sexta-feira, 17 de maio de 2013

O futuro acontece no velho Oeste

"Jerry Brown, salvador da Califórnia"

"Desde que conseguiu recuperar as finanças do Estado, já ninguém diz que é demasiado velho"

"Regressa da China, onde foi procurar financiamentos para o TGV, com que sonha desde há trinta anos. Cita Montaigne e Aristóteles ("Tratar por igual coisas desiguais, não é justiça"). Foi seminarista, budista, presidente da câmara, governador e solteiro durante 67 anos. Na cena política americana, o democrata Jerry Brown é uma personagem especial. Desde o princípio do ano acrescentou mais um título ao seu palmarés: o homem que voltou a colocar a Califórnia nos carris.
A idade tem por vezes vantagens. A de Jerry Brown é canónica. Tem 75 anos e governa a nona economia mundial. A mais "jovem", se assim se pode dizer, com as suas incubadoras de empresas e as suas start-up. Dois anos após ter tomado posse, acabou com o défice que tinha transformado a Califórnia no doente dos Estados Unidos. Uma recuperação conseguida graças a um remédio cavalar: três dólares de cortes orçamentais por cada dólar de aumento de impostos. "Estamos de novo nos carris", aprova o responsável californiano do Partido Democrata, John Bruton, de 80 anos.
Jerry Brown é uma figura nacional, mas raramente é visto em Washington. A última vez que lá foi, para a reunião da Associação de governadores, no fim de Fevereiro, provocou uma certa consternação entre os democratas que ficaram na Califórnia, ao inquietar-se com o custo da reforma do seguro de saúde, de Barack Obama. "Parecia um republicano a falar", opina uma figura pública de Sacramento, a capital do Estado. Em contrapartida, o mundo dos negócios elogia-o: "Está a repensar  maneira como os serviços públicos devem ser assegurados aos cidadãos pelo governo", apoia Jim Wunderman do Bay Area Council, a associação patronal que financiou a nova "embaixada" da Califórnia em Shangai.
Jerry Brown acredita no carácter excepcional da Califórnia. "À nossa volta só vemos dúvidas e pessimismo sobre o nosso futuro e o da América. Mas o que acabamos de conseguir e, a bem dizer, toda a história da Califórnia desmente esse pessimismo". O seu bisavô veio da Alemanha, nas diligências da corrida ao ouro. O seu pai foi governador. Após o seminário, Jerry Brown imitou-o. Entre 1975 e 1983 foi um governador algo excêntrico, muito anti-conformista e os seus adversários gozaram à grande com as suas opções futuristas. Propunha que a Califórnia comprasse o seu próprio satélite e que os habitantes instalassem painéis solares nos telhados. Em 1975!!!
Quando concorreu pela segunda e última vez à presidência dos Estados Unidos, o seu slogan era: "Proteger o planeta. Servir o povo. Explorar o Universo." Nessa época, a sua namorada, a artista country Linda Rondstadt chamava-lhe "Moonbeam" = réstea de luar. A alcunha ficou-lhe.
O governador pouco mudou desde então. Continua ascético, embora um pouco menos desde que se casou com uma antiga directora administrativa dos armazéns GAP. Não se preocupa minimamente com a comunicação. No Capitólio, em Sacramento, dispõe de pouco pessoal de apoio. "É menos acessível que Arnold Schwarzenegger, o seu antecessor, mas também menos superficial", declara-nos um lobista. Não tem ninguém para lhe escrever os discursos, que de resto também não faz. Nas conferências de imprensa responde filosoficamente: "O governo tem problemas, embora não tão grandes como os da imprensa. Mas é apesar de tudo o meio através do qual as pessoas podem agir em conjunto." Desde que conseguiu recuperar as finanças do Estado, já ninguém diz que é demasiado velho. "Se tivesse menos dez anos até podia apresentar-se outra vez na corrida à Casa Branca", assegura o politólogo Steven Hill.
Jerry Brown apresentou o orçamento definitivo na passa da terça-feira, 14 de Maio. Continua a haver um superavit, mas apesar de democrata entendeu continuar com a austeridade: "A disciplina orçamental não é inimiga da governação democrática, é o seu atributo", garante ele. Uma única concessão: o financiamento da educação, que vai ser parcialmente restabelecido. E o TGV, cujas obras devem começar no próximo verão."

Corine Lesnes, lesnes@lemonde.fr, Le Monde, 16/05/2013, página 3

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