sábado, 31 de março de 2012

GROTESCO E GRAVE

A Comissão Nacional do PS aprovou hoje os novos estatutos do partido. Neles se estabelece que os candidatos a presidente de câmara e a deputado passam a ser escolhidos por voto directo e secreto de todos os filiados. É mais um passo a caminho da nova realidade europeia, onde as chamadas eleições primárias para designação dos candidatos até já são abertas a todos os eleitores, independentemente de estarem ou não inscritos numa formação política. Uma boa notícia portanto, para todos os que ambicionam o melhor para a sua terra e para o seu país.
Infelizmente, como de resto já vem sendo habitual, nesta mesma semana, alguns acontecimentos tomarenses demonstram que muitos eleitos locais continuam virados para o passado, agindo deliberadamente ao arrepio do progresso e da legalidade democrática.
A Misericórdia de Tomar, que até ostenta o título de "Santa Casa", ignorando as mais elementares regras do Estado de Direito, apesar de avisada, prosseguiu com a sua cruzada anti-irmão Sérgio Martins. Graças à ignorância crassa da maioria dos irmãos, para mais condicionados pelo facto de serem salariados da instituição, conseguiu aprovar um procedimento disciplinar contra aquele irmão, tendo em vista a sua exclusão. Por ser desonesto? Incompetente? Cúpido? Não! Apenas por delito de opinião. Em total contradição com o disposto na Constituição da República e demais legislação em vigor.
Trata-se de uma instituição privada, alegarão alguns beatos, em defesa do seu irmão-provedor. Pois trata. Mas que recebe substanciais subvenções do governo, pagas graças aos impostos de todos nós. Está por conseguinte sujeita ao escrutínio do eleitorado, bem como ao império da Lei, que a todos obriga por igual. E não pode alegar ignorância para daí sacar benefícios, como tenta fazer ao aprovar que doravante as actas deixarão de ser lidas perante a irmandade, segundo informação de fonte credível.
Também esta semana, na reunião da autarquia, voltou a ser debatida a questão da alegada corrupção em matéria de licenças de construção. Membros do mesmo partido há longos anos, tanto o provedor da dita Santa Casa (que é igualmente vice-presidente da Assembleia Municipal, o que lhe devia inculcar mais respeito pelas leis do país, sob pena de envergonhar os seus pares), como o presidente Carlos Carrão denotam acentuada alergia à legalidade democrática em que vivem. Perante a reiterada denúncia de corrupção, feita presencialmente por um munícipe, o autarca laranja limitou-se responder que quem acusa assume a responsabilidade daquilo que diz. Inquérito interno? Suspensão do ou dos funcionários apontados? Pedido de elementos adicionais? Para quê?! Só dá chatices, pensará o senhor alcaide, do alto dos seus 15 anos de exercício do poder. Ou da sua suposta omnipotência?
Dias mais tarde, o mesmo autarca não revela todavia qualquer rebuço em publicamente acusar o governo, de forma velada, de pretender paralisar as autarquias com a nova Lei dos Compromissos. Como se as autarquias em geral fossem extraordinárias montras de virtudes, democráticas ou nem tanto. Há gente que se tivesse tanta capacidade de estruturar e implementar projectos, como revela ter em matéria de lata, estaríamos agora de certeza em bem melhor situação económica. Mas quê; quem não se enxerga, julga que todo o mundo é seu, que está acima da Lei e que tudo lhe é permitido. 
Por isso estamos como estamos.
Para mais informação sobre todas estas tristezas, clicar aqui, aqui e aqui.

Uma metáfora tomarense




Ali, na extremidade oriental da cidade antiga, o ex-Convento de Santa Iria e anexos mais recentes é uma amostra do estado a que chegou a outrora orgulhosa e opulenta urbe gualdina: degradação, mau aspecto, sujidade, ruínas, desmazelo. Neste caso até com primaveris flores roxas, evidentemente funerárias. 
Porquê tudo isto? Decerto por incúria e desinteresse dos tomarenses, sempre com a defesa de Tomar na boca, mas quanto ao resto... Há também a considerar a nefasta homonimia conventual. Santa Iria, pode muito bem ter originado a bem conhecida série de equívocos. Iria ser vendido por um milhão e meio de euros, iria ser requalificado, iria dar lugar a um hotel de charme de pelo menos quatro estrelas e sessenta quartos, iria prestigiar toda aquela zona, iria encher de sonhos muitas cabeças nabantinas, iria permitir vencer folgadamente mais umas quantas autárquicas. Contas feitas, irá muito provavelmente crucificar na praça pública os principais causadores de tamanho despautério.
Fruto de imponderáveis alheios à vontade dos senhores autarcas? É possível. Contudo, quem quer os fins quer os meios, coisa que não entendem os senhores técnicos superiores da autarquia, que não se coibem de abusar da evidente ignorância dos eleitos, com objectivos que me abstenho por enquanto de esmiuçar.
E depois há detalhes que não enganam. Se o triste e lúgubre aspecto do ex-convento se pode atribuir à crise que atravessamos, aqueles restos de pato bravo ali num arco da ponte velha, não passam de um lamentável caso de desmazelo. Anteriormente alimentados pela autarquia, há já algum tempo que patos e pombos têm de se fazer à vida para conseguir alimentar-se. Assim deve ser sempre. E foi o que fizeram. Aproveitaram o cadáver e viraram canibais. Exactamente como acontece com certos tomarenses, que se vão alimentado da miséria alheia...

sexta-feira, 30 de março de 2012

REALIDADE POLÍTICA VIRTUAL


É-me penoso ir por semelhante trilho, mas que hei-de fazer? Há uma semana Carlos Carrão respondeu a perguntas d'O TEMPLÁRIO. Esta semana foi a vez d'O MIRANTE. Entretanto, numa reunião de informação realizada em Tomar, foi-lhe dado um recado: "Carlos Carrão, um presidente de câmara sem problemas, porque o que não tem remédio, remediado está." Ou  não percebeu ou simula não ter percebido. E vai insistindo em fórmulas gastas, que não prestigiam nada nem ninguém. Como a da capa supra: "Vou provar que sou o candidato ideal". Estará a  mangar com os eleitores? Ou acredita mesmo naquilo que disse? Vai provar como? Onde? Quando? Com quem?
No dia a dia da urbe constata-se ser de profundo desânimo a tendência geral. Falta de limpeza, desemprego, encerramento de estabelecimentos, prédios arruinados... E uma autarquia cujo executivo não ata nem desata. Os dois eleitos socialistas dizem estar fartos de aturar os outros. Os IpT não querem nem por sombras fazer acordos duráveis com o PS ou com o PSD. O PSD, enfim, nem conseguiu manter a mancebia com o PS nem convencer os IpT para um amiganço de interesses. Mas todos estão em fase Duracell: E duram e duram e duram! Para além das senhas de presença e dos fins de mês, ninguém entende para quê.
Numa tal situação, reafirmar que pretende ser o próximo cabeça de lista laranja, após ter demonstrado ser o candidato ideal, não passa afinal de uma infantilidade política. Com efeito, tendo em conta a gravidade da situação, para se conseguir recuperar alguma da credibilidade perdida já não basta ir assumindo atitudes narcísicas, daquelas em que o próprio umbigo é implicitamente considerado como o centro do Mundo. Acabado há muitos meses o reinado das farturas e das vacas gordas; doravante sem dinheiro para extravagâncias tipo passeio/comezaina/tintol/bailarico à custa dos contribuintes, o que o presidente em exercício deverá fazer é informar com verdade todos aqueles que por aqui restam ainda. Dizer-lhes que medidas tenciona propor para ajudar à recuperação económica. Indicar quando e como serão financiadas e implementadas. Acrescentar, se possível, quais são as grandes linhas da sua acção até final deste mandato, uma vez que sempre tem recusado demitir-se, assim obstando a eleições intercalares.
Cuidando benzer-se, parece-me que partiu o nariz. Pelo caminho que as coisas levam, vai chegar ao final do mandato mais queimado que o carvão, o que não só o impedirá de ser escolhido para liderar a lista PSD, como até de a integrar. Quinze anos é uma eternidade em política, sobretudo quando as coisas começam a descarrilar, como é caso. Se exceptuarmos alguns beatos-laranja, os eleitores restantes estão fartos de tanta inépcia, de tanta teimosia, de tanto cabotinismo. Estão cansados de tanto paleio. Querem e precisam de soluções. Quanto antes!

REALIDADE E FANTASIA

 Povoação americana típica. Rua Principal. Ao fundo Castelo da Branca de Neve

 Uma exploração mineira no velho oeste americano

 Barco no Rio Mississipi

 Uma sepultura memoriada num cemitério do Velho Oeste

 Estabelecimento comercial no Velho Oeste

 Estalagem Mexicana

 Galeão dos piratas. Ao fundo fortaleza espanhola.

 Músicos piratas

 Avião espacial

 Submarino Nautilus
 Aspecto da rua principal às quatro da tarde.

O acampamento de Indiana Jones. À direita o Jeep.

Numa altura em que é cada vez mais nítida a fuga da população  -particularmente dos políticos- para um mundo de fantasia, o que se compreende, dado que a realidade é cada vez mas desagradável e desconfortável, nada melhor que um regresso ao mundo da nossa infância e  adolescência. Cowboys, velho oeste, Branca de Neve, Piratas, Ficção científica, Vinte mil léguas submarinas, Indiana Jones...
Tudo genuinamente falso! A 60 quilómetros de Paris, na Eurodisney. 14 euros ida e volta no metro+RER. Entradas a 71 euros para adultos, 61 euros para crianças, 50 euros para maiores de 60 anos. Sandes a 6 euros, garrafas de água EVIAN (médias) a 3 euros. E mesmo assim, há milhares de visitantes todos os dias. O sonho comanda a vida...o pior é o rescaldo!

domingo, 25 de março de 2012

DESLEIXOS

Somos a única cidade do país e da Europa com legitimidade para içar a Balsa dos Templários, pois outrora fomos capital dos também apelidados Pobres Cavaleiros de Cristo, que nunca foram extintos em Portugal. Inexplicavelmente, por ocasião de mais um festival de tunas, que os seus organizadores baptizaram Templário, em vez de pendurarem o estandarte templário -a citada balsa- nos Paços do Concelho e no Castelo-Casa da Ordem, resolveram apresentar um indecoroso pano bicolor, no qual a dupla acha em cruz foi trucidada, uma vez que não tem lugar para os cabos respectivos. É mais uma amostra dos dislates que lentamente mas com temível eficácia vão desacreditando Tomar.

Outro detalhe que não nos abona nada em termos de turismo cultural. Por distraídos que sejam os visitantes, não deixarão de notar que a qualidade e o rigor não figuram entre as nossas principais características...

Há uns anos atrás, já nem sei quantos, procedeu-se a melhoramentos nas casas de banho do jardim do Castelo, construídas nos anos 30 do século passado. Essas obras incluíam a ligação à rede de esgotos a colocar na Mata dos Sete Montes. Infelizmente sucederam dois percalços: 1 -  durante a abertura da vala para instalar o colector, apareceram uns vestígios antigos, que continuam por identificar; 2 - Os esgotos entretanto mandados instalar pela autarquia na Mata dos Sete Montes só têm colector de águas pluviais.
Como uma desgraça nunca vem só, o empreiteiro acabou a modernização das casas de banho, ligou-as a uma fossa e foi à sua vida. Quanto aos vestígios surgidos, aguardam há anos que alguém se volte a lembrar deles. Com tantos funcionários superiores na Ajuda, o IGESPAR é aquela máquina!

 Em Dezembro de 2010, um tornado derrubou uma parte do coroamento do Coro Alto Manuelino. Apesar de fortemente interessados em adjudicar quanto antes a limpeza de todo o exterior -incluindo a Janela do Capítulo- os senhores dirigentes instalados no Palácio da Ajuda não parecem nada preocupados com a reposição do aspecto anterior.  Afinal é apenas um dos monumentos portugueses Património da Humanidade e a reparação até é de pouca monta. Se fosse a tal limpeza, ou qualquer outra adjudicação igualmente sumarenta, já teria sido feita há muito. Assim, aguarda melhor sorte há 16 meses. Com quase quatro dezenas de funcionários em Tomar, O IGESPAR é aquela máquina!

Igualmente no Convento de Cristo, mas cá fora, o mesmo tornado derrubou várias árvores, algumas centenárias. 16 meses mais tarde, tudo continua praticamente na mesma. O IGESPAR é mesmo aquela máquina!

O próximo texto será publicado só na próxima sexta-feira, dia 30, pela manhã. Até lá! 

Perderam a tramontana

Perderam a tramontana, que corresponde -é sempre bom esclarecer, apesar de estarmos numa terra de "barras" em vocabulário"- ao mais corriqueiro desnortearam. Quem? Os órfãos do governo e da realidade virtual anterior. Até o blogue jumento.blogspot.com, que era uma coisa muito bem feita, com excelentes fotos e textos escorreitos, agora tem tendência para a bordoada no verosímil e uma acentuada preferência por intervenções tipo "Cantoneiro da Borda da Estrada", quando se põe a louvar o seu Zèzito.
Aqui pela Nabância, arautos do progresso, sibilinamente manipulados por antigos maoistas nunca realmente reconvertidos, que fingem ignorar o que se passa na China, no Vietnam, no Laos, em Cuba, ou nesse diamante da coroa que é a Coreia do Norte, agora proveitosamente liderada pelo Grande Sucessor; combalidos pela perda das promoções automáticas e outros percalços, tanto a nível nacional como local, adoptaram o velho refrão, anterior ao 25 de Abril. "Nós queremos a mudança de regime. Não queremos é esta mudança" foi santo e senha de uma certa oposição durante anos e anos. De tal forma eficaz que, sem os militares de Abril, que impelidos pelo assobio das balas, causticados pelas savanas, fartos de noites ao relento e nutridos a rações de combate, decidiram ultrapassar as balelas do costume e actuar no terreno, tudo leva a crer que ainda hoje cá teríamos os sucessores de Marcelo Caetano a governar-nos.
À mudança de regime sucedeu agora a reforma hospitalar, cuja suspensão imediata foi exigida, mal tinha começado a ser implementada. Mas a clássica estrutura frásica manteve-se, porque somos um povo de conservadores empedernidos: "Somos favoráveis à reforma hospitalar. Não queremos é esta reforma". E de início, alguns membros do Conselho de Administração do CHMT, menos habituados ao tomarês de ocasião, chegaram mesmo a dizer e a reiterar que até agradeciam a apresentação de propostas contendo soluções alternativas, que prometiam estudar e aplicar, caso não implicassem aumento de encargos. Apareceu alguma? Claro que não! Aquela música do "Não queremos é esta reforma" não passa afinal de um recurso para escamotear a real posição dos seus defensores: tudo deve continuar como até aqui. O tal conservadorismo incurável...
Entrementes, terceira greve geral em três meses, esta última correu mesmo mal, foi um flop. Vai daí, nos areópagos locais o assunto deixou de ser a contestação ao governo ou à autarquia, para se concentrar num facto que -tudo aponta nesse sentido- vai provocar um mudança fundamental em todo o mundo civilizado e arredores. Nada mais, nada menos que a minha nomeação para a Comissão de Saúde do CHMT. A qual, segundo deduzi das sucessivas intervenções gravadas, (que vão ficar para a alegre história local), nem sequer sabem muito bem o que seja ou para que irá servir. Há gente que nunca mais consegue enxergar-se...
Em 1982 abandonei a liderança do PS local, farto dos senhores de Santarém e irritado com a pasmaceira tomarense. Em 2009 fui constrangido a regressar à actividade política pela triste conjuntura a que entretanto se chegara. Três anos mais tarde não posso dizer que as coisas tenham  melhorado. Pelo contrário. E com os recursos humanos conhecidos, não sei não!
Má língua? Pessimismo crónico? Ou apenas verdades incómodas? 

sábado, 24 de março de 2012

Recados para Tomar

Vítor Rios/Global Imagens/Diário de Notícias

O Diário de Notícias de hoje inclui uma entrevista com Miguel Relvas, ministro adjunto, presidente da Assembleia Municipal de Tomar e nosso conterrâneo por opção sentimental. Das suas declarações, passo a destacar três passagens, por me parecerem óbvios recados para Tomar. Sobretudo o terceiro. "Se [nas próximas autárquicas] o PSD se fechar sobre si próprio, se achar que... ... não precisa de se rejuvenescer, que não precisa de ir buscar independentes, que basta a prata da casa, vai ter maus resultados."
"Nas próximas autárquicas está em causa um novo modelo de governação do poder local em Portugal. As autarquias têm de ser agentes do desenvolvimento local. Têm de ser contribuintes líquidos para gerar riqueza e não para gerir riqueza."
"São casos [de eventuais candidaturas a outras câmaras] que são óbvios. O dr. Moita Flores é uma pessoa muito bem preparada, que conheço bem. Pode-me perguntar sobre outros casos. Se perguntar "António Costa, se sair de Lisboa, é um bom candidato em Cascais?", eu digo que sim! Joaquim Raposo é um bom candidato a Oeiras? É um socialista, está numa das câmaras que tem uma das melhores situações económico-financeiras em Portugal, é um mau candidato? Não!
Agora, se me perguntar, sobre Tomar, de onde eu sou, se o presidente da câmara é um bom candidato a Torres Novas, digo logo que não! As rivalidades são tão grandes!"
E aqui temos, em apenas uma dúzia de linhas, tudo aquilo que os políticos da urbe nabantina não podem ignorar, lá para o último trimestre do próximo ano. Antes de tudo que, em virtude do evidente desgaste de todas as formações políticas, será imprescindível lançar outros valores, gente ainda não queimada no braseiro da gestão municipal, bem como independentes, naturalmente com arcaboiço à altura das circunstâncias. 
Logo a seguir aparece a chamada de atenção para a inevitabilidade de apresentar projectos realistas e fecundos, susceptíveis de gerar riqueza, bem estar e emprego, por esta ordem. Por outras palavras, adeus gestores de farturas, boa dia administradores poupados, eficazes e capazes. Acabou a época em que bastava gerir as verbas disponíveis. Doravante é indispensável e prioritário gerar riqueza.
Finalmente, só não compreenderá quem não quiser. Foi o próprio Relvas que levou a conversa para esse ponto específico: "Se me perguntar sobre Tomar, de onde sou..." Para logo acrescentar que o presidente nabantino não seria um bom candidato a Torres Novas. Devido à grande rivalidade entre as duas cidades, claro. Mas aproveitando para ir prevenindo Carlos Carrão em relação ao seu futuro político, bem como o PS tomarense, no que se refere à eventual candidatura do torrejano Rodrigues à autarquia nabantina. Podendo parecer que não, está a prevenir que é imensa a distância entre o vale do Almonda e o vale do Nabão. Com nítida vantagem do Almonda até agora. 

Perlenga fraternal

Distintíssimos, honestíssimos, justíssimos e ortodoxíssimos Irmãos!
Permiti que este humilde e rude servo vos enderece a palavra, de joelhos e em atitude reverencial. Vós sois, como é bem sabido na comunidade, justos e sábios, enquanto eu não passo de um reles pecador sem remédio. Mea culpa, mea culpa, mea tã grande culpa! Abrenuntio!
Apesar de envergardes hábitos de diferentes confrarias -laicas ou profanas, para o caso tanto dá- andais todos singularmente nervosos nestes últimos tempos. Os irmãos misericordiosos, a braços com os problemas da botica e acossados por um numerário da Santa Casa, resolveram até retroceder alguns séculos, recorrendo às práticas dos Tribunais do Santo Ofício, que Deus haja! Apontados na blogosfera - a ágora dos tempos que vivemos- foram lestos na resposta. Já não podendo recorrer à fogueira nem sequer ao púlpito, serviram-se da tradicional correia de ligação aos irmãos aventaleiros. Um também numerário outrossim acima de qualquer suspeita. Que retirado da política é desde há anos estipendiado  como colaborador de empresas ligadas a outras com as quais celebrou sumarentos contratos enquanto eleito. Maneira agradável de juntar à pensão de aposentação como político um substantivo proveito mensal.
Numerários há anos, todavia ainda assim noviços nas manhas deste baixo mundo, os irmãos do esquadro e do compasso deixaram-se embalar pela música celestial e vá de zurzir neste vosso servo. E até um outro irmão, misericordioso e gazeteiro, com sérios problemas na gazeta, resolveu tentar alertar os pregoeiros de serviço, procurando sem êxito transformar-me -a mim, velho carneiro mocho, cansado e sem préstimo- em cordeiro pascal! 
Esta terra tomarense está cada vez mais insalubre. É até muito provável, cuido eu, que a chuva tenha deixado de aparecer por aqui, devido a ter confundido a urbe com um deserto, uma vez que a cáfila tem vindo a desenvolver-se. Valha-nos isso? Erro vosso, meus prendados e distintos irmãos. Até os antigos cameleiros, agora o que querem são motos, automóveis, aviões e barcos de recreio, para maior honra de Mafoma. Só por aqui é que cada vez pior...
Num mundo assim, cada vez mais materialista, mais laico e mais problemático, consenti irmãos, que vos diga o que penso. Aos ofendidos irmãos misericordiosos (incluindo o também gazeteiro), ressentidos com as arremetidas de um dos deles, não posso deixar de recomendar sinceridade, frontalidade, honestidade e tolerância infinita. Bem como providências para a botica, onde já se nota de quando em vez alguma falta de remédios; e solução adequada para a gazeta, pois casa onde falta o pão há meses, todos ralham e ninguém tem razão. 
Aos aventaleiros envolvidos na política, (ou vice-versa?), aproveito para anunciar a triste verdade, no caso da reforma hospitalar: Urgência Cirúrgica, Ortopedia e Medicina Interna foram-se de Tomar, como única maneira justa, rápida e definitiva de evitar poucas vergonhas, a coberto de curiosas interpretações da legalidade e nalguns casos nem isso. Como aquelas próteses despachadas para Tomar que depois por artes mágicas apareciam no Entroncamento...
Quando a Comissão de Saúde Unitária reivindica a suspensão imediata da reforma do CHMT, no fundo é isto que está a defender: O retorno a situações vergonhosas que duraram anos e encheram muitas algibeiras, mas agora acabaram. Não porque o novo Conselho de Administração tenha querido beneficiar Abrantes, ou Torres Novas, ou ambas; não porque tenham feito escolhas políticas. Apenas porque perceberam ser mais justo, mais honesto e mais barato para os contribuintes. Pois se há médicos especialistas disponíveis a 30 euros à hora e aqui em Tomar havia alguns a cobrar 70, qualquer leigo, irmão ou não, repara na chaga.
Perdoai-me esta franqueza, prezados irmãos, queridos conterrâneos e outros que nem uma coisa nem outra. Como bem sabeis desde sempre, quem me procura, acha-me! Da próxima vez tende mais cuidado e a resposta será mais cordata.

Beija-vos respeitosamente as mãos este humilde 

Irmão António, da Confraria dos Livres Pensadores

sexta-feira, 23 de março de 2012

Obstinação doentia

Tal como era previsível, foi ontem chumbada na Assembleia da República a resolução apresentada pelo PCP, que propunha a suspensão da reforma do CHMT. Com a muito significativa particularidade de o PS ter votado contra, juntamente com o PSD e o CDS. Apesar disso, a Comissão de Saúde unitária da AM de Tomar não desarma, sabendo embora que a citada reestruturação está concluída.
A Rádio Hertz noticia aqui que "Ainda assim, este projecto nada tem a ver com a discussão da petição, que ainda será votada na A.R." E acrescenta: ..."serão apresentados diversos argumentos de peso por parte da delegação tomarense."
É claro como a água que o projecto de resolução apresentado pelo PCP, a recepção dos tomarenses na A.R. pelo seu vice-presidente António Filipe, por acaso também do PCP, bem como a coincidência da pretensão -a suspensão imediata da reforma do CHMT- não passa disso mesmo. Coincidência fortuita, sem dúvida alguma. Tal como o estilo  e o vocabulário de suspeita, conspiração e rancor, apanágio de bem conhecidas práticas e  adoptado nas manifestações levadas a cabo em Tomar.
Dado parecer-me que alguns elementos, senão mesmo a maioria da Comissão de Saúde de Tomar, ainda não perceberam que estão a ser manipulados, nem compreendem ou simulam não compreender as reais implicações daquilo que reivindicam, o melhor é abrir o livro. Parcialmente, por enquanto.
Os argumentos da comissão unitária tomarense poderão ser realmente de grande peso, mas a própria comissão não tem peso algum. Nomeadamente porque apareceu tarde e tem trabalhado mal, pelo que perdeu três oportunidades soberanas. Ei-las:

1 - Nos limites da legalidade
Desde Fevereiro de 2008 (para não dizer antes), que se tornou claro haver no Hospital de Tomar determinadas práticas no limite da legalidade, tendo por fim designadamente o pagamento de chorudas somas provenientes de horas extraordinárias, que eram da ordem de 980 euros/funcionário/fim de semana. Este autêntico maná era tão apetitoso que os seus beneficiários até conseguiram ir protelando a implementação da "Reforma Correia de Campos", que acabava com "a mama". 
Mais recentemente, quando o actual Conselho de Administração conseguiu trucidar algumas práticas mais onerosas, até houve ameaças de chantagem entre cidadãos que fizeram o juramento de Hipócrates, o que mostra bem, não o peso da argumentação, mas o dos interesses em jogo. 
A Comissão de Saúde Unitária nunca até agora se incomodou com estas situações. Porque será?

2 - Reivindicativos mas muito atrasados
Se a Comissão de Saúde Unitária estivesse genuinamente preocupada com a saúde e com a população tomarense, logo que tomou conhecimento da tomada de posse do actual Conselho de Administração do CHMT, teria procurado garantir que a reforma a implementar não seria a de Correia de Campos tal e qual, por haver dúvidas de que a mesma pudesse vir a beneficiar Abrantes e Torres Novas, autarquias socialistas e da área de influência de Jorge Lacão, no governo aquando da publicação do citado diploma, em detrimento de Tomar, mal gerida pelo PSD, mas já com Miguel Relvas entretanto no governo, o que poderia fazer toda a diferença.
A Comissão de Saúde nunca até agora se interessou por este aspecto. Desde o início, apenas lhe parece interessar a suspensão imediata da reforma. Ao mesmo tempo que a CDU pretendeu destituir Relvas da presidência da AM.  Porque será?

3 - Uma atitude agreste e uma linguagem inadequada
Nas democracias ocidentais, desde há muito que a negociação é permanente, discreta, cordata, entre gente lhana e de boa companhia. Como sempre deveria ser, pois ninguém quer dar o braço a torcer em público. Mas infelizmente não é isso que tem acontecido por estas bandas. A Comissão Unitária de Saúde, para além da sua estranha composição com gente do PS e do PSD a votar contra os respectivos partidos, sempre tem tido atitudes e usado um vocabulário rude, conspirativo, de suspeita, de rancor e de confronto, totalmente inadequado para os fins que os eleitos locais dizem pretender alcançar. E que culminaram com alguns dos seus membros a usarem a velha retórica do tipo "quem não é por nós, é contra nós", ao saberem da composição da Comissão de Ética. Porque será?
Abreviando, "tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado!" E não prestigia ninguém. Nem Tomar, nem os eleitos, nem quem os elegeu. Pobre terra!

Evocação da Festa Grande Tomarense

Foto Manuel Subtil/Cidade de Tomar
Neste saco de gatos que por enquanto ainda é cidade, todo o cuidado é pouco. Vai daí, um preâmbulo é sempre útil. Este texto pretende ser útil. Servir para alguma coisa. Quanto mais não seja, ajudar os mencionados e outros a mudar de estilo, porque assim não vamos a lado algum. A não ser, talvez, à Nossa Senhora da Asneira. Mas qual o interesse de tal objectivo?

Teve uma boa ideia o director do TEMPLÁRIO, ao organizar o que devia ter sido um debate esclarecedor e fecundo sobre a Festa dos Tabuleiros. Infelizmente, foi semelhante a anteriores e, provavelmente, a outros que se lhe seguirão. Estilo manuelino, que prefere a curva e o arrebique à linha recta, muita parra e pouca uva. Ou nenhuma. Porque a mim, que me vim embora ao cabo de uma hora, me parece que estamos como dantes, agora com a urgência cirúrgica em Abrantes. Mas ainda assim melhor do que Ourém -agora segunda cidade do distrito em número de habitantes- que apesar disso nem hospital tem. O que pode querer dizer muita coisa ainda a acontecer... Siga!
Posso estar totalmente equivocado, insistindo porém até que mo demonstrem: Pouco ou nada adianta porfiar no debate de detalhes do tipo procissão ou cortejo, periodicidade, presença ou não do pároco, presidentes de junta à frente ou na rectaguarda, palmas ou não, e por aí fora. Tendo em conta a envolvência -o contexto, se preferem- do que se trata é de proceder de tal forma que os Tabuleiros deixem de ser uma despesa pública a fundo perdido, para passarem a ser um investimento privado com retorno transaccionável. Apenas e só. O resto não passa de música ambiente, com o intuito de facilitar a ilusão de que poderemos continuar a viver ao arrepio da modernidade, num país e numa terra a braços com uma crise cada vez mais profunda.
Municiado pelo sua rica experiência de mordomo, João Victal (citado por Cidade de Tomar) disse o essencial: "Só o apoio da Câmara Municipal é insuficiente para colocar na rua esta grande festa." Insuficiente e doravante impossível, creio eu. A menos que resolvam teimar na irracionalidade. Quem não tem dinheiro, não pode ter vícios. Sob pena de enveredar por caminhos ínvios.
Regressando ao TEMPLÁRIO, creio ser minha obrigação apontar dois aspectos menos convenientes, no âmbito daquele espírito segundo o qual amigo é quem não nos esconde a verdade,sobretudo quando ela não é agradável. Lê-se na última página, logo a abrir, que "Foi elogiada pelos participantes a iniciativa do jornal O TEMPLÁRIO". Foi com certeza. Mas elogio em causa própria...
Numa outra vertente, a das falsas evidências, lê-se já perto do final que "há um longo trabalho de investigação a fazer sobre a Festa dos Tabuleiros, porque só percebendo a sua origem e a sua evolução se pode garantir a sua continuidade." Trata-se indubitavelmente de um falso axioma. É possível e até desejável reformar a festa mediante a definição de novos objectivos, sem se ater a investigações legítimas, mas secundárias e redundantes em muitos casos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Principais temas da semana

Numa altura em que alguns eleitos socialistas (e outros que nem tanto), parecem algo excitados com a minha nomeação para uma comissão hospitalar de sete cidadãos, sem direito a qualquer tipo de remuneração, parece-me oportuno abordar um tema muito tomarense -fazer alguma coisa por Tomar. Afinal, quem é que realmente procura honrar os seus deveres de cidadania? Os sacadores de todos os estilos? Os sapadores? Os intolerantes? Os invejosos? Os canhestros em toda a linha? Ou pelo contrário aqueles que, tão discretamente quanto possível, vão fazendo o que podem em prol desta desgraçada terra que tais filhos tem? Que não se sabem governar nem querem que os governem.
O MIRANTE publica uma esclarecedora entrevista com a directora da Escola Secundária/3 de Santa Maria do Olival. Maria Celeste de Sousa que, não sendo tomarense de nascimento, escolheu Tomar para viver e falou desassombradamente. Das suas declarações, destaco: "Não tenho dados que me permitam dizer que os melhores alunos são de um determinado extracto social. Temos casos de bons alunos cujas famílias têm dificuldades económicas. Neste momento temos uma ex-aluna que está no ensino superior, graças ao apoio de um amigo da escola. Uma espécie de mecenas.
Às vezes perguntam-me se esta escola é elitista. Eu digo que sim, se considerarmos que elitismo é ser exigente, rigoroso, trabalhador, empenhado, responsável...
O nosso amigo e mecenas é o Dr. Correia Leal, um conhecido médico de Tomar, pessoa de mérito e com grande sucesso profissional. Tem colaborado imenso com a escola em termos financeiros. Apoia projectos de estudantes e neste momento está a apoiar essa aluna, que de outra forma não poderia frequentar o ensino superior.
Tem aqui um filho no 9º ano e interessa-se pelo que se passa na escola. Temos recorrido a ele frequentemente e para além de apoiar projectos de alunos, tem-nos ajudado a concretizar algumas iniciativas de carácter social, como a entrega regular de cabazes de alimentos a famílias de alunos nossos." (O MIRANTE, 22/03/2012, páginas 28 e 29)
Pois é este o terrível capitalista que sapadores ligados às manifestações anti-reforma hospitalar acusaram, sem qualquer  respeito pela verdade factual, de pretender comprar o sexto piso do hospital de Tomar!!! Ele há gente que se estivesse muda e queda, então sim, prestaria um bom serviço a Tomar!


O TEMPLÁRIO publica igualmente uma entrevista, mas com outro tipo de eleito: O presidente Carlos Carrão. Três temas me parecem merecer destaque, que são a sua eventual candidatura em 2013, o problema do Flecheiro e a recuperação do Mercado Municipal.
Em relação ao seu futuro político Carrão mostra-se mais realista. Diz-se apostado em fazer um bom ano e meio de mandato, de modo a marcar a diferença. Acrescenta porém que caso não consiga, será ele o primeiro a reconhecê-lo, renunciando a candidatar-se. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. 
Sobre o futuro do mercado municipal, digamos que está 50% equivocado. Fala em consultar a ASAE, no sentido de apurar que melhoramentos serão necessários para reabrir os velhos pavilhões, o que é correctíssimo. Contudo, logo a seguir revela ignorância em relação à envolvência económica e ecológica. Do ponto de vista económico, já não faz qualquer sentido (se é que alguma vez fez) edificar ali um conjunto de novos estabelecimentos comerciais, após os encerramentos prematuras ocorridos por esse país fora. As vacas gordas foram-se e tarde ou nunca voltarão.
Há depois, ou mesmo previamente, um berbicacho de todo o tamanho para resolver. A cobertura dos pavilhões do mercado é em chapa de amianto, cuja substituição é condição sine qua non para o QREN poder financiar. Normas europeias compulsivas. O mais complicado, todavia, é encontrar uma empresa certificada para retirar as placas, e um local autorizado para as depositar. Não é nada fácil, longe disso. Na ex-base alemã, agora Aeroporto devoluto de Beja, estão guardadas há mais de 20 anos largas toneladas de chapas de amianto, que ninguém sabe para onde levar...
Em relação ao Flecheiro, o actual presidente foi franco. Reconheceu ter-se perdido antes uma boa ocasião, pelo que agora a autarquia não tem qualquer hipótese em carteira para resolver o problemas dos acampamentos ciganos. Mas há solução, digo eu. E não é assim tão difícil.


Tomar vai ter quatro cantinas sociais, noticia o CIDADE DE TOMAR, enfatizando a acção coordenada da Segurança Social e dos Serviços Sociais da câmara. O que significa que a situação social se agrava singularmente de dia para dia, não se vislumbrando saída possível a curto, médio ou longo prazo, uma vez que a autarquia não dispõe de modelo de desenvolvimento económico a implementar, e sem isso...
Carlos Carrão bem fala -finalmente!-na simplificação de procedimentos, tendo em vista atrair investidores. Mas alguém minimamente informado quererá, numa conjuntura tão difícil, arriscar-se a enfrentar a bem conhecida, onerosa e temida burocracia nabantina? Vai levar anos a mudar a imagem repelente para investidores que tem sido e vai continuar  ser a nossa. Desgraçadamente. E com os eleitos que temos, salvo uma ou outra honrosa excepção...

FALTA DE TEMPO LIVRE

Assoberbado com assuntos familiares, não tenho tempo para responder adequadamente, como desejava,  a alguns conterrâneos que, para surpresa minha, se transformaram repentinamente em palermitas, mesmo não tendo nascido nem vivido em Palermo, capital da Máfia calabresa. Mas não perdem pela demora. Largos dias têm cem anos e as autárquicas são já o ano que vem. Logo que tenha algum vagar, tratarei de encomendar um bom fusil para afiar facas...(em sentido figurado, já se vê).
Entretanto, conviría que os estrénuos defensores da moral política nabantina, alguns dos quais até estão no PS, mas nunca levantaram um dedo sequer para apontar esse portento de estadista e paradigma de honestidade, chamado José Sócrates Pinto de Sousa, conviria -escrevia eu- que lessem e meditassem esta posição recente do "Marocas", do alto dos seus oitenta e muitos anos:
Jornal i, 22/03/2012, última página

Perceberam? Ou querem que vos explique a coisa em BD? O PR do "direito à indignação", proclama agora que "o caminho não é a revolta, mas a mudança". Por isso, em vez de fingir que se indignam, que se revoltam, mudem! Não maltratem os outros. Dêem finalmente o corpo à curva. Quando não, ainda acabam espatifados contra os rails de protecção da auto-estrada do futuro. E seria uma pena, tratando-se de tão excelsos democratas, amigos dos seus amigos, fraternos e nada invejosos. Sobretudo nada invejosos. Abençoada terra que tais filhos gerou!
Num país com duas centrais sindicais, onde só uma resolve decretar uma greve geral e ninguém protesta, nunca se sabe o que poderá vir a acontecer...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Declaração de interesses


Participei hoje em Abrantes na primeira reunião da Comissão de Ética para a Saúde. Durante essa reunião foi-me entregue o documento de nomeação acima reproduzido. Entretanto, alguresaqui publicou um relambório, que me abstenho de qualificar, sobre a minha nomeação. Cumpre por isso informar os leitores do seguinte: A - A referida comissão rege-se pelo Decreto-Lei nº 97/95, de 10 de Maio; B - O artigo 2º do dito diploma legal estabelece que as comissões de ética são multidisciplinares, sendo compostas por sete membros, "designados de entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos, juristas, teólogos, psicólogos, sociólogos ou profissionais de outras áreas da ciências sociais e humanas"; C - Os membros da comissão não auferem qualquer tipo de remuneração, conforme disposto no artigo 12º; D - O artigo 8º do já citado diploma especifica que "No exercício das suas funções, as comissões de ética actuam com total independência relativamente aos órgãos de direcção ou de gestão da instituição ou serviço de saúde respectivo."
Tendo em conta que no acima referido blogue o eleito municipal Hugo Cristóvão (PS) põe em causa a minha escolha e posterior nomeação, tendo acrescentado em privado que "não vou ficar nada bem na fotografia", desde já declaro estar pronto a renunciar, desde que me seja demonstrado que poderei vir a ser mais útil aos tomarenses fora da citada comissão e sem abdicar das minhas opiniões, que poderão não agradar a todos mas são sinceras.

Ameaças hipócritas e unanimidade aparente


Esta notícia de ontem, que se reproduz do site O TEMPLÁRIO com a devida vénia, constitui um exemplo flagrante do actual clima político tomarense. Após incitamentos à demissão do presidente Carrão e ameaças hipócritas de eleições intercalares forçadas, temos novamente o executivo unido e unânime. É pelo menos o que parece. Trata-se, porém, de mais uma tentativa de embuste à opinião pública. Lendo com atenção o documento votado favoravelmente pelos sete magníficos, nota-se que se trata apenas de mais um produto tipo corte e cola. Que a maior parte, senão mesmo a totalidade dos edis, aprovou por falta de melhor alternativa. Arriscaria até avançar que houve de certeza casos de manifesta incapacidade para entender cabalmente todo o teor da proposta.
Seria fastidioso e deslocado desfiar aqui a trama do dito documento, pelo que se avançam apenas alguns tópicos: 1 - "Tomar rumo ao futuro com desenvolvimento sustentável"? Que quer isto dizer realmente? Será concebível outro rumo? Noutra direcção qualquer? Sem ser para o futuro? Desenvolvimento sustentável? Em quê? Como? Quando? Com quem?
2 - "A Câmara Municipal de Tomar tem por missão definir estratégias e linhas orientadoras para o desenvolvimento sustentável"? Não parece. Desafiam-se os senhores autarcas a mostrar os seus trabalhos nessa área durante os últimos 4 anos. Para não irmos mais longe...
3 - "Promover e garantir a transparência dos processos e dos resultados"? "Fomentar e assegurar a simplificação de procedimentos administrativos"? "Promover... uma correcta gestão interna de recursos humanos"? Era bom era! Mas desde há pelo menos 15 anos que andam a fazer exactamente o contrário. Com os tristes resultados que são conhecidos de todos.
4 - "Um serviço público de excelência, eficiência, eficácia e qualidade"? Com esta aparente fartura vocabular, pretendem endrominar quem? Não pode haver eficiência sem eficácia, nem excelência sem qualidade. Trata-se portanto de despropositada e intrujona redundância. Só que os serviços da autarquia, em certas áreas bem conhecidas, fossem só simples, rápidos, honestos e baratos, já seria bem bom.
Quando será que os senhores eleitos se convencem, finalmente,  de que há cada vez mais cidadãos que já não os levam a sério, tantas são as asneiras entretanto cometidas? Esta é apenas mais uma. Que só engana quem a votou. O que significa que, embrenhados na questão da estratégia, falharam completamente na táctica. Coisas que acontecem...

