sábado, 10 de julho de 2010

CORVÊLO, O MERCADO, A CIDADE, A CRISE E OS TUBARÕES

Mercado para turistas, numa aldeia da Birmânia, agora Myanamar


Vendedores de carnes secas, num mercado vietnamita

Aspecto de um mercado, no Cambodja

Mercado das sextas-feiras, em Tomar

Esta peça teve sucessivamente três títulos, todos mais sucintos e percutantes -Corvêlo atirado aos bichos, Côrvelo lançado às feras, Corvêlo abandonado aos tubarões. Procurando evitar óbvias interpretações maldosas, em desacordo com o espírito de quem escreve, vingou o que figura acima, apesar de menos legível.
A nível nacional, Sócrates continua a fazer tudo o que pode para assegurar a sua sobrevivência política, sabendo muito bem que já não governa e que tem os dias contados como primeiro-ministro. Outro tanto acontece com Corvêlo de Sousa a nível local. Com o evidente e persistente agravar da crise por estas bandas, acossado por todos e por todos os lados, inclusivé até por muitos que tinham e têm a obrigação ética e partidária de o apoiar, o actual presidente já se deu conta de que está em pleno alto-mar, sem colete salva-vidas, sem barco, sem bóias, sem parceiros e sem saber nadar o suficiente.
Vai daí, geralmente tão discreto, resolveu passar à ofensiva, num campo que em boa verdade não é o seu -a comunicação social. A semana passada foi à Hertz, esta semana voltou lá. Visivelmente cansado, nota-se nas duas longas intervenções que acabou por dizer aquilo que queria, mas igualmente o que não queria. Acontece aos melhores, que a língua portuguesa pode ser particularmente traiçoeira.
Na semana anterior mostrou evidente embaraço e indecisão face ao caso do inquilino das retretes municipais de S. Gregório, tendo escorregado também para raciocínios do tipo tautológico, que apenas podem conduzir à confusão. Disse que o problema dos ciganos é muito complexo porque já se arrasta há muitos anos, ou precisamente o contrário: que já dura há muitos anos por ser muito complexo... A eterna questão das causas e das consequências, ou vice-versa.
Na passada quinta feira, sobre o mercado, declarou: a) - Que existe um plano de pormenor para o mercado, praticamente da responsabilidade do anterior presidente; b) - Que apoia a implementação desse plano; c) -Que esse plano prevê um Fórum, que também se pode chamar um centro comercial; d) -Que ainda não foi implementado por não ser consensual; e) -Que há uma coisa em que todos estamos de acordo: tem de haver um novo mercado; f) -Que "vale a pena discutir até ao limite e encontrar uma solução que seja aceite pela maioria."
Temos portanto que o próprio presidente acaba por admitir que a opção Fórum é minoritária entre os tomarenses, pelo que deve continuar-se o debate até se conseguir uma circunstancial maioria. Subentendido: tendo como núcleo central o Fórum proposto e previsto por António Paiva. Só nessa base se entende a flagrante meia-verdade da alínea e), pois aquilo que todos os tomarenses querem não é um novo mercado, nem um mercado novo. Querem o actual mercado, com a sua traça característica, recuperado, adaptado aos tempos que correm e aos que hão-de vir. É esta a verdade nua e crua. Sem subterfúgios. Qual fórum, qual carapuça! Há fórum em Torres Novas, em Leiria, em Aveiro, em Coimbra ? Pois há. E daí? Somos obrigados a seguir as mesmas pisadas? Quantas terras têm o Convento de Cristo? o Campanário de S. João? a Sinagoga? o Nabão? os Tabuleiros? Que raio de mania é essa de querer à viva força imitar as outras terras? Já não há inteligência em Tomar?
Pensa o nosso presidente (por enquanto?) que "o problema [do mercado] não terá sido resolvido porque implica um custo muito elevado...e opções que não são do consenso de todos." Nem nunca serão, felizmente! Abaixo o pensamento único!
E se em vez de continuar na busca de um consenso maioritário, virtualmente impossível na base do fórum, se partisse da estaca zero? Da situação tal como ela se apresenta, sem procurar adaptá-la a projectos oriundos de outras bandas e com outras intenções? Era bem capaz de ser mais rápido, mais barato e melhor, para todos os tomarenses que trazem a terra no coração.
Aqui vai a nossa modesta contribuição: 1-A população pretende que se mantenha a estrutura actual do mercado e o seu aspecto exterior, adaptando-o às actuais normas legais, a exemplo do que tem acontecido por essa Europa fora, onde de Veneza a Estocolmo e de Londres a Istambul abundam os mercados modernos, em edifícios com mais de 500 anos. O de Tomar só tem 60 anos e já não serve para recuperar? Estranho país este! 2 - Para efeitos de planeamento, o actual mercado deve ser dividido em unidades operativas. Assim: a) mercado interior; a1) hortícolas; a2) peixe; a3) carne; a4)enchidos e outros produtos elaborados (pão, bolos, comida pronta). b) mercado exterior; b1) vendedores permanentes; b2) vendedores ocasionais, consoante as estações. c) mercado grossista; c1) revendedores; c2) produtores. d) mercado das sextas-feiras;
d1) hortícolas; d2) alimentação em geral; d3) vestuário; d4) calçado; d5) móveis; d6) ferramentas e outros.
Para quê tanto detalhe? Para se poder prever, na medida do possível, o que fazer com cada uma das unidades operativas, uma vez o projecto final adjudicado, antes das obras, durante as obras, após a conclusão das obras. Parece tão simples, não parece?
A lamentável situação actual é que não pode continuar por muito mais tempo. Porque nos envergonha e nos torna indignos do nosso passado, aos olhos dos visitantes e dos nossos descendentes, que começam a olhar-nos com alguma comiseração.
E têm toda a razão. O problema do mercado é complexo porque é antigo; o problema dos ciganos é antigo porque é complexo; o problema do ColégioFeminino/Convento de Santa Iria é complexo e antigo, porque é antigo e complexo; as instalações provisórias da câmara, no prédio escavação, são antigas porque são complexas; os problemas do Bairro 1º de Maio e do da Sra. dos Anjos são complexos porque são antigos, e antigos porque são complexos... Andamos a brincar com quem?
Se não sabem tocar, passem a corneta a outro, dizia o velho cabo de corneteiros do 15... Não finjam!

