domingo, 25 de julho de 2010

COLIGAÇÃO, EQUÍVOCOS E RUPTURA

Foi aqui escrito, logo a seguir à celebração do "nó", que iria ser coisa de pouca dura. Na linha do que sempre têm feito, brilhantes cérebros tomarenses argumentaram de pronto que se tratava de mau perder, vingança, ressentimento, inveja, e mais não sei quantos inventados pecados. Passaram os meses e a ruptura aí está, mais mês menos mês. Porque a nova liderança do PSD local almeja acabar com ela. Porque a posição dos eleitos PS já não permite qualquer dúvida: São contra e não aprovarão qualquer deliberação, visando construir habitações na Zona Industrial da Madalena -Tomar.
O ponto 2 do recente comunicado dos socialistas tomarenses (que pode ser lido na íntegra em psdigital) é assaz claro, conquanto num português algo gongórico: "...Não poderá o PS ser alguma vez favorável, nem por qualquer busca de consenso num âmbito de partilha de gestão autárquica com um partido que tem obviamente ideias diferentes, à construção de guetos sejam eles destinados a quem for."
Temos portanto que o PS, com este comunicado tornado público, rompeu de facto a estranha aliança celebrada com o PSD. Isto porque, que se saiba, o dito acordo nunca assentou em qualquer programa escrito, nem em quaisquer linhas de orientação estratégica. Tratou-se unicamente de distribuir lugares e benesses, num quadro de duplo equívoco. Em termos comportamentais, ambos os mentores, o do PSD e o do PS se consideraram implicitamente na mesma posição: nós somos clientes, pois pagamos; eles é que são da prostituição, posto que são remunerados. Pode considerar-se uma linguagem dura, sendo no entanto também a única susceptível de relatar com fidelidade o que realmente ocorreu. Onde já se viu uma coligação para governar sem um completo "caderno de encargos", rubricado por ambas as partes? Só em Tomar e por enquanto, que doravante nunca mais cairão noutra!
Sucede que esta nova postura ideológica do PS, uma pirueta para tentar apaziguar militantes e filiados, "corta as pernas" a Corvêlo de Sousa. Vejamos. Desde que assumiu a presidência, ao mesmo tempo que vai seguindo rigorosamente a "bíblia paivina", tem averbado derrota após derrota. As mais importantes até agora, mas não as únicas, foram o recuo no caso do Parque de Campismo, o desmazelo no caso da não aprovação atempada das novas taxas, o malogro da pretendida alienação do ex-Convento de Santa Iria, o encerramento compulsivo do mercado, o diferendo com a ParqT, o escândalo dos novos automóveis em tempos de penúria, e agora o caso do hipotético realojamento dos ciganos.
Sendo voz corrente, pelo menos nos meios citadinos, ditos bem informados, que "os autarcas da coligação não governam; vão-se governando", que interesse poderá ter para Corvêlo de Sousa uma coligação que não lhe permite implementar a supra referida bíblia paivina? Nenhum, sem sombra de dúvida.
Neste caso dos ciganos, ou mantém a opção da Zona Industrial e terá o PS, os IpT, a comunidade cigana, a Associação Romani, os anti-racistas, muitos tomarenses e a União Europeia activamente contra; ou opta pela Choromela, tendo de enfrentar os protestos de quase toda a população daquela zona e arrabaldes. A política é a arte do possível, e o nosso alcaide-mor, este ou outro, terá de submeter-se à dura experiência, que governar não é só auferir as benesses, mas também e sobretudo fornecer de forma cabal as respectivas contrapartidas.
Repetindo a técnica daquele jornalista brasileiro, que para iludir a censura militar usou a meteorologia, em Tomar vamos ter tempo muito quente, trovoadas frequentes, sobretudo na rua da Fábrica, chuva forte na Praça da República e ventos agrestes na zona da Alameda. Realmente o clima está mesmo muito mudado. Quem diria, aqui há uns meses atrás?

6 comentários:

Anónimo disse...

É realmente notável o timing escolhido pelo "ataque" do PS.

Percebendo que o seu adversário está completamente dividido, de um lado corvêlo, do outro carrão, do outro delgado/paposseco, ao atacar a política do tempo de Paiva, em relação aos ciganos, fica do lado da maioria da população e capitaliza sempre em caso de ruptura.

