sexta-feira, 23 de março de 2012

Evocação da Festa Grande Tomarense

Foto Manuel Subtil/Cidade de Tomar
Neste saco de gatos que por enquanto ainda é cidade, todo o cuidado é pouco. Vai daí, um preâmbulo é sempre útil. Este texto pretende ser útil. Servir para alguma coisa. Quanto mais não seja, ajudar os mencionados e outros a mudar de estilo, porque assim não vamos a lado algum. A não ser, talvez, à Nossa Senhora da Asneira. Mas qual o interesse de tal objectivo?

Teve uma boa ideia o director do TEMPLÁRIO, ao organizar o que devia ter sido um debate esclarecedor e fecundo sobre a Festa dos Tabuleiros. Infelizmente, foi semelhante a anteriores e, provavelmente, a outros que se lhe seguirão. Estilo manuelino, que prefere a curva e o arrebique à linha recta, muita parra e pouca uva. Ou nenhuma. Porque a mim, que me vim embora ao cabo de uma hora, me parece que estamos como dantes, agora com a urgência cirúrgica em Abrantes. Mas ainda assim melhor do que Ourém -agora segunda cidade do distrito em número de habitantes- que apesar disso nem hospital tem. O que pode querer dizer muita coisa ainda a acontecer... Siga!
Posso estar totalmente equivocado, insistindo porém até que mo demonstrem: Pouco ou nada adianta porfiar no debate de detalhes do tipo procissão ou cortejo, periodicidade, presença ou não do pároco, presidentes de junta à frente ou na rectaguarda, palmas ou não, e por aí fora. Tendo em conta a envolvência -o contexto, se preferem- do que se trata é de proceder de tal forma que os Tabuleiros deixem de ser uma despesa pública a fundo perdido, para passarem a ser um investimento privado com retorno transaccionável. Apenas e só. O resto não passa de música ambiente, com o intuito de facilitar a ilusão de que poderemos continuar a viver ao arrepio da modernidade, num país e numa terra a braços com uma crise cada vez mais profunda.
Municiado pelo sua rica experiência de mordomo, João Victal (citado por Cidade de Tomar) disse o essencial: "Só o apoio da Câmara Municipal é insuficiente para colocar na rua esta grande festa." Insuficiente e doravante impossível, creio eu. A menos que resolvam teimar na irracionalidade. Quem não tem dinheiro, não pode ter vícios. Sob pena de enveredar por caminhos ínvios.
Regressando ao TEMPLÁRIO, creio ser minha obrigação apontar dois aspectos menos convenientes, no âmbito daquele espírito segundo o qual amigo é quem não nos esconde a verdade,sobretudo quando ela não é agradável. Lê-se na última página, logo a abrir, que "Foi elogiada pelos participantes a iniciativa do jornal O TEMPLÁRIO". Foi com certeza. Mas elogio em causa própria...
Numa outra vertente, a das falsas evidências, lê-se já perto do final que "há um longo trabalho de investigação a fazer sobre a Festa dos Tabuleiros, porque só percebendo a sua origem e a sua evolução se pode garantir a sua continuidade." Trata-se indubitavelmente de um falso axioma. É possível e até desejável reformar a festa mediante a definição de novos objectivos, sem se ater a investigações legítimas, mas secundárias e redundantes em muitos casos.

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