9 comentários:

Anónimo disse...

Numa revista do Expresso de hoje:

"Cada cidade tem um som - o dos seus habitantes".

Em Tomar o som é o dos cemitérios.

Bravura Lusitana disse...

Completamente de acordo com o seu post.

O PNR defende o comércio tradicional e o comércio nacional. O fecho pela ASAE do mercado só demonstra a incompetência que graça pelos políticos locais que nos (des)governam. Com o fecho do mercado, é ver o povo, sem outra solução, a fugir para as grandes superfícies, para as lojas dos chineses, enfim. É ver os vendedores do mercado em aflição monetária ao fim do mês. É ver a desgraça em que isto se está a tornar.

Com o PNR, isto nunca teria acontecido.

Por Thomar, Por Portugal, SEMPRE !

Anónimo disse...

Com o PNR, a crise nacional não existiria!
Nem o desemprego, nem o PEC, nem eleições, nem imprensa livre, nem .....!!!!!!
Com o PNR, o silêncio sepulcral dos cemitérios era a regra geral!!!!!

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

Tenho para mim que é mesmo isto que os tomarenses querem e precisam:

"Querem o actual mercado, com a sua traça característica, recuperado, adaptado aos tempos que correm e aos que hão-de vir."

Nem mais (na minha opinião).

Ainda hoje, longe de Tomar, a maior parte das pessoas que comigo falam de Tomar, referem, invariavelmente,

Os "patos bravos"...
O Castelo
O rio Nabão
O Mercado
O União de Tomar

Nos últimos anos referem, às vezes, o Restaurante "Elias", onde nunca manjei, o seu prato Coelho com Bacalhau (acho que é um prato assim). Noutros tempos ia lá beber uns copos com chouriço e negrita assados e broa.

O Sr. Presidente da Câmara, que tenho por pessoa muito séria e educada, parece-me sem vocação para o cargo, e por isso muito hesitante, incapaz de interpretar o que é melhor para o futuro da cidade, de assumir-se como o seu líder. É sempre difícil e ingrato combater, em política, a ineficiência de alguém que é assim educado e sério. São tão raros...