terça-feira, 20 de março de 2012

O FIM DO ESTADO-PROVIDÊNCIA

Referi no último artigo que os problemas fundamentais do Estado-providência são o empobrecimento da classe média baixa, o custo insustentável da geração mais velha e as expectativas excessivas dos restantes, que podiam cuidar de si próprios. Tudo isto culmina na incapacidade de resposta do Estado-providência. Num ambiente de baixo crescimento, o Estado e o seu sistema bancário colapsam. Esta situação começou por se tornar evidente nos países do sul da Europa, mas actualmente já é também uma realidade em Inglaterra e nos Estados Unidos. O que fazer? Reclama-se habitualmente que os ricos contribuam mais. Até Obama assim procede. Porém, toda essa riqueza combinada será insuficiente para dar resposta. Na verdade, os ricos até já pagam a parte mais significativa. Nos Estados Unidos, cerca de 3% da população paga mais do que o conjunto dos restantes 97%  e 50% não pagam nada.
Os ricos pagarão para ajudar aqueles que verdadeiramente necessitam de protecção. Mas porque motivo a classe média há-de ter a sua parte paga por outros e continuar a beneficiar de um estilo de vida que não é merecido e que, para todos os efeitos, não é sustentável? Porque é que isso é considerado justo? Seja qual for o motivo, é certamente a atitude errada. É possível que os ricos devam, efectivamente, pagar mais, uma vez que o número de pobres tende a aumentar. Mas se o dinheiro lhes começar a ser tirado para todo o tipo de novos projectos de terceiros, que deveriam em primeiro lugar sustentar-se a si próprios ou, possivelmente, dar um passo atrás, acabarão por se mudar para regimes fiscais mais favoráveis. É imoral? Porquê?
Será que as minorias, mesmo sendo ricas, não têm nenhum direito ou protecção de propriedade numa democracia? Não será esta uma situação semelhante à dos bombeiros gregos, que se reformam aos 52 anos de idade, sustentados pelos alemães que têm actualmente de trabalhar até aos 67? As pessoas que noutros países viam os seus rendimentos aumentar todos os anos, mesmo quando existia pouco crescimento, chamam "solidariedade" a este tipo de ajuda por parte dos alemães, e consideram ter direito a ela. Mas o que querem dizer com isso? Na última década, enquanto arrumavam a sua própria casa, os alemães acabaram por ter poucos aumentos salariais. Aguentaram-se, quando a sua taxa de desemprego chegou aos 12,5%, sem pedirem ajuda externa. Actualmente a taxa de desemprego  alemã situa-se abaixo dos 7% e continua a descer. Apesar de dolorosas, as reformas estruturais resultam.
Na Holanda, uma vez por ano, em Setembro, a rainha senta-se no seu trono, lê o seu discurso e apela à moderação. Não é popular, mas ajuda: o desemprego situa-se nos 4,5% e o desemprego entre os jovens  não ultrapassa os 7%. É algo de realizável. Porém, também na Holanda, a época áurea do Estado-providência chegou ao fim e, naturalmente, as pessoas ressentem-se do facto de terem de financiar os países do sul da Europa, que nunca demonstraram qualquer moderação.
Porque razão têm as pessoas mais poderosas e influentes da nossa sociedade, ou simplesmente aquelas que mais trabalham e são modestas, de pagar para que outros possam beneficiar de prerrogativas erradas? Não deveríamos todos esforçar-nos, tanto quanto possível, e viver segundo as nossas possibilidades? Como pensamos poder chegar a algum lado sem essa aprendizagem? E se a necessidade de ajuda for uma realidade, não devemos primeiro demonstrar o que nós próprios já tentámos fazer? Parece-me que sem isso, não há lugar para reivindicações de "solidariedade".
E se não existir crescimento suficiente para o estilo de vida a que nos habituámos, ou ao qual julgamos ter direito, não teremos de reconhecer que devemos recuar? Eu próprio já o fiz diversas vezes. Porque há-de ser isso sempre tão terrível, se a alternativa é atingir o limiar da pobreza? Os nossos pais viviam com muito menos e, numa fase posterior da economia, talvez haja novamente lugar a melhorias.
Entretanto, os bem sucedidos deveriam deixar de se preocupar com a ostentação, que torna os outros infelizes e invejosos. É um péssimo hábito do sul da Europa, imitado em toda a escala social. É seriamente contraproducente e não conduz a absolutamente nada que seja útil. É estúpido. Há muito que descobri, nas minhas aulas nos Estados Unidos, que aqueles que parecem mendigos são afinal os mais ricos. É essa a melhor maneira de proceder.

Jan Dalhuisen, Professor catedrático na Universidade da Califórnia (Berkeley), no King's College (Londres) e na Universidade Católica (Lisboa)
Jornal i, 20/03/2012, página 13

OUTRA VEZ INQUISIÇÃO EM TOMAR?

O TEMPLÁRIO, 15/03/2012, página 32

Entre 1536 e 1543, funcionou em Tomar um dos tribunais do Santo Ofício da Inquisição. Lá em cima nas depois chamadas Salas das Cortes, com prisão no subterrâneo sob a Torre agora designada de Dª Catarina.
Quando nada fazia prever que, cinco séculos mais tarde, ainda por aqui houvesse adeptos de tão santa instituição católica, apostólica e romana, veio a público a convocatória supra, na qual os dirigentes executivos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Tomar mandaram incluir o incrível ponto1. Incrível porque torna o dito documento nulo e de nenhum efeito, porquanto:
A - O invocado artigo 28º do Compromisso não prevê qualquer hipótese de julgamento de irmãos. Apenas estabelece que a AG serve para examinar e votar as contas do ano anterior, bem como o orçamento e plano de actividades para o ano seguinte.
B - O artigo 37º da Constituição da República garante a todos os cidadãos a liberdade de expressão, pelo que ninguém pode ser demandado a propósito de opiniões expressas, a não ser pelo poder judicial, ou administrativo independente (ponto 3 do artº 37º).
C - O artigo 41º da Lei Fundamental estabelece que "Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa..."
D - Nos termos do disposto no artigo 22º, incorre em responsabilidade civil quem infringir o artigo 26º, que protege o "direito ao bom nome e reputação, à palavra ...e à reserva da vida privada".
Assim sendo, tudo aponta para que o causídico Dr. António Madureira tenha assinado  inadvertidamente a referida convocatória, que é uma enormidade jurídica, salvo melhor e mais fundamentada opinião. Para evitar males maiores, se esse for o seu entendimento, restar-lhe-á anular quanto antes o dito documento e pedir publicamente desculpa ao ofendido.
A Santa Inquisição já foi extinta no país há dois séculos. Mais vale tarde que nunca.

O TRONCO DA DISCÓRDIA

Foto 1 - Estrada da Serra. No primeiro plano duas oliveiras felizmente preservadas (uma vez que estão na freguesia de Santa Maria dos Olivais), uma de propriedade pública (à esquerda), outra privada. Ao fundo a torre de que se fala na reportagem. À direita o ex-eucalipto frondoso, agora velho tronco carcomido e perigoso.
 Foto 2 - A vivenda estilo Raúl Lino, em cujo logradouro está metade do antes citado tronco de eucalipto.

Foto 3 - A parte do tronco que está no logradouro, sendo portanto privada. Para lá da sebe já é pública.

Foto 4 - A outra metade do mesmo tronco, que é propriedade pública, porque está num jardim público, plantado e cuidado por pessoal da autarquia.

É um daqueles problemas de recorte tipicamente tomarense. Estilo manuelino. Há na Estrada da Serra um tronco imponente, do que já foi em tempos um frondoso eucalipto (Foto 1). Nos idos de 80 do século passado, quando se temeu que tão majestoso exemplar, então viçoso, fosse abatido para dar lugar a um prédio, a Escola Preparatória nº 1 (agora de Gualdim Pais) apadrinhou-o. Os alunos vieram ao local e houve cerimónia. A partir daí passou a ser "de interesse municipal". E foi preservado. Em vez de cortado para dar lugar a um prédio de três pisos, a câmara de então negociou e conseguiu um acordo favorável a ambas as partes. O construtor lesado aceitou ceder parte do terreno à autarquia, mediante autorização para aumentar a cércea para oito pisos acima do solo (Foto 1).
Mais tarde ocorreu um desastre. Caiu uma das pernadas do eucalipto, esmagando um automóvel que aproveitava a sombra. Depois secou pouco a pouco, como acontece com todos os seres vivos. Presentemente está carcomido, havendo novamento risco de queda daquela pernada do lado privado (Foto3). Conscientes disso mesmo, os proprietários do logradouro, que até são amigos das árvores, como mostram os exemplares que ornamentam o dito quintal (Foto 2), escreveram à câmara pedindo providências.
Inesperadamente, receberam um ofício resposta, subscrito pelo vereador competente, dizendo que estando o tronco em terrenos particulares, cabe ao proprietário proceder ao seu abate, assumindo as respectivas responsabilidades.
Basta ver as fotos 3 e 4 para constatar que tal não é verdade. A partir do momento em que o construtor (o saudoso ferreirense José Martinho) cedeu terreno à câmara, metade da árvore agora tronco passou a ser propriedade municipal. Ou o vereador nunca foi ao local, ou simula que assim é, o que vem a dar no mesmo.
Preocupados, os moradores e proprietários da vivenda sentem-se injustiçados e aguardam que com a urgência possível a autarquia aceite cortar e remover o tronco, antes que caia a referida pernada. Conscientes da crise em que nos encontramos, estão até dispostos a chegar a um acordo justo de partilha de encargos. Na pior das hipóteses numa relação 75% autarquia/25% moradores, uma vez que eles pagam impostos à câmara, que está ao serviço da comunidade, servindo apenas para isso, mas o inverso não é verdadeiro. Os munícipes não estão ao serviço do município, excepto os que são seus funcionários. Será assim tão difícil de entender? Vai levar quanto tempo a resolução deste problema?