E quando tudo apontaria para que fosse por causa do Mercado que o "caldo se entornasse", ao aprovar a ida para discussão publica de uma alteração ao PDM, com a qual afinal não concorda, o PS mais não faz do que ter a iniciativa política, capturando em definitivo o parceiro da coligação ou então livrando-se dele em "alta".

É de facto, fina política, de se lhe tirar o chapéu.

Anónimo disse...

Permita-me outra versão para a história recente de Tomar:a cidade e os interesses da população nunca contaram;o PSD não passou de um burro de carga de espertalhões;paiva procurou um trampolim para outros voos políticos, na melhor das hipóteses, ou obter um estatuto de previlégio, na pior, como tem; relvas usou a Assembleia Mun.como compasso de espera (fundamental quando foi corrido das últimas listas nacionais de deputados-a coligação com PS local só serviu para ganhar tempo, mantendo-se "à tona");Corvelo, fora da advocacia,tem que tratar da reforma;idem para carrão cujo futuro só pode ser o que o chefe relvas quiser(veja-se os tontos elogios recentes) ou a reforma;os PS locais só queriam um pratito de lentilhas e tiveram-no sacrificando o estatuto de alternativa;os IpT ziguezagueiam e não ganham "músculo" político.
Tomar, uma aldeia com história.
A. Miguel

Bravura Lusitana disse...

O problema dos ciganos é criado por quem não sabe gerir a cidade.

Deixam de ser problema a partir do momento em que o PNR assumir as despesas do poder local. Carga policial para deter armas, droga e produtos de furto (metade vão presos); guia de marcha para os restantes. Se esses insistirem em permanecer no local, carga policial novamente e derrube imediato das barracas. Depois, que façam o que qualquer cidadão teria que fazer nessas circunstâncias - amanhem-se !

Quem estiver farto das problemáticas causadas pelos indivíduos de etnia cigana sabe muito bem com que partido pode contar.

Por Thomar, Por Portugal, PNR SEMPRE PRESENTE !

Anónimo disse...

Não percebo qual é o problema de alojar os ciganos do Flecheiro na zona industrial. O único óbice que me ocorre tem a ver com a lei do ruído que impede a construção de fábricas em zonas onde residam pessoas, mas parece-me que este não será o caso porque aquela é uma zona industrial, organizada para esse fim há dezenas de anos.
Por outro lado não entendo porque se há-de considerar essa solução uma forma de exclusão. Então as condições e o local onde eles estão não o é?
Porque é que há-de haver tanto medo das reacções das entidades e organismos se até agora nada fizeram? Há mais de 15 anos que a CE emite legislação contra a exclusão social e o que é fizeram até agora? Esses arautos da inclusão social onde têm estado até agora? Ainda não sabem do que se passa em Tomar?
Para terminar pergunto se os habitantes da Chorumela, local possível de realojamento dos ciganos, têm direito à indignação se lá colocarem novos vizinhos, e se as autoridades estão a ponderar essa reacção, os habitantes da avenina Nuno Álvares Pereira são menos cidadãos que os outros?

Unknown disse...

Para 07:18

O problema de alojar os ciganos na Zona industrial é muito complexo, tem várias facetas. Para além das questões de segregação, racismo, discriminação, apartheid ou gueto, temos igualmente a posição dos empresários instalados na zona, que quando compraram os terrenos e pagaram as indispensáveis licenças, não estavam nada à espera de um dia virem a ter como vizinhos chegados mais de 50 famílias ciganas. Outra faceta a considerar é a própria reacção das pessoas a realojar. Interrogado a esse respeito, um dos patriarcas locais, disse o ano passado a tomar a dianteira que se forem obrigados, vão para lá, que remédio; mas vão de má vontade que aquilo não é solução, porque ficam todos juntos. À nossa pergunta "Mas qual é o problema de ficarem todos juntos?", respondeu logo, com ar entendido -"Ciganos, sabe!?!"

Unknown disse...

Para Barvura Lusitana:

Muito cuidado com o que propõe. É sabido que a violência gera sempre mais violência. Convém lembrar que durante a Revolução Francesa, quando alguém aplaudia, à passagem de mais uma carroça cheia de condenados à guilhotina, havia igualmente quem dissesse -Tenha cautela, que pode ir numa das próximas carroças. O próprio Robespierre...