Tomar precisa de um "Príncipe", ou um todo-o-terreno, um político à séria, mesmo que faça umas falcatruazinhas de pouca monta. Dizem que todos fazem, eu não acredito - só com provas. É quase sempre maledicência dos das listas B quando perdem para os das listas A, como disse um historiador/analista/jornalista/caçador de líderes/ que por acaso até detesto.

Tentei localizar um artigo na internet do DE ou JN que li meses atrás, onde os responsáveis das grandes superfícies diziam que em Portugal o mercado para os Foruns e G. Superfícies estava praticamente esgotado.

Quase sempre quando vou a Tomar, não resisto a ir ao Mercado comprar hortaliças,fruta, enchidos (a celebérrima morcela de arroz que gostava de encontrar à venda por estas bandas).

Ora aí está uma iniciativa que o Dinamizador Económico da autarquia, prometido por um actual Vereador, devia estimular a comercializar fora de portas, porque é muito famosa.

Quanto ao Primeiro Ministro José Sócrates, de quem sou apaixonado, tem governado bem, continua a governar bem, é o melhor dos últimos 180 anos e, concerteza, vai deixar de o ser no fim da legislatura, talvez em princípios de 2013. E não deve voltar a sê-lo. Portugal, depois dele, nunca mais será como antes e ficará na História pelas melhores razões.

Não tenho, diretamente, nada a ver com isso, mas o Sr. António Rebelo prometeu o ano passado divulgar o seu programa para Tomar e nunca o divulgou, a não ser num ou noutro caso específico de que vamos conhecendo o que pensa.

Sigo o blogue regular e atentamente, porque assim estou a par com tudo o que se passa aí de mais importante (é a minha terra de que gosto muito), acho extraordinário o seu esforço e clarividência que demonstra em quase todos os temas que aborda, tem um andamento que transborda a quietude da cidade, mas salta à evidência (pelo menos a mim) que por vezes se deixa comandar por um sentimento de desforra de não lhe darem o valor que me parece que tem para servir a cidade e os munícipes. A política é assim.

E por isso fiquei surpreendido quando recentemente me apercebi que há anos que não é militante partidário (do PS), e logo não pude deixar de enaltecer a abertura do PS local em abrir-lhe espaço para candidato a cabeça de lista do PS. Porque ráio deixou de ser militante?

O seu blogue - desculpe a franqueza - é bom de mais para ignorar a vida associativa, o desempenho individual de alguns tomarenses que não estão diretamente na política, etc. como meio de promover líderes de opinião, suas ações, acupando-se disso, pelo menos uma vez por mês.

E mais não digo, parece que o Benfica joga hoje, não sei a que horas, e não quero perder.

Anónimo disse...

Realmente as diferenças entre um mercado cambodjano e o tomarense ainda são sensíveis...por enquanto! Não houvesse ASAE e em breve teríamos as carnes e os peixes frescos expostos da mesma forma. Quanto ao resto é o que se sabe!!!

Unknown disse...

Para Cantoneiro da Borda da Estrada:

Pode crer que não há nos escritos de Tomar a dianteira qualquer ideia de revanchismo, ou coisa parecida. Procuro ser frontal mas justo e equilibrado. Para mim, uma boa jogada não deixa de o ser, só porque pertenceu a um adversário.
Tenho pena de não poder concordar consigo em relação ao primeiro-ministro. Julgo que começou bem, mas tem-se vindo a desorientar com a persistência e a crescente virulência da crise. Acontece aos melhores.
O meu afastamento do PS data do início dos anos 80, quando o actual ministro Jorge Lacão faltou à palavra que livremente tinha dado, em conjunto com o secretariado de Santarém. Nunca me desfiliei, mas um ano ou dois mais tarde recebi uma carta da sede nacional, na qual me informavam que o meu nome tinha sido abatido no ficheiro nacional do partido, em resposta ao meu pedido. Dado que nada pedira, calculei que houvera marosca, pelo que... até hoje. É a vida, diria o outro.
Não perca as próximas entradas, pois é quase certo serem os próximos tempos dos mais agitados de que há memória na área política em Tomar. Esteja atento aos próximos episódios da novela "Quem tudo quer, tudo perde", mais laranja, ou "As cadelas apressadas costumam parir cahorros cegos", mais rosa no punho.

