segunda-feira, 13 de maio de 2013

Para ler, meditar e comparar

"As receitas que não resultaram em Atenas"

"Após seis anos de recessão, de crise política, de sofrimentos sociais e de esforços espectaculares, a Grécia começa talvez  a vislumbrar o fim do seu calvário. Bruxelas previu o regresso a um crescimento simbólico em 2014 (+0,6%). Mas o elevado preço pago por Atenas -queda do PIB superior a 20%, drástica redução do consumo e do investimento, milhares de insolvências, desemprego superior a 27%- vão impedir que alguma vez o caso grego venha a ser considerado um bom modelo. Tanto mais que a dívida soberana continua a aumentar...Porque razão ou razões a Grécia falhou onde outros países triunfaram?
Na batalha que opõe os "austeritários" (defensores do rigor orçamental) aos "gastadores" (favoráveis às medidas de relançamento), aqueles avançam os casos exemplares de consolidação orçamental no Canadá, na Suécia e, mais recentemente, na Letónia ou na Irlanda. Mesmo se, para o ex-tigre celta, as dificuldades ainda não acabaram.
 É fora de dúvida que a "purga" infligida a estes estados foi tão brutal quanto a grega. Tomemos o caso da Suécia. Arrastado por uma crise bancária no início dos anos 90, este país nórdico foi forçado a repensar o seu modelo de estado social. Entre 1994 e 1999, a despesa pública baixou de 67 para 53% do PIB, recorda o economista e historiador Jean-Marc Daniel, num ensaio publicado pela Fondapol, Reduzir a nossa dívida pública (Setembro de 2011). Paralelamente, de 1993 a 2000 o défice orçamental sueco passou de 10% do PIB a um excedente de  5%. Com um raro milagre: o crescimento não afrouxou., tendo mesmo ultrapassado os 4% entre 1998 e 2000, segundo os dados fornecidos pelo FMI.
O episódio canadiano é mais ou menos similar. Para resolver uma dívida pública de quase 100% do PIB no início dos anos 90, o país transformou o seu défice público (-3,48% do PIB, em 1992), num excedente de 5,9% e 2000, sem ter caído em recessão. A fórmula mágica foi um contexto mundial favorável, a habilidade política e, sobretudo, uma política monetária ultra-complacente, que permitiu compensar os danos da austeridade, explica Patrick Artus, economista de Natixis. Uma arma de que já não dispõem os gregos desde a sua entrada na zona euro, que implica a dependência do BCE.
A cura da Letónia post-2008 surge assim como mais apropriada para servir de exemplo de referência. Sobretudo porque o governo letão, ambicionando conseguir a entrada na zona euro e procurando não arruinar as famílias cujos empréstimos eram já em euros em 90% dos casos, recusou desvalorizar a sua moeda. Mantendo a paridade com a moeda única, procedeu ao que os especialistas chamam uma desvalorização interna: redução radical dos preços e dos salários, visando restabelecer a competitividade do país.
Na altura, "muitos pensaram, eu incluído, que se tratava de uma receita para o desastre", admite agora Olivier Blanchard, economista chefe do FMI em Junho de 2012. Mas, após o mergulho da economia, com uma queda do PIB de 17,7% em 2009 e 0,9% em 2010, o pequeno país báltico reencontrou a via do crescimento: +5,5% em 2011 e ainda 4,1% previstos para 2014.
Alguns especialistas explicam esta proeza pela tenacidade da população, capaz de suportar sacrifícios, que consideram menos terríveis que os sofridos durante a era comunista. Mas não só. Na Letónia, explica Patrick Artus, a "purga" foi um êxito porque os preços baixaram paralelamente aos salários, de tal forma que o pais voltou a ser atractivo para os investidores, o que tornou os esforços mais suportáveis. A redução dos preços permitiu a recuperação do poder de compra das famílias, exactamente o que ocorreu também na Irlanda. Mas não na Grécia até ao passado mês de Março, em que o índice de preços no consumidor recuou finalmente 0,2%, o que acontece pela primeira vez desde 1968. Uma esperança? Resta esperar para ver."

Claire Gatinois, Le Monde, Économie & Entreprise, 13/05/2013, página 3

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