sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mais uma tentativa pedagógica...

A basílica da Sagrada Família em Barcelona, cujas obras duram há mais de 50 anos. A capital catalã "é a única cidade espanhola com uma imagem de marca internacional", segundo o jornal EL PAÍS. Foto Consuelo Bautista/El País.


O turismo urbano em Espanha - Pernoitas hoteleiras em milhões

INE - Espanha/Exceltur/El país

Numa altura em que se desenrola em Tomar a 1ª Festa Templária, uma iniciativa de envergadura pilotada sob a égide da ADIRN, pareceu ser oportuno facultar aos tomarenses a leitura do texto "O turismo urbano é outra saída" que ocupa duas páginas da edição de ontem do EL PAÍS. Não que os ainda residentes precisem de se reciclar. Estão convencidos de que já sabem tudo, além de que todos os eventos realizados em Tomar até esta data têm sido grandes sucessos. Sem qualquer excepção. Por conseguinte, a tradução do citado texto espanhol é sobretudo para quem já foi forçado a ir respirar para outros lados, bem como para a ínfima minoria local que ainda não abandonou o hábito de aprender. Ovelhas ranhosas, em suma.
Quanto à Festa Templária, mais tarde se virá a saber se foi ou não bem calibrada para a muito exigente mas bastante bacoca Capital Templária.
Uma última nota. O escrito seguinte refere-se a grandes cidades de um dos três países que mais turistas estrangeiros recebem a nível mundial -França, Espanha, Itália. O que significa totais anuais superiores a 70 milhões de visitantes. Comparando com os 12 milhões vindos a Portugal, ou com os 180 mil que visitaram o Convento de Cristo em 2012, vê-se bem que estamos a falar de mundos diferentes. Mas é com os grandes sucessos que temos de aprender. Ou não?

"O TURISMO URBANO É OUTRA SAÍDA"

"O sector exige aos diversos poderes que se impliquem para atrair visitantes às cidades, para minorar a queda do consumo interno. Só Barcelona e Palma de Maiorca estão a conseguir evitar a crise"

