sexta-feira, 3 de maio de 2013

O triste fado nabantino


Ou melhor dizendo, o triste fado dos nabantinos que têm a desdita de por aqui continuar a viver. Sofrem no dia a dia e um pouco por todo o lado os efeitos da patologia local -a óbvia falta de qualidade. E, como se tal não fora já penitência suficiente, ainda são gozados nos concelhos vizinhos, cujos munícipes cantam agora de galo.
Já aqui foi escrito, mas insiste-se e insistir-se-à, até que a mão me doa: dos políticos à comida e da sinalização ao mercado, a qualidade em Tomar é algo tão raro e precioso como a chuva no deserto. Com a agravante de os tomarenses acharem que está tudo bem. De tal forma que, seja qual seja o resultado das autárquicas de Outubro próximo, neste momento tudo indica que iremos continuar a ter os mesmos políticos das últimas duas décadas, com os magníficos resultados que se antevêem.
Indo directamente a mais um caso concreto. Deslumbrados com um orçamento tão apetitoso e posteriormente com os fundos europeus, aprendizes políticos compraram e mandaram "requalificar" o velho Cine-Teatro Paraíso, mais tarde Cine-Teatro de Tomar. Temos assim, desde há alguns anos, mais uma situação caricata: Em plena crise, uma sala de espectáculos custeada pelo orçamento de Estado, tal como nos ex-países do Leste Europeu. E logo aí avulta a usual falta de qualidade, o deixa andar, o que se lixe, próqueé bacalhau basta. O timbre dos bilhetes deveria ser, para respeitar as normas oficiais, exactamente o oposto. Primeiro e em tipo maior "Município de Tomar", só depois "Cine-Teatro Paraíso"
Não tem importância, dirá o leitor. Pois não. Mas, como "cesteiro que faz um cesto, faz um cento", é por esta e por outras que a má qualidade alastra em Tomar como mancha de óleo em tecido seco. Quer mais dois exemplos flagrantes e interligados? Eles aqui vão. Uma vez comprado e "requalificado" o velho imóvel, onde "havia muito dinheiro a ganhar", segundo constou na época, tanto entre as empresas de construção cível, como entre alguns eleitos e funcionários, surgiram dois problemas maiores, ainda por solucionar. Um diz respeito à citada requalificação que, convenhamos, custou caro e ficou uma bela merda. Na plateia há cabos eléctricos em pleno pavimento, por não terem sido colocadas atempadamente as indispensáveis calhas técnicas subterrâneas. No WC masculino a pouca vergonha ultrapassou mesmo os limites da decência: algumas tampas das caixas sifónicas estão mais de um centímetro acima dos mosaicos do chão. Lindo de se ver! E a fiscalização autárquica nunca deu por nada. Porque será?
Numa sala mal acabada e com má acústica, a programação assegurada pela autarquia não tem tido melhor sorte. O que mais por aí aparece são filmes comercialões, sem ponta por onde se lhes pegue. A tal ponto que alguns tomarenses cinéfilos resolveram fundar um cine-clube, como forma de conseguirem trazer às margens do Nabão algum cinema que valha a pena ver, o que felizmente têm vindo a conseguir. É claro que, aconselhado pelo amigo João Pires, tenho aproveitado. Pois para desdita minha, também nas referidas sessões a qualidade tem andado algo ausente. É o caso da falta de respeito pela hora marcada para o começo da sessão e, sobretudo, o problema dos intervalos, um em cada sessão.
Ao que julgo sem equipamento sonoro adequado para indicar o recomeço da sessão, ao contrário daquilo que sempre aconteceu no tempo do saudoso Jaime de Oliveira, das vezes que lá fui, quando regressei ao meu lugar já o filme decorria. Pior ainda, na sessão de ontem cheguei à lamentável conclusão de que nem sequer dão tempo suficiente para se ir à casa de banho. Está mal! Mas é o triste fado nabantino e os tomarenses parecem gostar assim. Há que aguentar, e cara alegre! Mas sempre protestando!

Sem comentários: