Busto trágico do púlpito nascente do refeitório do Convento de Cristo
Em tempos de crise que nunca mais acaba, antes se agrava, são cada vez mais as vozes que alertam para a necessidade de sermos mais produtivos, mais competivos, de termos mais qualidade. Na verdade, ao mencionarem qualquer uma destas noções, estão a falar de um mix, uma mistura, composta em geral por qualidade + variedade + originalidade + preço + rapidez + relação humana. Daqui resulta a conhecida expressão "relação preço/qualidade", que os franceses referem como "en avoir pour son argent". Algo como "foi caro, mas valeu o dinheiro".
No contexto europeu, Portugal padece nitidamente de falta de competitividade, pois como bem sabem os que nos visitam (e mesmo os compatriotas com a coragem da imparcialidade), temos por todo o lado preços exorbitantes em relação à qualidade das prestações ou produtos. Não acredita? Tem dúvidas? Então faça o favor de comparar os preços algarvios com os da costa sul de Espanha, tendo em conta o tal "mix", bem entendido!
Tal país, tal cidade ? Em Tomar é bem pior. Ainda habituados aos velhos tempos, em que havia uma clientela cativa, composta de militares e de funcionários, geralmente desprovidos de meios de transporte individuais, o mercado local (comércio, serviços, administração) continua a "esfolar os clientes", ou pelo menos a tentar, fornecendo em troca má cara, maus modos, falta de profissionalismo, fraca qualidade, pouca variedade, nenhuma originalidade. Exagero da nossa parte?
Tome-se como exemplo o sector da restauração, cujos preços são em média mais elevados do que por esse país fora, excepto nas praias, durante o Verão. A comida é salgada, a variedade é quase nula, a qualidade enfim, a presentação, pois!, o atendimento é do tipo "a despachar, que prókié bacalhau basta", das instalações é melhor nem falar. Nos serviços públicos então, é aquilo que todos sabemos. Salvo uma ou outra excepção (as Finanças, por exemplo, que têm vindo a fazer grandes esforços para melhorar o atendimento dos contribuintes) o panorama é trágico. São sempre os funcionários mais novos, menos experientes, menos qualificados que estão no "front office", para atender os "utentes". Regra geral sem qualquer formação profissional prévia ou subsequente. Cada qual desenrasca-se como pode. Isto porque, à medida que vai progredindo na carreira (por antiguidade, pois claro...), cada funcionário vai também procurando afastar-se o mais possível dos balcões ou secretárias onde os cidadãos se possam dirigir. Os melhores lugares, geralmente os do topo, são todos aqueles que estão fora das vistas do público. Está tudo dito.
Já na antiga tropa, do serviço militar obrigatório e da guerra em África, havia a grande divisão entre "os do ar condicionado" e "os operacionais". Só para terem uma ideia: o presidente Cavaco Silva foi do "ar condicionado" (esteve na Manutenção Militar, em Lourenço Marques, agora Maputo); Manuel Alegre, pelo contrário, foi "operacional" (esteve em operações em Angola e sofreu o baptismo de fogo na área de Nambuangongo). Agora digam lá que não se nota nas respectivas maneiras de ser e de estar? Ou julgam que o 25 de Abril foi feito pelos "operacionais" por mero acaso?
Conclusão? Cada qual tirará a sua, sendo certo que por este caminho não vamos lá. Ai não, não!
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