segunda-feira, 5 de julho de 2010

APANHA-SE MAIS DEPRESSA UM BRINCALHÃO......

O ditado não é bem assim, mas pareceu menos violento usar "brincalhão" em vez do termo mais conhecido. Temos por conseguinte um novo anexim: Apanha-se mais depressa um brincalhão do que um coxo. Mas vamos por partes. Cada coisa a seu tempo.
A ilustração supra mostra a Praça de S. Marcos, em Veneza, tal como a vê quem chega do aeroporto pelo barco rápido da carreira.
Veneza, como se sabe não tem automóveis, substituídos por barcos. Tem cerca de 90 mil habitantes + 210 mil em Mestre e na restante periferia. Recebe mais ou menos 50 milhões de turistas por ano, com picos de 50 mil diários nos sábados e domingos de Verão. Chegam pelo aeroporto internacional Marco Polo, a 12 quilómetros, pela Estação de Caminho de Ferro de Santa Lúcia, (com 30 TGV diários, para Florença, (2 horas), Roma (4 horas e 40), Nápoles (6horas), ou para Milão (hora e meia), Turim e norte da da Europa), ou nos barcos de cruzeiro e nas carreiras marítimas internacionais.

Um aspecto do Grande Canal, a principal via de comunicação de Veneza, numa foto bem matinal, quando ainda não havia vaporetos, nem lanchas-taxi, nem gôndolas.

A ponte do Rialto, sobre o Grande Canal, com a galeria comercial ao meio e uma larga via pedonal de cada lado. Para se ter uma ideia do nível de preços em Veneza, aqui vão três exemplos: Dormida + pequeno almoço para duas pessoas, num hotel de 3* muito próximo da Praça de S. Marcos, 220 euros por noite; 2 chás e 2 tartes de maçã numa esplanada da mesma praça, com música ao vivo, 52 euros; Almoço de prato único mais sobremesa e uma garrafa de água, num restaurante modesto, 35 euros por pessoa.
Munidos destas informações, façam o favor de ler pausadamente esta notícia do jornal I de hoje:

Já está lida e bem percebida? Então agora convém reparar neste mapa, que representa Veneza, a lagoa e a sua periferia:

O aeroporto Marco Polo, onde aterram os aviões Lisboa-Veneza, situa-se em cima, ao meio. A estação de caminho de ferro de Veneza-Santa Lúcia (60 euros por pessoa em TGV para Veneza-Florença), fica onde está a indicação SR11, em fundo azul. A Praça de S. Marcos fica exactamente por baixo das letras ne de Venezia. Aquela espécie de cobra a azul, que serpenteia entre Venezia e SR 11, é o Grande Canal. Finalmente, a tal Isola de Sant'Angelo, agora posta à venda pelo governo italiano, conforme informa a notícia, está assinalada a vermelho, no ângulo inferior esquerdo.
Temos assim que uma ilha com um panorama incomparável e a poucos quilómetros de Veneza, com as ruínas de um convento beneditino do século XII, a menos de meia hora do aeroporto internacional, dos TGV, dos barcos de cruzeiro e dos 50 milhões de visitantes anuais, "pode vir a ser vendida por 1,9 milhões de euros, caso seja permitido recuperar o mosteiro para construir uma casa grande." "Pode vir a...", é apenas uma hipótese, a verificar posteriormente.
Ao mesmo tempo, a câmara de uma pequena cidade provinciana, perdida a duas horas de comboio de Lisboa, sem aeroporto, nem porto, nem TGV, a mais de 2 mil quilómetros da Europa Central, e recebendo apenas cerca de 150 mil visitantes por ano, tantos como Veneza recebe em três domingos de Verão, pretende vender por 1,5 milhões de euros umas construções em ruínas, ainda por cima com a obrigação para o comprador de ali construir um hotel, de charme, com 60 quartos, e de pelo menos 4 estrelas. Só falta indicar os preços a praticar e a cor dos cortinados...
Mais um exemplo de que os nossos autarcas são cá uns brincalhões!
No fundo, são sempre as mesmas carências -falta de ideias, falta de realismo, falta de trabalho de casa, falta de honestidade intelectual, falta de coragem e falta de mundo.
Mas lá está: Apanha-se mais depressa um brincalhão do que um coxo. E com coisas sérias nunca se deve brincar. É o que costuma dizer o povo. E o povo é que escolhe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cá em Tomar não podíamos pôr a Câmara à venda? Com o recheio e tudo?

Anónimo disse...

Na mouche! O drama ou lento suicídio de Tomar está no texto. Para além do preço pedido pela ruína, como querem os "estrategas da economia tomarense" (e insistem no mesmo há 20 anos)que seja o turismo o motor de uma cidade com a dimensão desta? Como a economia faz ajustes automáticos, Tomar virá a ser uma aldeia com história (convento, janela, tabuleiros). Já há muitos exemplos dessa decadência de antigas cidades por esse País fora. Pedro Miguel