sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O FIM DE UMA ERA E DE UMA MANEIRA DE PENSAR

Segundo o site da Rádio Hertz, o vice-presidente Carlos Carrão admitiu, durante a reunião camarária da passada quinta-feira, que a autarquia não tem possibilidade de ceder as máquinas às freguesias, devido à falta de pessoal. Confirmou assim aquilo que aqui escrevi e que é óbvio. Por razões que seria conveniente explicar, há mais de 10 anos que o executivo municipal vem seguindo uma política assaz curiosa. Não substitui os trabalhadores que se vão aposentando, ao mesmo tempo que vai contratando mais quadros médios e superiores. De tal forma que se chegou à actual situação, com falta de operadores de máquinas, de motoristas, de cantoneiros, de varredores, de jardineiros, etc. etc, ao mesmo tempo que há excesso de chefes para todos os gostos e feitios. Dado que estes, como é normal neste país e nesta terra, não fazem nada que se veja, atingiu-se o cúmulo da desfaçatez. Para poder continuar a sustentar a sua excessiva e condenável burocracia, o município deixa de assegurar serviços essenciais para as populações. Por outras palavras, os eleitores passam muito bem sem chefes disto ou daquilo, ou sem directores de serviços ou de departamentos. Mas não dispensam tarefas municipais básicas como a recolha do lixo, a limpeza das ruas, o arranjo das vias, a limpeza das valetas.
Uma situação destas, que seria condenável mesmo se apenas transitória, torna-se intolerável por para ela não existir solução sem uma mudança drástica da mentalidade dominante. Não sou só eu a dizê-lo. Aqui vai uma citação bem a propósito.

O fim de uma era

"Todos nós sabemos que a situação de Portugal é dramática e que muita coisa vai mudar em breve. Não me refiro a eventuais mudanças políticas. O que é realmente importante é que os portugueses interiorizem que a sua vida já mudou. Ou melhor, já devia ter mudado e há-de certamente mudar.
A preferência revelada por políticos e famílias tem sido a da fixação quase patológica no betão. Como ando a explicar há anos, a presunção de que a obra pública traz necessariamente desenvolvimento, confundindo investimento com mera despesa, e o caminho aberto pelos políticos de todos os partidos no sentido de que sejamos hoje um país de donos endividados de imobiliário, são duas das maiores razões da catástrofe económica que começamos a sentir e que ainda se vai agravar. Basta olhar para o país: auto-estradas entre nada e coisa nenhuma, polidesportivos em barda, estádios de futebol inúteis, uma das maiores taxas de propriedade de segunda habitação da Europa e agora, pasme-se!, "parcerias público-privadas" para a construção de praias de água salgada no interior das Beiras.
Os políticos (poucos) e os que vivem da política (muitos) têm gerido este caminho para o caos, dando a uma população cada vez mais desfasada, o que esta aparenta querer. Ainda não perceberam que essa era acabou."
Um esquerdista revolucionário? Um apóstolo da desgraça? Um pessimista crónico? Um maledicente encartado? Um candidato ressabiado? Claro que não! Pois se nem refere os milhões gastos para transformar um estádio num campo de treinos mixuruca, nem um paredão só para enfeitar, nem uma rotunda de meio milhão de euros cujo piso tem uma  tendência doentia para abater, nem um caminho pedonal inútil ou umas retretes com balcão de recepção, na horta do vizinho, nem sequer um pavilhão sem as medidas legais, um outro onde há infiltrações quando chove, ou um parque de estacionamento com nascentes, para não falar do já famoso elefante branco da Levada, só pode ser alguém de fora de Tomar e bastante moderado. Trata-se do economista António Nogueira Leite, por sinal até do PSD. (Correio da Manhã de hoje, página 23). Ora toma!
Mas afinal quem terá mais razão? Nogueira Leite e os seus conhecimentos de economia? Ou o vice-presidente Carlos Carrão, responsável pelo sector administrativo e financeiro da autarquia, ao afirmar em Alviobeira que é preciso apostar nas colectividades, mesmo nas actuais circunstâncias? Ou ainda aquele presidente de junta PSD que garantiu continuar com as passeatas comezaina+tintol+animação, haja ou não haja  crise? E se calhar mesmo com as valetas por limpar ou os buracos por tapar...

5 comentários:

Anónimo disse...

Estamos mesmo tramados. Acabou a ideologia, por isso uma das maiores diferenças entre os partidos acabou. Assim resta-nos os políticos sérios, com vontade e projecto, de fazer coisas, sejam elas a nível nacional ou local.
Então estamos mesmo lixados, pois são como dizia o outro, são mais difíceis de encontrar que um Corvo branco.
Não existem e está á vista.
Por isso nos vão acontecendo estas desgraças todas e a câmara de Tomar tem na realidade muito pessoal, falta no entanto quem trabalhe na câmara pelo concelho e nisso os autarcas são iguais ao resto.
Esperança já não nos basta no entanto, talvez um acordar do povo, como agora está a acontecer em alguns Países que ninguém julgava antes possível.

Anónimo disse...

Finalmente, o estimado Professor reconhece “que há excesso de chefes para todos os gostos e feitios”.
Bom analista e melhor pena, o Professor tem contemplado os seus leitores, nos últimos tempos, com alguns recortes dos órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros, bastante oportunos. Não querendo substituí-lo, peço licença para transcrever este pequeno espaço do Editorial da revista Focus desta semana, assinado pelo director Humberto Simões, acerca do estado a que o país chegou: “Basta um pequeno passeio pelo Interior e facilmente se percebe que Portugal está à venda. Neste momento, talvez não seja um bom sítio para se viver e a ministra do Trabalho tenha razão: espertos são os que vão para o estrangeiro. Para os que por cá ficam, parece que o Pingo Doce precisa de talhantes. E não os encontra”.
Seguindo a linha educada do estimado Professor,
Contribuinte cumpridor

Anónimo disse...

então para resolver os problemas da falta de pessoal aí vão mais dois técnicos superios para a Divisão de Desporto... Ah grande Carrão... é o fartar vilanagem.

Anónimo disse...

Isto é como na tropa... mais chefes que soldados. Muitos para mandar e poucos a obedecer.
Por isto é que vamos de mal a pior.
Neste país de chefes e doutores, ninguém arregaça as mangas para trabalhar!

Anónimo disse...

Um técnico superior é superior por trabalhar mais do que um mero técnico?