhe condições, já que ele fora eleito e eu era funcionário com dever de lealdade e obediência. Assim, aproveitei o ensejo de uma conversa informal , junto ao pedestal do Gualdim Pais, com dois amigos meus -os vereadores António Alexandre  e Lino Cotalha (já falecido). Quando me perguntaram se ia tudo bem, fui frontal, esclarecendo que falava como amigo e cidadão, não como funcionário. Acrescentei que, pelo contrário, era meu entendimento que as coisas não iam nada bem.
Uma vez tudo fundamentado, tentei pôr as coisas em pratos limpos: Ou Pedro Marques afastava Salette da Ponte, (que não tinha qualquer função oficial na autarquia) e passava a controlar de forma eficaz a arquitecta Paula Marques, que tudo punha e dispunha, ou eu seria forçado a apresentar a minha demissão.
A conversa teve lugar à tarde e poucas horas depois fui convocado para uma reunião de trabalho com Pedro Marques, às 21H30, no seu gabinete. Quando cheguei, verifiquei que estava acompanhado pelos dois vereadores já citados, pelo que confesso ter chegado a ter esperança de que pudesse haver uma conversa franca e conclusiva. Engano meu. O então presidente limitou-se a dizer-me "Constou-me que o sr. se quer demitir..." Entendi que pretendia ver-me pelas costas.  Confimei por isso que assim era e referi que a partir do fim desse mês regressaria à escola onde era professor efectivo.
Ainda estão felizmente vivos e de boa saúde António Alexandre e Pedro Marques, que poderão corroborar estes factos, se assim o entenderem. Quanto ao resto, que eu tinha razão, demonstrou-o alguns anos mais tarde António Paiva, ao afastar as duas senhoras acima referidas, apesar de uma delas ser até sua colega no IPT. Conseguiu igualmente, com muito brio diga-se, "moralizar" vários sectores do funcionalismo autárquico. Infelizmente, acabou por se deslumbrar com os fundos europeus demasiado fáceis e com os cúmplices silêncios da restante vereação...Os tomarenses sabem o resto. Como me disse no sábado passado Custódio Ferreira "com uma tarimba de mais de 60 anos", a desgraça é que "o bicho" continua lá.
E quem pecou, tarda cada vez mais em reconhecer os seus erros de palmatória, pelos quais estamos agora todos a pagar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Se assumisse o compromisso de NÃO CENSURAR E PUBLICAR TUDO o que sei sobre si,sobre Pedro Marques,sobre Paiva,sobre Becerra Vitorino,sobre Relvas,sobre Luís Ferreira,sobre Custódio Ferreira,sobre Luís Marcelino,sobre António Alexandre e também sobre outros actores secundários como Corvêlo de Sousa,talvez a história política recente de Tomar pudesse tornar-se muito mais clara.

Tomar precisava dessa catarse,mas não era aqui ou em qualquer blogue.

Era cara a cara,olhos nos olhos,num ciclo de debates públicos a realizar no Cine-Teatro,com transmissão nas rádios locais e reportagens sérias e objectivas nos jornais.

Há muita canalhice,muita pulhice escondida,de que o Povo não tem conhecimento,nem lhe passa pela cabeça.

Vale o desafio?

PGN

Anónimo disse...

Isto voltou a ser um mural para gente demente, foi?

Anónimo disse...

Desafio que não pode ser ignotrado...

Anónimo disse...

Sr. Prof. Rebelo garantiram-me que a história NÃO é totalmente verdadeira!

Será assim?

O Sr. é que sabe o que fazer perante isto!

Saraiva

Unknown disse...

Para Saraiva:

O contrário é que me teria surpreendido, na actual conjuntura e numa terra onde a verdade varia consoante as conveniências políticas. E que explicação é que lhe deram ? Já agora...