terça-feira, 20 de março de 2012

O FIM DO ESTADO-PROVIDÊNCIA

Referi no último artigo que os problemas fundamentais do Estado-providência são o empobrecimento da classe média baixa, o custo insustentável da geração mais velha e as expectativas excessivas dos restantes, que podiam cuidar de si próprios. Tudo isto culmina na incapacidade de resposta do Estado-providência. Num ambiente de baixo crescimento, o Estado e o seu sistema bancário colapsam. Esta situação começou por se tornar evidente nos países do sul da Europa, mas actualmente já é também uma realidade em Inglaterra e nos Estados Unidos. O que fazer? Reclama-se habitualmente que os ricos contribuam mais. Até Obama assim procede. Porém, toda essa riqueza combinada será insuficiente para dar resposta. Na verdade, os ricos até já pagam a parte mais significativa. Nos Estados Unidos, cerca de 3% da população paga mais do que o conjunto dos restantes 97%  e 50% não pagam nada.
Os ricos pagarão para ajudar aqueles que verdadeiramente necessitam de protecção. Mas porque motivo a classe média há-de ter a sua parte paga por outros e continuar a beneficiar de um estilo de vida que não é merecido e que, para todos os efeitos, não é sustentável? Porque é que isso é considerado justo? Seja qual for o motivo, é certamente a atitude errada. É possível que os ricos devam, efectivamente, pagar mais, uma vez que o número de pobres tende a aumentar. Mas se o dinheiro lhes começar a ser tirado para todo o tipo de novos projectos de terceiros, que deveriam em primeiro lugar sustentar-se a si próprios ou, possivelmente, dar um passo atrás, acabarão por se mudar para regimes fiscais mais favoráveis. É imoral? Porquê?
Será que as minorias, mesmo sendo ricas, não têm nenhum direito ou protecção de propriedade numa democracia? Não será esta uma situação semelhante à dos bombeiros gregos, que se reformam aos 52 anos de idade, sustentados pelos alemães que têm actualmente de trabalhar até aos 67? As pessoas que noutros países viam os seus rendimentos aumentar todos os anos, mesmo quando existia pouco crescimento, chamam "solidariedade" a este tipo de ajuda por parte dos alemães, e consideram ter direito a ela. Mas o que querem dizer com isso? Na última década, enquanto arrumavam a sua própria casa, os alemães acabaram por ter poucos aumentos salariais. Aguentaram-se, quando a sua taxa de desemprego chegou aos 12,5%, sem pedirem ajuda externa. Actualmente a taxa de desemprego  alemã situa-se abaixo dos 7% e continua a descer. Apesar de dolorosas, as reformas estruturais resultam.
Na Holanda, uma vez por ano, em Setembro, a rainha senta-se no seu trono, lê o seu discurso e apela à moderação. Não é popular, mas ajuda: o desemprego situa-se nos 4,5% e o desemprego entre os jovens  não ultrapassa os 7%. É algo de realizável. Porém, também na Holanda, a época áurea do Estado-providência chegou ao fim e, naturalmente, as pessoas ressentem-se do facto de terem de financiar os países do sul da Europa, que nunca demonstraram qualquer moderação.
Porque razão têm as pessoas mais poderosas e influentes da nossa sociedade, ou simplesmente aquelas que mais trabalham e são modestas, de pagar para que outros possam beneficiar de prerrogativas erradas? Não deveríamos todos esforçar-nos, tanto quanto possível, e viver segundo as nossas possibilidades? Como pensamos poder chegar a algum lado sem essa aprendizagem? E se a necessidade de ajuda for uma realidade, não devemos primeiro demonstrar o que nós próprios já tentámos fazer? Parece-me que sem isso, não há lugar para reivindicações de "solidariedade".
E se não existir crescimento suficiente para o estilo de vida a que nos habituámos, ou ao qual julgamos ter direito, não teremos de reconhecer que devemos recuar? Eu próprio já o fiz diversas vezes. Porque há-de ser isso sempre tão terrível, se a alternativa é atingir o limiar da pobreza? Os nossos pais viviam com muito menos e, numa fase posterior da economia, talvez haja novamente lugar a melhorias.
Entretanto, os bem sucedidos deveriam deixar de se preocupar com a ostentação, que torna os outros infelizes e invejosos. É um péssimo hábito do sul da Europa, imitado em toda a escala social. É seriamente contraproducente e não conduz a absolutamente nada que seja útil. É estúpido. Há muito que descobri, nas minhas aulas nos Estados Unidos, que aqueles que parecem mendigos são afinal os mais ricos. É essa a melhor maneira de proceder.

Jan Dalhuisen, Professor catedrático na Universidade da Califórnia (Berkeley), no King's College (Londres) e na Universidade Católica (Lisboa)
Jornal i, 20/03/2012, página 13

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