quinta-feira, 16 de maio de 2013

Garotices interesseiras


Os políticos e as fraldas devem ser mudados com frequência e pela mesma razão, escreveu o grande Eça de Queiroz, já lá vão dois séculos. Este triste e miserável mundo em que vivemos, cada vez fornece mais exemplos de que o grande escritor estava cheio de razão. O que não admira, pois tinha Mundo. Vivera em Havana e estava então como cônsul de Portugal em Paris. De onde, na época, nos vinham todas as novidades, pelo Sud Express.
A ilustração supra documenta mais uma garotice e permite identificar os seus principais protagonistas, sem que algum deles se assuma como tal. São todos inteligências de alto gabarito. Se assim não fosse, não estariam nos lugares que ocupam. Ou estarei a ver mal?
Em poucas palavras, que o contexto é de poupança e de desespero para cada vez mais cidadãos: O respeitável Carlos Carrão, ao que tudo indica movido pela sua sede de votos, resolveu conceder aos funcionários uma hora de tolerância na passada quinta-feira de Ascensão, para que pudessem "ir apanhar a espiga". Ora toma! A usual tentativa de compra de votos, que este ano é cada vez mais o de todos os perigos. E como a situação não permite passeatas-tintol-bailarico, nem subsídios com fartura, nem almoços, jantares e inaugurações, tudo à custa do orçamento, há que recorrer ao possível -as cedências do autocarro camarário e, neste caso, a tolerância de ponto com um pretexto fútil.
Tendo percebido e invejado a manobra, o respeitável vereador Luís Ferreira não a digeriu. Resolveu trazê-la para o Facebook, a nova coqueluche da calhandrice na rede. Não para denunciar a untuosa decisão presidencial, que a candidata Anabela Freitas, por mero acaso companheira do vereador socialista, laico, maçon, cidadão livre e de bons costumes, também precisa de votos e de que maneira!
Vai daí, absteve-se de criticar a dita abébia, ficando-se pela sua cronometragem: fora comunicada mesmo em cima da hora, segundo o ilustre edil.
Caso para que recomende ao presidente que no próximo ano, se os eleitores do concelho continuarem a ser tão cegos que o elejam, conviria enviar a ordem de serviço pelo menos de véspera. E porque não concedendo mais uma hora de tolerância de ponto (neste caso, de ponta) para todos os funcionários que se comprometam a usá-la para incrementar a população local? Pode ser que assim funcionários e eleitos se abstenham com mais frequência de cavalear as conveniências e -sobretudo- os infelizes e esfolados munícipes.
Pobre terra que tais filhos pariu!

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