sábado, 5 de fevereiro de 2011

INFORMAÇÕES PARA OS SENHORES AUTARCAS


Nota prévia

Segundo noticía o site da Rádio Hertz, a autarquia começou a transferência do espólio dos Moínhos da Levada, tendo em vista o início da empreitada de requalificação, já adjudicada. Excelente ocasião para levar ao conhecimento dos senhores autarcas e dos cidadãos em geral o que está a acontecer aos museus franceses. Apesar de a França ter a classificação AAA+, que lhe faculta crédito a taxas moderadas.

"CONSERVADORES DENUNCIAM A POLÍTICA QUE VISA TRANSFORMAR OS MUSEUS EM LOCAIS RENTÁVEIS"

"Num documento publicado ontem, assinalam a tentativa para mercantilizar os museus e as reduzidas verbas concedidas pelo Estado e/ou pelas regiões e autarquias"

"Um relatório sobre a situação dos museus franceses foi publicado ontem em Paris. Trata-se de um documento severo, dominado por críticas, frustrações e chamadas de atenção. Estilo algo surpreendente, pois os grandes museus parecem de boa saúde e as exposições temporárias enchem-se de público.
Os autores do texto, com uma centena de páginas, também causam surpresa: Membros da Associação Geral dos Conservadores das Colecções Públicas Francesas. Há mil conservadores em França e as suas funções são fundamentais: gerir os quadros, esculturas, desenhos ou fotografias à sua guarda. Têm a fama de "queixar-se muito, mas nunca em público", segundo um especialista. Vêm a público pela primeira vez. E não são nada moderados.
Primeira grande crítica, "confrontados com uma lógica liberal excessiva", os museus estarão, segundo afirmam, a deixar de ser um serviço público para se transformarem em empresas, porque os seus usuais sustentáculos -Estado e colectividades locais- têm cada vez menos verbas disponíveis. "Somos confrontados com o mesmo problema dos hospitais e das universidades", afirmou Christophe Vital, presidente da associação supracitada e responsável por seis museus na região da Vendée. Em todos os lados, ou quase, os fundos públicos são cada vez mais reduzidos, mas "não passa de uma ilusão pensar que os museus podem autofinanciar-se", acrescentou.
Resultado: as normais prioridades dos conservadores -proteger, estudar e enriquecer as colecções- são cada vez menos tidas em conta pelos tradicionais financiadores, nomeadamente os presidentes de câmara. "Numa sociedade onde imperam cada vez mais os objectos de usar e deitar fora, torna-se muito difícil proteger obras de arte." O citado relatório avança que muitos museus não são climatizados nem ventilados, citando o caso do Museu dos Augustins, em Toulouse, forçado a encerrar urante o mês de Agosto de 2009, devido às altas temperaturas.
Há reservas "em estado de perigo", mesmo nos grandes museus, com obras de arte amontoadas, inacessíveis ao público... As verbas para aquisições diminuem por todo o lado. Menos 30% desde 2006 no Centro Pompidou, em Paris. "Em Marselha, a verba disponível é tão exígua que até provoca o riso".
Mas para as cidades, "o único critério de dinamismo" de um museu é o total de visitantes. Daqui resulta a obsessão das exposições temporárias, do "acontecimental". Mesmo que à custa de muita improvisação, pois os custos das exposições aumentam muito mais depressa do que as verbas disponíveis. E pretende-se sobretudo exposições temporárias "rentáveis", quando no fim de contas 99%  dão prejuízo. "Não se pode fazer só Monet!" (alusão a uma recente exposição parisiense das obras de Monet, que foi muito visitada e deu lucro), desabafa Christophe Vital, para logo acrescentar que "muitos projectos de exposições de qualidade falham, porque se considera que não conseguirão atrair visitantes suficientes para as rentabilizar." O mecenato? Tem baixado muito desde 2009 e orienta-se sobretudo para os grandes museus nacionais.
Assim, para conseguir fundos, constata o relatório, instala-se pouco a pouco a ideia de considerar a obra de arte como uma mercadoria que se pode vender ou alugar. "É essa a actual tendência." Entre museus franceses, por enquanto, a regra ainda é o empréstimo gratuito, mas o relatório aproveita um documento parlamentar de 2009 para acusar o Museu do Louvre. Exactamente aquele que, pelo seu estatuto e a sua fama mundial, devia dar o exemplo. Tal não é todavia o caso, uma vez que a sua prática foi considerada "problemática" quando resolveu alugar obras de arte a Atlanta (Estados Unidos), ou vender a sua marca e alugar as suas obras a Abu Dabi. A este propósito, o relatório agora difundido cita uma saborosa circular do ministério da cultura de 2007: "As colecções não se alugam nem se vendem. Não podem ser consideradas como mercadorias nem um empréstimo confundido com um aluguer.
Consequência de tudo isto, é cada vez mais largo e profundo o fosso entre os museus grandes, ricos e cheios de visitantes de Paris, e os pequenos museus de província, alguns extremamente pobres, e a maior parte com poucos visitantes. Dos 1214 museus franceses, metade recebe menos de 10 mil visitantes por ano, enquanto que o Museu do Louvre vende 10 milhões de entradas. "Se continuarmos assim, muitos museus terão de fechar", diz o documento que temos vindo a citar, que apresenta seis exemplos em Chinon, Fussy e Paris, enquanto outros estão "a soro". "O castelo-museu de Saumur não consegue arranjar os 8 milhões de euros necessários para começar a funcionar, sendo obrigado a manter as suas colecções encaixotadas."
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Michel Guerrin, Le Monde - Culture, 04/02/11

Nota final
Fingindo ignorar a incessante evolução do Mundo, os senhores autarcas da maioria relativa continuam a insistir que o "elefante branco" da Levada é uma obra estruturante. Tudo indica que deve haver confusão de vocábulo. "Estafante", no sentido em que é capaz de estafar milhões em pouco tempo, talvez. Agora estruturante? E de que estrutura ? Alguém me sabe dizer?

4 comentários:

Anónimo disse...

O empobrecimento do sul da Europa leva ao empobrecimento dos seus Estados. Quem quiser "ver" muitos dos chamados bens culturais vai ter que pagar a sua conservaçao e exposiçao (a menos que seja rico e tenha a sua colecçao particular). O museu da levada, se chegar a abrir, nao demorara a fechar por falta de verba. Como toda a cidade de Tomar, alias. Nao se percebe continuarem a defender um futuro com base no turismo!

Anónimo disse...

Triste ver o entusiasmo da camara de Tomar com o golf dos Pegoes. Um investimento privada que a ter sucesso so interessa aos promotores. Ou pensam que os golfistas vao invadir Tomar para gastar dinheiro? So se for laranjadas e agua engarrafada que o desporto faz sede...

Anónimo disse...

Bem sei que não serão comparáveis. Bem sei que serei um animal venenoso que tenta morder ainda antes de ver a face de outrém. Blá, blá, blá,...
Mas só espero que não aconteça ao investimento PRIVADO do golfe dos Pegões, algo idêntico ao que aconteceu ao investimento PRIVADO do parque de estacionamento da Praça Velha (vulgo BragaParques).
Já começo a estar farto de ver estes privados colocarem na algibeira os lucros e tornar públicos os prejuizos.

O Lacrau do Nabão

Anónimo disse...

O lacrau é um invejoso.
Ele não sabe que os empresários tomarenses, como os todos os portugueses em geral, são alérgicos ao risco?...

AA