"O turismo é uma actividade-chave na economia espanhola e na sua recuperação. Os empresários do sector julgam chegado o momento de implementar decididamente uma ideia que sempre esteve presente: procurar a melhor forma de explorar o potencial do turismo urbano, as visitas das cidades. Longe do sol e das praias, há muito para explorar em Espanha. "A recuperação de todas as crises económicas vem do exterior. E é isso que vai suceder uma vez mais. As exportações e o turismo serão os sectores que nos permitirão ultrapassar a crise", afirma Josep Piqué, presidente da companhia aérea Vueling. 
O turismo de sol e praia escapa à crise, graças aos turistas estrangeiros. Já o turismo urbano, que gera 16% do PIB das cidades, tem de arrancar, pois não se deve perder de vista que se trata do subsector mais afectado pela redução do consumo e da confiança dos espanhóis, que constituem a maior parte da procura.
Para salvar o turismo urbano da crise (cujas receitas caíram 4,6% em 2012), os especialistas têm receitas claras. Tanto os empresários como os autarcas. O futuro passa por vender as cidades espanholas no estrangeiro, como destinos e experiências de turismo, sobretudo nos países emergentes ("por mais longínquos que sejam", segundo o presidente da câmara de Málaga, Francisco de la Torre), uma vez que são os que mais crescem economicamente.
Contudo, as cidades espanholas estão ainda muito longe de figurar no topo das preferências dos turistas europeus, os maiores clientes de Espanha, afirma Federico Gonzalez Tejera, conselheiro delegado de NH Hoteles, a principal cadeia de estabelecimentos urbanos. "Só Barcelona tem uma marca no exterior, e talvez Valência e Málaga", acrescenta.
Na sua opinião, os planos estratégicos implementados pelas diversas administrações foram muitos mas os resultados foram poucos. "Há que implementar um programa de acção de curto prazo, com objectivos bem definidos, para o levar à prática com um calendário preciso e obter resultados palpáveis, em vez de lançar mensagens descoordenadas de cada administração. Quantas campanhas de promoção existem em Espanha que não são difundidas pelo que são também desconhecidas no estrangeiro", foi uma pergunta frequente durante a recente conferência "O turismo -motor estratégico para o desenvolvimento local", organizada pelo lóbi Exceltur. Os grandes empresários reclamam ao governo que inclua a primeira indústria nacional entre os seus objectivos estratégicos.
Para isso, realizaram uma acção pioneira no Mundo, indica Óscar Perelli, director de estudos da organização empresarial antes citada, a qual consiste em medir através de 57 indicadores a posição relativa de cada um dos 20 principais destinos de turismo urbano em Espanha. Perante os resultados, Perelli refere que as urbes com melhor governança -aquelas cujas autarquias incluíram o turismo entre as suas prioridades organizativas, orçamentais e de agilidade de gestão, designadamente com portais digitais que permitem aos clientes comprar online, bem como acções promocionais na redes sociais- são as que ocupam os primeiros lugares nos painéis classificativos. É o caso de Barcelona, S. Sebastian e Gijón, cujos autarcas consideram o turismo como um elemento importante do desenvolvimento económico, trabalhando para o potenciar junto da iniciativa privada. Além disso, continua Perelli, estas capitais são também as que conseguem melhores resultados na área do turismo.
Barcelona é o ícone espanhol do turismo urbano. A cidade que melhor tem sabido gerir a sua imagem no estrangeiro e atrair visitantes. Por isso, na opinião dos empresários, é a única cidade que conseguiu passar ao lado da crise que é transversal a todo o sector. A gestão da Câmara de Barcelona (desenvolvendo um plano estratégico ambicioso e com orçamento adequado), está na base desse resultado, que faz da capital da Catalunha um modelo turístico rentável, de grande impacto na sua economia, conforme reconhece o seu presidente Xavier Trias, que considera ser a sua cidade o quarto maior destino de turismo urbano na Europa, o primeiro em cruzeiros, o segundo em compras, e o quinto em qualidade de vida, com 26 milhões de visitantes e 7,5 milhões de turistas estrangeiros.
Resultados que certamente não teriam sido possíveis sem os Jogos Olímpicos de 1992, que colocaram a capital catalã no mapa mundial do turismo, nem sem a promoção da sua marca no estrangeiro, ou a atracção de eventos como a fórmula 1, o campeonato de vela, o festival de jazz, ou a Primavera Sound, que atrai 130 mil pessoas, das quais 40% são estrangeiros, assinala o autarca. "A nossa aposta requer investimento mas cria riqueza", afirma Trias, que dá como exemplo os quatro milhões que a Câmara de Barcelona investiu nas corridas de Fórmula 1, as quais geraram 120 milhões nos negócios da restauração e hotelaria. "Custa dinheiro, mas temos de o fazer porque cria imagem no mundo e isso leva-nos à recuperação económica", acrescenta. A  edilidade aposta agora nas novas tecnologias e na mobilidade para atrair visitantes e vai incrementar a colaboração público-privada.
Nessa colaboração, o modelo será o de Palma de Maiorca. O autarca balear estava convencido de que a única maneira de conseguir a retoma económica da cidade era através do turismo. Por isso, há dois anos apostou em converter Palma num destino de turismo urbano, "cuja marca era inexistente. Vivíamos do turismo de sol e praia", esclareceu. A falta de verbas para essa acção levou a criar uma fundação com 30 patronos (Todos empresários do sector turístico. Em Maiorca estão sediadas as cinco primeira cadeias hoteleiras espanholas). Cada um doa anualmente 100 mil euros à fundação para potenciar o destino. "Agora Palma é uma cidade diferente. E a única além de Barcelona que conseguir passar ao lado da crise do turismo urbano", informa Amâncio Lopez, presidente da cadeia hoteleira Hotusa, que espera para este ano o fim da crise e a retoma geral no próximo.
Para criar o destino Palma, deu-se ênfase ao desenvolvimento de bancos de experiências "porque para o cliente tanto se lhe dá uma cidade com outra; o que quer é navegar, fazer compras, participar em experiências", diz satisfeito o edil malhorquino. A cidade promoveu produtos específicos desportivos, teatrais, gastronómicos, musicais...As esplanadas duplicaram e facilitou-se a abertura dos estabelecimentos aos fins de semana. "Graças às receitas geradas pelos turistas, a câmara de Palma de Maiorca já conseguiu amortizar 70 milhões de euros da sua dívida".
Em Málaga, o presidente da edilidade, António de la Torre, esclarece que desde há sete anos que tem procurado criar novos produtos ad hoc para turistas: "Começámos com cruzeiros, congressos e museus. Nos últimos sete anos multiplicámos por três o número de participantes em congressos e por dois o de cruzeiros". Actualmente Málaga aponta ao desenvolvimento do turismo tecnológico.
Em Sevilha, a aposta consiste em converter-se num destino de cruzeiros fluviais, aproveitando o rio Guadalquivir. O autarca sevilhano Juan Ignácio Zoido assegurou-nos que estão a investir 22 milhões de euros para o conseguirem. "Temos que oferecer produtos concretos", concluiu."

Carmen Sánchez-Silva, El País, 23/05/2013, páginas 32/33

Entretanto aqui em Tomar é como se sabe. Vamos de vento em popa, rumo ao abismo. Mas como diria um espanhol se aqui vivesse: "No pasa nada!"

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