sexta-feira, 17 de maio de 2013

Até a França...

"A França tem de fazer reformas. 
À sua maneira, mas tem de ser"

"Desde há muito que a Comissão Europeia deixou de pensar. Limita-se a reproduzir a música ambiente mais em voga nos meios dirigentes da Europa. Agora mudou de partitura. Ainda bem. Afirma doravante que a austeridade orçamental deve ser modulada, matizada consoante os países, alargada no tempo. É uma boa notícia. Porque a política anterior falhou em larga medida.
Sob pressão da Alemanha e de alguns outros países credores da Europa do norte, Bruxelas infligiu ao continente, durante dois anos, uma cura de austeridade uniforme. Principais visados: os países mais endividados da Zona Euro, incluindo a França. Tal remédio contribuiu para sufocar a actividade económica na Europa. Se ainda houvesse dúvidas a este respeito, a confirmação aí está. O Insee [instituto francês de estatística] anunciou no passado dia 15 em Paris que  França está em recessão. Um pouco por todo o lado, onde a dívida pública ultrapassa os 90% do PIB, o clima recessivo mirrou as receitas fiscais, com o resultado já conhecido: o aumento da dívida pública.
Uma vez mais sob pressão da Alemanha... ...a Comissão Europeia mudou de método desde há já alguns meses. Adapta o tratamento ao estado do doente. Concedeu alargamento de prazos a Portugal e à Espanha. Deu mais tempo à França: dois anos para reduzir o défice abaixo dos 3%, norma orçamental considerada necessária para a estabilidade da moeda europeia.
Em contrapartida, a Comissão Europeia exige reformas estruturais: reforma do mercado do trabalho e, para incrementar a competitividade, reforma do financiamento do Estado-providência, designadamente das pensões. [A tal fronteira referida por Portas. Como estas coisas são!]
A França tem de se deixar de minudências e de ouvir as fantasias dos feiticeiros da economia mágica. Todos os países europeus que conseguiram reduzir o desemprego e dar músculo à economia já estiveram nesta situação. Por conseguinte, a França tem de fazer reformas. À sua maneira -e aqui François Hollande pode ter mais sucesso que Sarkozy- mas tem de ser. É mesmo aflitivo que ainda não tenha havido um consenso entre os dois grandes partidos de governo sobre este assunto, desde meados dos anos 90.
Mas é preciso ter em conta que as reformas indispensáveis levam tempo a produzir efeitos -três, quatro, cinco anos. Não se pode portanto esperar qualquer relançamento conjuntural, e ainda menos quaisquer benefícios eleitorais imediatos. Como afirma a maior parte dos economistas interrogados por Le Monde, a redução do peso da dívida no orçamento do Estado francês é imperativa por duas razões principais. Uma razão moral, para não sacrificar desde já o futuro das jovens gerações. Uma outra económica, para drenar recursos necessários a uma verdadeira estratégia de reconquista industrial -por enquanto apenas rascunhada- e de recuperação do comércio exterior.
Dizer isto não significa querer "copiar" a Alemanha custe o que custar. Significa antes salvar o país da espiral do falhanço, que é a sua desde há vinte e cinco anos. Deverá estar portanto em conformidade com o "génio nacional"! 

Le Monde, Editorial, 16/05/2013, primeira página.

Assim a título de analogia, também espanta que até hoje não tenha havido em Tomar qualquer acordo entre as principais formações políticas locais, no sentido de adoptar as medidas muito impopulares mas indispensáveis para nos retirarem da merda, que já chega à cintura. Devem continuar à espera que a coisa se resolva mediante qualquer milagre. Como estamos perto de Fátima...
Mas também é verdade que até agora os tomarenses têm andado mais preocupados com o hospital e afins. Ainda não perceberam que, pelo caminho que as coisa levam, um dia destes já só lá estará o edifício, com manifestantes a bramarem à porta contra a sua privatização, quando afinal nem doentes em número suficiente haverá. E sem pacientes não há hospital que resista. Nem na Suécia!

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