terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

NUM MUNDO MAL CONHECIDO


O protesto cantado dos Deolinda é, no fim de contas, também um confissão implícita de que não conhecem o mundo em que vivem. Produto de um sistema de ensino em certos aspectos acéfalo, na medida em que não faculta aos seus estudantes os instrumentos analíticos mínimos,  necessários para procurar entender o mundo actual e as suas mutações, ficaram-se pelo século passado. Pelo tempo dos "trinta gloriosos", quando a economia europeia crescia a olhos vistos e em Portugal bastava ter um "canudo" para se "encaixar" num emprego, geralmente vitalício e com promoção automática por antiguidade. Onde isso já vai! Agora há que fazer pela vida, tal como foram obrigados a fazer os emigrantes "a salto" dos anos 60 e 70 do século passado. Quando o ensino superior ainda não tinha colocado em saldo as suas licenciaturas, mestrados, post graduações e doutoramentos, salvo raras e honrosas excepções.
 A situação actual não é nada favorável aos jovens, mesmo aos diplomados pelo ensino superior? Pois não. E onde é que na Europa as condições são diferentes? Bem vistas as coisas, é agora evidente -para quem detém os supracitados instrumentos de análise- estarmos perante uma das contradições do capitalismo, enunciada por Samuelson: Quanto mais facilidades o capitalismo concede aos cidadãos, mais estes aspiram a um estado paternalista, que o mesmo é dizer a um sistema socialista. Sobretudo quando ignoram as implicações daquilo que procuram alcançar. É o usual desfasamento entre a evolução da sociedade e a das mentalidades. Habituem-se!, diria o Vitorino. A democracia reconhece o direito à indignação, o que não significa que os indignados tenham sempre razão. Seria demasiado fácil.

6 comentários:

Anónimo disse...

A geração Deolinda é, em muitos casos, a geração dos preguiçosos. Os que acham que têm tudo e adiam romper as amarras. Os que querem ser jovens, viver continuamente no folklore da adolescência, em festas e noitadas universitárias, em permanentes viagens de finalistas, em jogos de playstation, etc.

É verdade que a vida hoje está difícil. Mas isso apenas para os que sempre acharam que a mesma é fácil. E nunca o foi. Nem para os nossos pais nem para os pais deles. E se hoje queremos prolongar o conforto da casa dos pais é porque em muitos casos eles - os nossos pais - também desejam prolongar o nosso conforto, quiça se com medo de uma velhice solitária. Com medo de adormecerem sózinhos num apartamento em Rio de Mouro para serem descobertos passados nove anos como cadáveres.

A geração Deolinda, preguiçosa e sem grande vontade de vingar, é filha da geração temerosa dos que cortam as asas aos filhos, não com medo de eles cairem mas com medo de envelhecer sózinha.


Luis Silva
(tenho 28 anos e porque não me sinto filho da geração Deolinda, quando acabei o curso emigrei para a Alemanha e Reino Unido apesar das lágrimas da minha mãe. E se hoje tenho emprego em Lisboa a mim o devo. Não estive à espera que os outros mo oferecessem)

Giresse disse...

Não concordo! Acho que os Deolinda têm toda a razão e estão muito cientes do que dizem e escrevem. Ignorar que existe um problema, atacando as palavras que a banda canta, além de uma grande desonestidade intelectual e cultural, revela um grave problema de iliteracia. Compreendo que há muita gente que está comprometida ideologicamente e que tem de defender o seu quinhão, mas isto só faz que se revelem os "bichos" e se identifiquem os "castradores". Sinceramente, acho que há uma grave crise de credibilidade. Não só política como de intelectualidade e de comentadores da actualidade. Já ninguém os "papa" como antigamente, as pessoas hoje estão mais estruturadas e pensam por si. Por isso, fenómenos como os Deolinda têm esta força. Porque os Deolinda são formados por pessoas inteligentes e sem vícios ideológicos, que dizem as coisas como elas são. Venham mais bandas como eles, porque ninguém acredita na vossa arte...
Abraços

Unknown disse...

Para Giresse:
Por mero acaso, o comentador anterior, que tem um percurso semelhante ao meu, mas efectuado 4 décadas mais tarde, já lhe respondeu cabalmente. Creio faltar apenas isto: Atacar os outros em tom ácido e opinativo, sem todavia fundamentar com exemplos sólidos, é fácil mas em vão. E por favor não me faça rir com essa da iliteracia, quando afinal você, do alto da sua sapiência, nem entendeu o post na sua totalidade. Essa é que essa! O tal ensino que temos, ou estarei a ver mal?
Escreva sempre!

Cordialmente,

A.R.

Giresse disse...

A proposta dos Deolinda vai de encontro então à vida que ambos glorificam: mexam-se! Tomem uma atitude! Como a canção diz: "esta situação, dura à tempo demais... e parva eu não sou!". A canção é um hino à acção. À luta interior. A jovem da letra, de certo irá fazer qualquer coisa para mudar. Na situação dela, há infelizmente muita gente. Não o escondam nem o neguem. Há gente a ser explorada vergonhosamente. Os vossos exemplos hoje são uma minoria, acreditem. Era bom que não fossem, mas são. E caro António, tenho muito gosto em fazê-lo rir. Sobretudo quando a causa é séria e nobre.

Anónimo disse...

A crítica para com os Deolinda foi a mesma que se fez no passado para com o Zeca Afonso: eles comem tudo, lembram-se ? Mudou alguma coisa deppois do 25 de Abril ou só as moscas ?
A geração parva, com menos de 30 anos, diz que vai realizar uma manifestação para provar que o país é que é parvo. Uma manifestação é demasiado para eles, apesar de terem razão quanto à pequenez (de parvo) do povo português. Não é o país que é parvo, é o povo que o habita.
Um povo que não cuida de ninguém, nem dos novos nem dos idosos. Estes estão a morrer abandonados, e passam anos em andares como se estes fossem sarcófagos. É este o nível dos portugueses, dependentes , endividados, incapazes de fazerem pela vida. Aos jovens só resta a rutura, se forem cpazes, mas não o são. Olhem para Tomar, onde a incapacidade é total.
O 25 de Abbril morreu. Viva a revolução nacionalista.
Anti- Salazar

Anónimo disse...

Compara os Deolinda a José Afonso é quase como comparar o Kia a um Ferrari...