terça-feira, 13 de julho de 2010

ESPANHA PLURAL ! AÍ ESTÁ A MARCA-PAÍS

Origem regional do treinador e dos 23 jogadores da selecção espanhola

Conheço um pouco os espanhóis. Gente orgulhosa, frontal, de antes quebrar que torcer, mas igualmente humildes e fraternos como poucos. Trabalhei lá e gostei. Tive em França vários professores espanhóis de nascimento, e apreciei.
Agora com esta retumbante vitória no Mundial de Futebol, houve uma cena oficial que terá passado praticamente despercebida em Portugal, mas de um significado imenso para o visado, para toda a selecção e para Espanha. De acordo com tradições multicentenárias, o rei de Espanha e Conde Barcelona trata sempre por tu os seus súbditos, que lhe respondem da mesma forma, com uma única diferença: se fazem parte da Grandeza de Espanha (Duques, Condes, Marqueses...), podem manter o chapéu na cabeça, enquanto falam com o seu soberano; caso contrário, manda a tradição que se descubram. Em nenhum caso, porém, está previsto que Juan Carlos use Usted = você, a senhora, o senhor. O que se compreende -nas monarquias ninguém está acima do rei, que por isso é o único senhor, salvo os súbditos em maioria verificada.
Pois o actual soberano espanhol protagonizou um acto que fez chorar muitos espanhóis. Dirigindo-se aos elementos da selecção espanhola, durante a audiência que lhes concedeu, chegou a vez de Vicente Del Bosque. Aí o rei, deliberadamente, disse-lhe: "Sei que o senhor é humilde e discreto, pelo que não gosta de sobressair; sou todavia forçado a agradecer-lhe o que fez por Espanha. Bem haja! Viva Espanha!" Surpreendido, ao ser tratado por você pelo rei, bastante mais idoso do que ele, o seleccionador espanhol limitou-se a baixar ligeiramente a cabeça, escondendo o rosto. Um homem honrado não chora. Sobretudo à frente do seu rei!
Caso sem grande significado? Pelo contrário. Basta ler a crónica seguinte, assinada por José Juan Toharia, director académico da Fundação Ortega/Marañon, tendo por título o que encabeça esta entrada.

"O espectáculo de "vinte e dois milionários de calções a correr atrás de uma bola" pode agradar mais ou menos, ou até desagradar, mas há que reconhecer que algo de muito profundo -e partilhado de forma generalizada, acima de línguas, ideologias ou nacionalidades- deverá ter, quando consegue durante semanas a fio praticamente monopolizar a atenção informativa de todos.
Tomemos o caso do nosso país. Numa altura de generalizado desânimo, de profunda crise económica e de crescente alheamento cidadão a respeito dos nossos assuntos colectivos, o comportamento da selecção no Mundial teve um efeito galvanizador tão vasto e intenso, quanto imprevisto. Para começar, por todo o lado as varandas encheram-se de bandeiras. Assiste-se às transmissões dos jogos e celebram-se os resultados envolvidos nela. E assim, bruscamente, em poucos dias, parece terem-se diluído de forma mais acentuada que em mais de três décadas de democracia, todas as reticências, reservas ou segundos sentidos que ainda parecem subsistir em relação ao uso dos símbolos nacionais. A bandeira passou a ser, de uma momento para o outro, pura e simplesmente, a bandeira da nossa selecção, quer dizer, a óbvia bandeira de todos, sem conotação alguma de qualquer outro símbolo. Esta banalização cordial e cheia de naturalidade, de um elemento simbólico tão importante, representa sem qualquer dúvida um saudável sintoma social e, simultaneamente, sugere que talvez o fundo identitário dos espanhóis actuais, sobretudo dos mais jovens, seja mais sossegado e apaziguado do que aquilo que por vezes alguns dizem.
Mas há mais. Esta selecção de futebol, que entusiasmou o país inteiro, é uma selecção peculiar. "Espanha Plural", titulou, na primeira página, um diário desportiuvo madrileno, para sublinhar e enaltecer algo óbvio: a equipa do grande Del Bosque (esse a quem o seu Real Madrid considerou "tecnicamente desfasado", numa funesta hora que todos os madrilistas já lamentaram mais de mil vezes) é, essencialmente, o esplêndido Barça de Guardiola, reforçado com jogadores de várias outras equipas, entre as quais o seu principal rival, o Real Madrid. E todos, jogadores e adeptos, fizeram claque à volta desta equipa e sentem-se orgulhosos perante um estilo de futebol que, engendrado originariamente no Barça, passou agora, ao nível mundial, a marcar época como o "estilo de futebol espanhol".
E há mais ainda. Tanto os jogadores como os técnicos da nossa selecção estão a dar uma magnífica lição à nossa sociedade, sobretudo aquela parte que dela mais necessita -a nossa classe política em geral. Bem poderia esta aprender com uma equipa, sem dúvida diversa e plural nas ideias, nas crenças e nos gostos dos seus componentes, mas na qual só se rivaliza em humildade, elegância, respeito pelo rival, companheirismo, lealdade e busca comum, sem fissuras, do melhor para o conjunto. Onde estão, na nossa classe política, os equivalentes, por exemplo, de um Guardiola, de um Del Bosque, de Casillas ou de Puyol?
Para terminar. Quando se fala tanto de soft power, ou de "marca-país", será possível não ter em conta a retumbância da passagem da nossa selecção por este Mundial? Os seus padrões de qualidade futebolística e humana constituem o melhor e mais eficaz reclame para o nosso país. É muito difícil imaginar alguma outra actividade colectiva espanhola que em poucos dias fosse capaz de concitar a atenção do mundo inteiro, no sentido literal da expressão, naquilo que o nosso país é, faz e representa, como conseguiu a nossa selecção nacional de futebol, através da generalizada admiração que despertou."

José Juan Toharia/El País

8 comentários:

Anónimo disse...

1 - A Espanha não é um país, logo não pode haver "marca/país".
Como se escreveu no editorial do jornal castelhano "El Mundo", a Espanha imersa numa crise económica grave precisava deste triunfo para reforçar a sua auto-estima e orgulhar-se dos símbolos nacionais guardados há demasiado tempo no armário.
No último Sábado, véspera da final, ocorreu em Barcelona uma monumental manifestação contra Madrid, por esta quere limitar a autonomia da Catalunha. Em 2014 haverá um referendo sobre a independência da Catalunha.
Em Agosto, o Governo espanhol vai anunciar medidas económicas mais duras.
Em 2004, antes do Europeu de futebol, realizado em Portugal, afirmei que a Grécia o ganharia por causa da situação no Médio oiente, e porque a Grécia já estava em crise...
Esta victória da Espanha dá muito jeito. Há revistas com artigos intitulados: "E se a Espanha for à falência?
Se tal acontecer, os bancos alemães e franceses serão arrastados, e Portugal come por tabela...

2- Ontem, nas jornadas parlamentares do PSD, o Prof. Hernâni Lopes, Min. das Finanças na crise de 1983 (onde perdemos um terço do subsídio de Natal), defendeu o corte dos salários da Função Pública, entre 15 a 30 %.
Hoje, mais um empresa de "rating" baixou o nível da dívida pública portuguesa, o que significa que se está a pressionar para medidas mais duras entre nós.
Não desanimem que isto vai para pior.

3 - A Messe dos Oficiais em Tomar está cercada por material militar de construção civil, chegou a hora da sua finitude, como já aqui escreveramos. Tomar fica tão longe para os tomarenses.

4 - O Mundial de Futebol acabou a violência contra os imigrantes voltou à África do Sul. O que é que esperavam ? Só quem não conhece a realidade...



SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Vem hoje no jornal que o Entroncamento está prestes a meter um golão e colocar Tomar a apanhar bolas transviadas.

Estará a CIM, presidida pelo arconte de Tomar, a acompanhar o previsto investimento de 4 milhões de CONTOS , pela EMEF, numa fábrica no Entrocamento para a construção de Vagões de transporte de carga,via ferroviária, para exportação, adequados a tráfegos multimodais, combinado e em paletes (uma unidade de carga, da fábrica ao domicílio no destino, pode ser transportada durante o percurso por comboio, terra, mar e ar no mesmo contentor).

Onde vai ser construída? uma localização que beneficiasse dois ou três concelhos é que era bom.

4 milhões de contos é muita massa e a ser construída no Entroncamento, Tomar bem pode começar a tentar associar-se a Leiria, Alcobaça.

Se for para a frente criará um pólo Entronc./Torres Novas que ofuscará Tomar.

Anónimo disse...

O projecto desta unidade de construção de vagões já vem do Governo anterior. E não é mais que o aproveitamento de espaços e condições que hoje existem dentro do espaço ferroviário no Entroncamento. Este investimento vem beneficiar todos os Concelhos limitrofes ao Entrocamento, porque já hoje lá trabalha muita gente de fora.

Anónimo disse...

Escrever que afirmou que a Grécia ia ganhar o Europeu é de bradar aos céus... Há por aí com cada polvo...

Anónimo disse...

Há com cada um!
Espanha não é um país?!
Você escreveu que a Grécia ia ganhar, quando, no dia da final?!!!

Tomar é mesmo exímio em personagens destas!

Anónimo disse...

A EMEF vai continuar, ou será substituÍda por uma nova empresa em associação com uma multinacional alemã ?

O fabrico de vagões e outros já está firmado ou ainda é projecto ?

Tudo isto não passa pelo Plano Ferroviário Nacional e a sua ligação à rede de logística nacional?

O Plano não pervê o encerramento de linhas e a construção de novas linhas ?

Há quantos anos ando a alertar para a restruturação do sistema ferroviário e das suas ameaças para Tomar ?

Quais as ligações do Plano Ferroviário com empresas estrangeiras ?

Como é que as empresas portuguesas ligadas ao sector ferroviário estão para actuar no estrangeiro (Europa de Leste, América Latina, Ásia e África) ?

Tudo isto já está em desenvolvimento há anos, em Tomar é que têm andado distraídos...

SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Ao Anónimo das 13H33

Grato pelo esclarecimento

Anónimo disse...

Ena, tantos arautos e candidatos a políticos aposentados.
E é com esta gente que Tomar vai dobrar o cabo das tormentas?
Muito duvidoso!
Tomar descobriu agora que o eixo da A23 (de Alcanena a Abrantes) esta carregado de Empresas e de Empregos?
Lindo!
Assim de facto, há-de ser difícil que Tomar vá a algum lado: se nem a realidade consegue analisar ounler, quanto mais o futuro antever.
É preciso visão e coragem.