sábado, 31 de março de 2012

Uma metáfora tomarense




Ali, na extremidade oriental da cidade antiga, o ex-Convento de Santa Iria e anexos mais recentes é uma amostra do estado a que chegou a outrora orgulhosa e opulenta urbe gualdina: degradação, mau aspecto, sujidade, ruínas, desmazelo. Neste caso até com primaveris flores roxas, evidentemente funerárias. 
Porquê tudo isto? Decerto por incúria e desinteresse dos tomarenses, sempre com a defesa de Tomar na boca, mas quanto ao resto... Há também a considerar a nefasta homonimia conventual. Santa Iria, pode muito bem ter originado a bem conhecida série de equívocos. Iria ser vendido por um milhão e meio de euros, iria ser requalificado, iria dar lugar a um hotel de charme de pelo menos quatro estrelas e sessenta quartos, iria prestigiar toda aquela zona, iria encher de sonhos muitas cabeças nabantinas, iria permitir vencer folgadamente mais umas quantas autárquicas. Contas feitas, irá muito provavelmente crucificar na praça pública os principais causadores de tamanho despautério.
Fruto de imponderáveis alheios à vontade dos senhores autarcas? É possível. Contudo, quem quer os fins quer os meios, coisa que não entendem os senhores técnicos superiores da autarquia, que não se coibem de abusar da evidente ignorância dos eleitos, com objectivos que me abstenho por enquanto de esmiuçar.
E depois há detalhes que não enganam. Se o triste e lúgubre aspecto do ex-convento se pode atribuir à crise que atravessamos, aqueles restos de pato bravo ali num arco da ponte velha, não passam de um lamentável caso de desmazelo. Anteriormente alimentados pela autarquia, há já algum tempo que patos e pombos têm de se fazer à vida para conseguir alimentar-se. Assim deve ser sempre. E foi o que fizeram. Aproveitaram o cadáver e viraram canibais. Exactamente como acontece com certos tomarenses, que se vão alimentado da miséria alheia...

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