quarta-feira, 8 de maio de 2013

Pobres e mal obituados

Foto António Freitas

A fase sombria que infelizmente atravessamos e vamos continuar a atravessar, sem saber por quanto tempo mais, presta-se a neologismos. Desde o "estamos cozidos e mal pagos" à economia que "está toda fundida", passando pelo mais conhecido "isaltinar", sinónimo de chicanar, complicar, torpedear, tentar enganar, contornar, procrastinar... Na mesma linha, temos agora a expressão nabantina mal obituados.
Trata-se de mencionar aquela situação bem conhecida de quem tem a sorte de ainda habitar no campo e  de criar as suas aves de capoeira para consumo. Quando se mata um desses bicos, cortando-lhe o pescoço e pondo-o no chão, quase sempre o galináceo consegue ainda fugir durante alguns metros, obviamente sem saber para onde vai, posto que desprovido da parte pensante. Exactamente o que está a acontecer nas frondosas margens do Nabão com a maior parte dos eleitos. Continuam como se nada tivesse mudado, mas é patente que não sabem para onde vão. Dando de barato que alguma vez souberam, o que está por demonstrar.
Tudo indica portanto que insistem em funcionar movidos apenas pela força da inércia, que o mesmo é dizer dos hábitos adquiridos. Estão mal habituados, porque entretanto a envolvência mudou substancialmente, e mal obituados porque, intelectualmente mortos, continuam apesar disso a asneirar. Como os galináceos degolados.
Vejamos o caso do recente Congresso da sopa que, ou muito me engano ou ainda vai dar pano para mangas. Além das verbas dispendidas para depois doar ao CIRE menos de metade desse montante, outros aspectos questionam quem se interesse pela política local e pelas boas contas públicas. Desde logo o caso daquelas instituições participantes que recebem um montante fixo e os géneros necessários para a confecção da sopa, comprometendo-se em contrapartida a  pôr à disposição dos congressistas cem litros de comida no total, mas depois não levam nem metade.
Mais uma vez aconteceu este ano que, pouco mais de meia hora após a abertura do certame, algumas das sopas já estavam esgotadas. É muita sopa consumida em tão pouco tempo... Mas depois todos  recebem o mesmo. O ano passado foram 200 euros para cada um. Mesmo para cem litros certinhos, é muito bem pago! Cerca de um euro/sopa. É no que dá termos uma câmara gerida por eleitos com a mania que são ricos.
A mesma megalomania dos custos e dos preços estende-se à narrativa noticiosa do evento. À noite, o primeiro canal reproduziu a versão da entidade organizadora: "Dois mil congressistas consumiram quatro mil litros de sopa em pouco mais de duas horas, durante a 20ª edição do Congresso da sopa que esta tarde teve lugar em Tomar". Na verdade, nem havia quatro mil litros de sopa, pela razão acima apontada, nem estiveram dois mil congressistas pagantes. Nem coisa parecida.
Muitos congressistas foram, como sempre acontece, os habituais borlistas: funcionários, familiares, amigos, clientes do Continente que receberam gratuitamente senhas para entradas e kits. E mesmo assim, digam o que disserem, estava nitidamente menos gente do que no ano passado. De resto, segundo o jornalista tomarense António Freitas, em 2012 foram consumidos 14 quilos de café durante o certame. Este ano não se passou dos seis quilos. Se calhar as pessoas andam a dormir mal por causa da crise, o que as leva a renunciar à usual bica...
Mas é claro, como estamos em ano eleitoral, tudo quanto se faça terá de ser forçosamente um grande êxito. Seja qual for o seu custo real para os contribuintes. É que eu digo: Pobres e mal obituados = mal mortos e mal habituados. Triste sina a nabantina!

Sem comentários: