domingo, 4 de julho de 2010

SOBRE FUTEBOL E POLÍTICA LOCAL

Foto Justin Lane/EPA/Expresso

Peço licença (sobretudo ao amigo Manuel Gonçalves, um especialista) para meter a foice em seara alheia, da qual pouco ou nada percebo. No entanto, a ocasião pareceu-me demasiado tentadora e, lá diz o ditado, é a ocasião...
Bem ao seu jeito, Mourinho foi rápido, incisivo e inoportuno: "Nem com o Ronaldo a mil à hora a selecção [portuguesa] consegue ganhar o campeonato de mundo." Houve logo uma vaga de protestos, pois claro, vindos como sempre dos instalados na galáxia da FPF. "É um pessimista doentio, maniento e invejoso", murmuram pela surra, porque há mar e mar, há ir e voltar...
Começada a função na África do Sul, logo se constatou que o "special one" tinha razão antes do tempo, o que é sempre mau. Infelizmente. Os rapazes às ordens do senhor Queiroz foram tentando desdobrar um estilo de futebol que fez furor há trinta anos, com Helénio Herrera -o bem conhecido e vilipendiado "catennacio", depois tão ao gosto de Artur Jorge, que acabou por ser despedido do Paris Saint-Germain, justamente por causa do seu futebol miudinho, temeroso, pobrezinho, envergonhado, do tipo "contra/ataque, bem fechadinhos lá atrás". Resumindo: Excepto contra os desgraçadinhos da Coreia do Norte, oriundos de outro planeta, nunca a selecção das quinas jogou para ganhar; fez sempre tudo para não perder; ou, na pior das hipóteses, para não perder por muitos.
Não espanta por isso que tenham regressado a Lisboa bem mais cedo que o previsto. Nem que as usuais sapiências da FPF proclamem que "vá lá, vá lá! podia ter sido muito pior! são resultados que não nos envergonham." Pois não. Mas também não vão dar lugar a condecorações, nem no próximo 10 de Junho, nem sobretudo no coração dos portugueses.
Perante o evidente naufrágio face às camufladas expectativas, o catedrático Queiroz foi categórico e lapidar -"Está fora de causa apresentar a minha demissão". Ah valente! Arrecadar ao fim de cada mês o equivalente a três ordenados do Presidente da República, sabe tão bem, não é verdade?
Por semelhantes desfechos, uns por isto, outros por aquilo, outros ainda por isto mais aquilo, Fábio Capelo, Dunga, Domenec, o da Itália, cujo nome agora me escapa, e muitos outros, assumiram os desastres respectivos. Renunciaram. Até o folclórico Maradona admitiu perante milhões de telespectadores que ia pensar no assunto e ouvir a família. Temos portanto Carlos Queiroz orgulhosamente só, tal como Portugal no tempo de Salazar.
Mutatis mutandis, que é como quem diz "mudando ou alterando o que deve ser mudado ou alterado para a sua actualização", a conjuntura política nabantina assemelha-se muito à da nossa selecção. Por aqui também temos uma política miudinha, temerosa, pobrezinha, envergonhada, com uma ou outra tentativa desgarrada de contra-ataque, bem entendido estéril. Por aqui também temos seleccionadores que não confiam nos jogadores e jogadores influentes divididos em dois grandes grupos -os que nunca confiaram nos dirigentes e os que deixaram de confiar nos ditos. Por aqui também temos seleccionadores e dirigentes assegurando que "vá lá, vá lá! com esta crise até podíamos estar muito pior!" Por aqui também temos, enfim, seleccionadores e dirigentes que nem sequer julgam necessário vir declarar que está fora de causa renunciarem a lugares tão apetitosos.
Infelizmente para todos nós, incluindo os senhores autarcas e os respectivos mentores, enquanto os tristes resultados da selecção nacional não tiveram nem terão qualquer consequência nas nossas vidas (para além de umas bebedeiras, e uma ou outra carga de porrada na companheira...), na política local as asneiras vão-se acumulando, são cada vez mais graves, pelo que a situação tende a tornar-se insustentável (para usar um vocábulo cavaquista). Uma renúncia colectiva, naturalmnente seguida de nova consulta eleitoral, permitiria começar tudo de novo, como novos planos, com novo alento e com novas esperanças. Pelo contrário, tentar pôr pensos em pernas de pau carunchosas vai arrastar-nos para mais três anos penosos. Talvez os mais trágicos da história tomarense. Oxalá me engane.

13 comentários:

Anónimo disse...

Ó Amigo António,
renuncia colectiva???!!!
Unanimidade na Câmara?
As viagens fizeram-te mal à cabeça????

Unknown disse...

Se assim é, já somos pelo menos dois a não regular bem da mona, pois essa da unanimidade não passa, quanto a mim, de falso argumento. Caso o PSD local tivesse a ousadia, a honestidade e a capacidade de impôr a renúncia a todos os seus eleitos para o executivo (e respectivos substitutos legais), que remédio teriam os do PS e os IpT, senão acompanhar o movimento?
Alguém acredita que se arriscariam a tentar governar em conjunto? Com que legitimidade? Com que programa? Eles não se podem ver nem em fotografia, quanto mais agora ao natural e no exercicio do poder em conjunto...

Luis Ferreira disse...

O essencial no Municipio, como no Pais é trabalhar em momentos como este - de tentativa de correcção de erros muito graves herdados do passado -, dizia, trabalhar para criar condições de Governabilidade.

Toda a geometria política é possível para garantir esse objectivo, no respeito pelos resultados das eleições, que garantem ao PSD a liderança da autarquia.

É a minha humilde opinião, que naturalmente vale o que vale.

Tomarense disse...

"Até o folclórico Maradona..."

Agradecia que na sua qualidade de professor utiliza-se os termos correctos em cada situação:

folclore
(inglês folklore)

s. m.
1. Ciência das tradições e usos populares.
2. Conjunto das tradições, lendas ou crenças populares de um país expressas em danças, provérbios, contos ou canções.
3. Cultura popular de um povo. = demopsicologia

Muito obrigado pelo respeito da cultura do povo.

Unknown disse...

Primeiro que nada deixe-me dizer-lhe que deixei de ter responsabilidades como professor já lá vão 10 anos. Quanto ao folclórico, como qualificativo para Maradona, concordará certamente que a personagem já entrou no folclore argentino, entre outras coisas por causa da sua célebre "mão de Deus", que facultou à Argentina uma suada vitória.
Digamos que é assim uma espécie de "Zé povinho" gaúcho. Sobretudo entre os adeptos do River Plate.
Assim sendo, não vejo onde possa estar a falta de respeito pelo Maradona ou pelo folclores, além de que cada um é livre de adjectivar e/ou escrever como melhor entender. Não lhe parece ?

Anónimo disse...

Tomarense

Agradece-se que respeite a lingua portuguesa escrevendo UTILIZASSE e não utiliza-se.

Muito grato!


Sr Vereador Cultural dos Bombeiros

A humildade é um bem que não contempla todos e é de geometria variável - uns têm, outros não!!!!!

Anónimo disse...

Amigo António Rebelo,

Não tendo em conta o seu caso, isto é, não o metendo no mesmo saco, a leitura do primeiro parágrafo do seu texto aqui proposto, retrata a génese de todos os males que vêm continuamente afectando a qualidade de vida em Tomar.

É precisamente por haver por cá demasiada gente (sendo poucos mesmo assim são demais...!!!)que mete a foice em seara alheia sem perceber nada do assunto é que estamos como estamos...por enquanto!

Olha-se para o edifício das arcadas e o cenário é o que se sabe: gentalha a fazer figura sem ter préstimo, sem qualificação, sem conhecimentos, e sobretudo sem escrúpulos, mas que nascisisticamente todos os dias olham para o espelho e se acham os senhores da verdade, os paladinos da razão, os arautos do bem comum!

No rescaldo do 25 de Abril, o país abriu-se à democracia, a mais perigosa das atitudes políticas porque permite a qualquer leigo aceder ao poder, arma demasiado perigosa quando "brandida" por quem não sabe. Já o dizia Platão em "A República" vai para mais de dois milénios, e convenhamos que a sua teoria nunca esteve tal actual como agora.
E como diz o povo "...com papas e bolos se engana os tolos...", e porque o sistema o permite, desde que se proporcione a ocasião...depressa surge o ladrão!!!

Anónimo disse...

A verdadeira falta de respeito para com Maradona é comparar o Messi com ele...

Bravura Lusitana disse...

Primeiro que tudo, vou-me referir ao comentário trocista e que mostra bem o nível de quem o teceu, num post mais abaixo e indirectamente ligado aos nossos humildes escritos. O excelentíssimo senhor vereador Luís Ferreira comentou "Volta Estalin (nem o nome do ditador comunista sabe escrever...), volta Salazar, volta blábláblá". Enfim, comentários a roçar a má-educação e o desrespeito pela opinião alheia. Triste, muito triste, é que a personagem em causa seja recorrente em afirmações e posturas infelizes.

Já neste post, o mesmo autarca diz-nos, do alto a sua sapiência, que "O essencial no Municipio, como no Pais é trabalhar em momentos como este - de tentativa de correcção de erros muito graves herdados do passado -, dizia, trabalhar para criar condições de Governabilidade."

Ficámos todos elucidados. Luís Ferreira descobriu a pólvora. Afinal, o essencial para resolver a crise é corrigir os erros cometidos. Grande conclusão. É, certamente, para isto que lhe pagam os contribuintes. Verdades de La Palisse.

Com o PNR, Thomar não teria autarcas sem vergonha. Pior que não dar a cara, é dar a cara dizendo asneiras atrás de asneiras.
Com o PNR, os problemas camarários seriam levados a sério. Haveria menos foguetes e mais trabalho. Menos festa e mais suor. Com os resultados que daí se adivinham.

Por Thomar, Por Portugal, SEMPRE !

Anónimo disse...

Foklore... Kromos vários... os vereadores da Kamara de Tomar estão a Kms da Kompetência k lhes era exigida.
Karago! Eles k regressem a Kasa... antes k sejam Korridos!
Quem vos avisa...

Tomarense disse...

A sua resposta nem merece comentário pela ignorância demonstrada relativamente à temática em questão.
Não lhe ficava mal reconhecer que errou. Parece os políticos cá do burgo.

Unknown disse...

Para Bravura Lusitana:

Sinto-me algo incomodado com os seus posts, por sentir neles indícios de não aceitação de princípios que considero básicos: Respeito pela constituição; pluralismo partidário, sem excepções; alternância no poder; voto directo, secreto e individual; não-violência; separação de poderes; condenação do nazismo, do fascismo, do regime anterior ao 25 de Abril e de qualquer governo ditatorial; inviolabilidade do domicílio salvo com mandato subscrito por um juíz.
Seria pedir-lhe demasiado, que nos indicasse a sua posição política em relação a cada um deles?

António Rebelo

Anónimo disse...

Se estes socráticos, coelheiros, relvados, pereiras, silvas, cavacos, portas, ferreiras, carrões, victorinos, curvelos e quejandos não conseguem fazer os portugueses felizes terão de ser substituídos por outros mais competentes, sérios e dedicados ao bem do povo!

Mas, p´ra trás mija a burra!

Salazar, Marcelo e os fachos já estiveram uma porrada de anos a dominar isto e deixaram este País no maior atrazo!
Já chega!

25 de Abril, sempre!
Fascismo nunca mais!