Cumprimentos,

TaD

Anónimo disse...

Mas porque é que não devia haver um centro comercial?? Epá não é por termos uma superfície comercial em condições que somos iguais aos outros. Porque até mesmo o conceito é variável, e ai é que tem que haver a tal inteligência... E o emprego?? Qual seria a forma mais inteligente que conseguir trabalho, e a oferta? será que tenho de fazer 30 km sempre que quero ir ao cinema?!
Eu sei que não era isso que melhoraria muito a vida das pessoas mas pelo menos já havia alguma coisa. O convento e todo o passado nunca irão fazer fortunas.
E praias fluviais, não seriam fonte de rendimento, e vida nocturna vibrante, festivais medievais como o de Óbidos,etc, também não era tudo, mas já era alguma coisa.
E de lembrar que o ser humano também precisa de estímulos fáceis e mainstream.

Unknown disse...

Para Cantoneiro da Borda da Estrada - II:

Em tempo:

Por lapso, não respondi na peça anterior à sua observação sobre o programa que tenho para Tomar. Queira ter a bondade de me desculpar.
Julgo mais útil para todos aguardar que estejam reunidas outras condições, para então "abrir o livro". Se o fizesse agora, neste deserto de ideias, fecundas ou não, é quase certo que pegariam nalgumas partes dele, trucidariam tudo e depois diriam que afinal aquilo não prestava para nada. A velha história -a culpa é sempre dos outros. Os cavaleiros até são excelentes; os cavalitos, coitados, é que...
Haja paciência, pois como bem diz o povo "Tarde vem aquilo que nunca acontece" E já a tartaruga do La Fontaine dizia: -Devagar, que estou cheia de pressa!
Num país e numa terra onde a generalidade da população tem sérias dificuldades com a língua materna, qualquer documento programático pode constituir um verdadeiro e grave perigo... Tanto mais que todos (salvo raras excepções) vivemos numa permanente contradição, a saber: Em termos de moda, de construção, de habitação, de comida, etc. quanto mais moderno melhor. Inversamente, na área política, o que já foi e/ou o que está é sempre preferível ao que virá. Uma espécie de versão portuguesa truncada do "Je t'aime...moi non plus!"

Cidadão Tomarense disse...

Há muito tempo que o problema do mercado poderia estar resolvido. Aproveitando até fundos que esistiam em abundância. E não era preciso procurar terreno, pois onde está o actual mercado tinha bastante espaço, tendo sido reduzido em parte pela construção da Ponte Engenheiro António Paiva, para mim terá sempre este nome. era feito da seguinte maneira: tudo o que lá existe era arrasado; a cota do terreno era subida, a fim de evitar as cheias do rio; o novo edíficio do mercado seria construido ao longo da encosta, ao lado do Centro de Emprego, comtemplando três pisos, um piso terreo, virado para o rio, onde se efectuaria as cargas e descargas de produtos e o mercado abastecedor. um piso intermédio onde funcionaria toda a venda de produtos que a sua conservação exigisse frio, talhos e peixe. E por fim o ultímo piso, este com a frente e entrada para o parque de estacionamento em frente ao cemitério velho, onde seriam colocadas todas as vendas de produtos horticolas. Com este projecto existiria ainda a possibilidade de se construir um parque subterraneo, que teria uma grande utilização, ao contrario dos existentes actualmente. Deixaria de existir aquela vergonha, de em pelo seculo XXI ainda existirem vendedores a vender na rua, sem quaisquer condições higiénicas e contra as normas da UE. MAS COMO NÃO SOU ENGENHEIRO, ARQUITECTO OU POLITICO, ISTO NÃO PASSA DE UMA MERA OPINIÃO DE UM CIDADÃO TOMARENSE QUE PAGA OS SEUS IMPOSTOS E QUE CONTINUA A VER TUDO A DESAPARECER EM TOMAR SEM QUE NINGUÉM IMPEÇA.