segunda-feira, 19 de março de 2012

RECORTES DA IMPRENSA DE HOJE

 EL PAÍS, 18/03/2012, página 35

Aqui temos uma leitura muito agradável e proveitosa para todos os que, nos seus subconscientes respectivos, estão persuadidos de que os blogues e os sites são sanitas, onde cada qual pode vomitar à sua vontade. Abstive-me de traduzir, persuadido que estou de que os leitores de Tomar a dianteira não têm qualquer dificuldade para ler e entender castelhano. Ainda assim, qualquer imprevista dificuldade deverá ser exposta a a.frrebelo@gmail.com e não será publicada mas apenas esclarecida pela mesma via.

Le Monde, 19/03/2012, Géo & Politique, página 3

Cai que nem sopa no mel está infografia, numa altura em que o novo dirigente máximo da CGTP avança com a reivindicação do salário mínimo nacional para 515 euros. Como os leitores podem constatar, não é nada evidente que haja qualquer relação entre o nível salarial e o salário mínimo nacional. Tanto assim que Alemanha, Áustria, Chipre, Dinamarca, Finlândia, Itália e Suécia nem sequer têm salário mínimo nacional obrigatório.
Outro dado assaz significativo reside no facto de todos os países ex-socialistas, excepto a Eslováquia, terem salários mínimos obrigatórios muito inferiores ao português. Após quase 50 anos de socialismo real, não deixa de ser intrigante. Em que fundamentos se terá baseado Arménio Carlos para, numa altura de profunda crise e muito elevado desemprego, exigir um aumento do salário mínimo nacional?

Le Monde, Géo & Politique, 19/03/2012, página 3

Esta infografia mostra-nos os países da União Europeia com salário mínimo fixado por lei, por ordem decrescente e em função do respectivo nível de vida. Em último lugar dos países capitalistas + Eslovénia, Portugal está mesmo assim bem acima dos paises do leste europeu, agora integrados na UE.
Já sei! Já sei! Em Portugal o salário mínimo nacional é de 485 euros e não 566 como está indicado no mapa. Pois! Mas então faça o favor de multiplicar 566 x 12 = 6.792, que a dividir por 14 é = a 485€. Já percebeu agora? Nos outros países, os trabalhadores recebem apenas 12 salários anuais, mas em Portugal recebem 14. Quando têm emprego e o patrão paga, bem entendido.

A TARDIA MAS AINDA ASSIM ÚTIL BRAVATA DE CARRÃO


Falando para a Rádio Hertz, Carlos Carrão ousou finalmente (já aconselhado pela nova CP do PSD?) assumir um tom desafiante face à oposição. Dado o seu feitio contido, semelhante jactância surge como uma mal assumida bravata, ainda assim muito útil no presente contexto. Após meses a encanar a perna à rã, vai sendo tempo de cada um dos três grupos do executivo esclarecer que jogo está mesmo disposto a jogar doravante. Chega de bivalências e outras ambiguidades. É chegada a hora da verdade.
Em termos de opinião pública, mais virada para as coisas do desporto, as palavras do agora presidente, que os tomarenses não elegeram para o cargo que ocupa, têm um mérito -encostam Pedro Marques às cordas. Porque a ninguém restam dúvidas: após o abandono de Fernando Oliveira e de António Rosa Dias, os IpT são apenas aquilo que Pedro Marques quer que sejam. Não têm táctica, não têm estratégia, não têm projecto político consequente, nem capacidade ou vontade para o elaborar. Se alguém tem dúvidas a tal respeito e respondendo antecipadamente à usual vitimização do ex-presidente, que acusa o autor destas linhas de perseguição pessoal, aconselha-se a consulta atenta do PDM tomarense.
Elaborado e aprovado durante as presidências de Pedro Marques, nunca passou de um nado morto inviável que até hoje ainda ninguém conseguiu alterar, tal é a disformidade. E no entanto foi parido por uma vasta equipa escolhida e liderada pelo então presidente independente eleito numa lista PS, e pela sua dilecta amiga, a depois celebérrima arquitecta Paula. Nessa época conhecida nos geralmente bem informados meios nabantinos como "arquiteta", muito antes da aprovação do Acordo Ortográfico, que veio suprimir as consoantes mudas.
O que não surpreende porque por essa mesma altura também já havia por estas bandas vários espectadores que eram outrossim espetadores, numa feliz antecipação do citado acordo. E ainda hoje as garrochas de então incomodam o lombo de alguns tomarenses. Prossigamos.
Perante o desafio carrónico, resta aos IpT ora encostados às cordas, escolher de uma vez por todas: Ou cuco, ou mocho! Ou há mesmo renúncia colectiva e vamos ter intercalares só para o executivo quanto antes. Ou não nos venham mais com cantilenas e ladaínhas para adormecer criancinhas. Tudo o que é demais parece mal!

domingo, 18 de março de 2012

OS OPTIMISTAS

"Começa a ser difícil encontrar em Portugal um político que não seja candidato a candidato de alguma coisa. A lista para as presidenciais, por exemplo, não tem fim: de Carvalho da Silva a Marcelo, passando por Durão Barroso ou Santana, todas as semanas lá salta mais um da cartola com Belém no horizonte. E quando não é Belém,  é S. Bento: António Costa é o nome messiânico com que a esquerda gostaria de recuperar o poder nas próximas eleições.
Este frenesim espanta: com legislativas em 2015 e presidenciais só em 2016, o excesso de candidatos, produzidos pela comunicação social com a óbvia cumplicidade dos próprios, apenas revela a manifesta fraqueza dos titulares, no caso Tozé Seguro e Passos Coelho.
Mas revela mais: uma espécie de crença fantasista de que, lá para 2015 ou 2016, o país já terá dobrado o Cabo das Tormentas, fazendo de Belém (ou de S. Bento) um lugar novamente aprazível. Quem disse que os portugueses eram um bando de pessimistas?"

A voz da razão, João Pereira Coutinho, Correio da Manhã, 18/03/2012, última página

Se o articulista viu bem, em Tomar estamos quilhados. Com as autárquicas previstas para 2013, (se não houver intercalares antes), ainda só apareceu um candidato. Carlos Carrão, o actual presidente. Porque  é um optimista esperançado? Porque não entende o mundo em que vive? Porque pretende evitar que outros vão meter o nariz onde não convém?

Imagens tomarenses de fim de semana




Quatro aspectos da Cerrada dos Cães, pomposamente designada pelos senhores autarcas como Terreiro de Gualdim Pais. Nota-se que a limpeza é excelente.

Terreiro de Gualdim Pais porque desde Março de 1960, 8º centenário da fundação da urbe, lá em cima, está pendente na Câmara um projecto para transferir a estátua da Praça da República para aqui. Enquanto isso não acontece, aproveita-se o espaço para armazenar algumas pedras.

Logo ao lado temos este par de indicações assaz curioso. Dado que os residentes estão excluídos, certamente trata-se de uma maneira rebuscada de mandar os turistas àquela parte. Está bem visto sim senhor!

Os simpáticos visitantes ficam de tal modo impressionados com tamanha delicadeza de propósitos, que até largam logo o calçado, para fugirem mais depressa, em busca de paragens mais hospitaleiras.

Estão de parabéns todas aqueles que, como o autor destas linhas, lutaram pacificamente para preservar o alambor coevo da construção do castelo templário. Parecendo que não, a relativa maioria e os seus técnicos superiores de confiança ficaram seriamente impressionados. Além de já terem decidido baixar  o paredão para metade (se calhar convencidos de que é uma boa solução...), não se esqueceram de ir avisando eventuais incautos que se queiram juntar aos contestatários. O aviso lá está: "Perigo! Mantenha-se afastado!" Era bom, não era? Mas não têm sorte nenhuma. Aqui fica desde já dito que o vosso expediente de rebaixar o muro para menos de metade não resolve nada! Como a seu tempo de verá!

O que tem de ser feito

ENArca, Fundador do PSU, deputado, ministro, primeiro-ministro de Mitterrand, embaixador, conselheiro de Sarkozy, agora com 85 anos, Michel Rocard é um daqueles políticos que conseguem ver a realidade política de cima e de longe. Eis extractos das suas mais recentes declarações ao semanário Nouvel Observateur:

"A moralização das nossas sociedades é uma exigência. A sua sobrevivência depende da capacidade para recolocar o sector financeiro no seu lugar. Sem esquecer que não pode haver sociedade produtiva sem um sector financeiro dinâmico. O problema reside no facto de ser extremamente difícil recolocar a finança no seu lugar. A prova está em que quando Roosevelt impôs o "Glass-Steagall Act", a separação obrigatória ente bancos de depósitos e bancos de negócios -medida a que devemos 60 anos sem crise financeira- todos os poderes financeiros se lhe opuseram. Já então era verdade que os bancos lucravam mais com a especulação do que com a gestão de depósitos.
... ...O mais provável é que vamos ter uma longa estagnação económica, ou mesmo um ligeira recessão, acompanhada por sucessivas explosões financeiras. Temos um crescimento bastante tolhido. Na zona europeia o crescimento é cada vez mais fraco e assistimos agora ao afrouxamento do crescimento industrial na China, na Índia e no Brasil. Quanto à dívida dos Estados Unidos, cifra-se agora em mais um record absoluto de 350% do PIB [contra 115%  do PIB em Portugal]. Em 1929, durante a grande depressão, era de apenas 210%. Por conseguinte, é grande o risco de um cataclismo, em que a actual crise das dívidas soberanas europeias é apenas um pequeno detonador.
Contudo, paradoxalmente, parece que os mercados começam a temer a derrocada, pelo que se transformam pouco a pouco em solicitadores de regulação.
...Não é prudente falar da manutenção das despesas do Estado, pois a ultrapassagem da crise depende da confiança dos mercados e para os sossegar deve-se pagar a dívida pública. Porém -volto a ser subversivo- qualquer ideia de pagar a dívida em condições que enfraqueçam o crescimento e provoquem recessão, não é razoável, pois amputa a possibilidade de continuar a pagar a dívida. Há que encontrar um equilíbrio entre o pagamento da dívida e a manutenção das despesas públicas, necessárias ao poder de compra e ao investimento.
Dito isto, a capacidade da França para observar essa regra -reembolsar tanto quanto possível a dívida sem afrouxar o crescimento- é bastante forte. Mas se estamos menos endividados do que a Grande Bretanha ou a Itália, estamos numa situação mais perigosa, porque a nossa dívida, ao contrário da italiana, é detida a 67% por investidores estrangeiros. De qualquer modo, escapar à crise das dívidas soberanas não diminui o risco especulativo das centenas de triliões de dólares, que circulam nos paraísos fiscais e por outras paragens. Explosões muito mais graves podem acontecer a qualquer momento, mesmo durante a actual campanha presidencial
... ... Seria uma atitude irresponsável abandonar a energia nuclear. Porque não temos escolha possível. Dentro de dois ou três anos, o volume de petróleo disponível vai diminuir drasticamente, o que não impedirá o aumento dos consumos chinês e indiano.. É por isso inevitável um aumento considerável do petróleo, o que vai complicar singularmente o crescimento económico de todos os países. Actualmente as energias renováveis não constituem ainda uma alternativa suficiente. Devemos continuar a desenvolver esses tipos de energia mas, se nos limitássemos a isso, poderíamos ser arrastados para a recessão e mesmo para a guerra civil. Basta ver o que está a acontecer na Grécia.
Por conseguinte, o nuclear civil continua a ser necessário.
O que fazer com uma sociedade sem crescimento económico ou quase? Como reformá-la sem aumentar as despesas públicas? Trata-se de edificar uma sociedade menos mercantil e menos cúpida, menos voraz em termos de energia e dispondo de mais tempo livre. Há que suscitar práticas culturais e desportivas mais generalizadas. Redescobrir o tempo com a família, as relações de amizade e associativas, com carácter festivo. Não é indigno não trabalhar, quando se sabe dar um sentido ao tempo livre. Já Paul Lafargue [genro de Marx] assim o escrevia, em 1902, defendendo o direito à preguiça. E o agora tão celebrado Keynes disse em 1930, em plena Grande Depressão, que "antes do fim do século, bastarão três horas diárias de trabalho produtivo para a humanidade poder assegurar as suas necessidades, mas quando vejo o que os ricos fazem com o dinheiro, pergunto-me se não devemos temer uma depressão nervosa universal".  Aí está ela!"

Respostas recolhidas e tratadas por François Armanet e Laurent Joffrin, NouvelObs,08/03/2012, pág. 67
A cor e as partes entre [ ] são de Tomar a dianteira

sábado, 17 de março de 2012

É CADA SECA!!!

Na política local é como se sabe. Nos últimos três meses houve apenas duas boas notícias -a ruptura da mancebia PSD/PS e a retumbante vitória de ontem de João Tenreiro. Quanto ao resto, apenas desastres sem remédio. Até o vereador Luís Ferreira já vai aconselhando frontalmente ao agora presidente por substituição que se demita quanto antes. Por enquanto sem qualquer efeito prático, uma vez que Carlos Carrão sabe que continua a contar com um providencial colete salva-vidas. Uma seca! 
Por falar em seca, segundo a meteorologia alemã, estamos mesmo em zona de catástrofe. No passado mês de Fevereiro registou-se nesta região menos 70% de precipitação em relação à média dos meses de Fevereiro dos últimos 50 anos (zonas a preto no mapa):

Le Monde, 16/03/2012, página 11

Agastado com estas notícias, resolvi ir até à Biblioteca Municipal em busca de refrigério. Estava anunciado um colóquio sobre a Festa dos Tabuleiros, que poderia vir a ser interessante. Até olvidei por momentos que antes aqui referira tal evento como mais uma sucessão de homilias. Fiz mal! Duplamente mal! Por ter esquecido e por ter ido. Sentei-me no auditório passavam cinco minutos das 16. Desandei às 17, quando Godinho Granada, um dos oradores anunciados, introduzindo o tema, falava das vestais romanas, da deusa Ceres, dos druídas celtas, de Joaquim de Fiori, do século XII, de João dos Santos Simões, do Nini Ferreira, do Néné Cebola et tutti quanti. Calculei que, pelo caminho que as coisas levavam, o período de perguntas e respostas era bem capaz de começar só lá para a hora do jantar.
Regressado a penates, concluí a leitura da imprensa, jantei e vi as notícias na TV. A seguir instalei-me frente ao computador e comecei a percorrer os sites do costume, cheio de esperança. Erro meu! Levei com mais um balde de água fria aqui. Batido ontem por uma diferença de 51 votos (71 contra 112 para João Tenreiro), o presidente que agora temos foi fiel aos seus hábitos. Em declarações à Rádio Hertz, disse sem se rir, como se fosse a coisa mais natural deste mundo que "O desejo de ser candidato às autárquicas de 2013 não sofre qualquer abalo com este resultado."
Temos homem! Quem assim interpreta a realidade, só pode ser um génio na arte do faz de conta. Exactamente aquilo de que precisamos agora. Para fazer de conta que a câmara não tem dívidas, que as obras não estão todas engatadas, que o mercado não está a funcionar numa tenda, que os ciganos não estão no Flecheiro há mais de 30 anos, que não há desemprego, que a população não está diminuir, que os negócios não estão a fechar, que vai tudo bem no melhor dos mundos, como diria o Pangloss. É cada seca!!!

VENCEU O FUTURO -Ainda Bem

Foto O TEMPLÁRIO
Omiti deliberadamente qualquer opinião favorável a um ou outro candidato durante o dia de ontem. Questão de imparcialidade, mas também de aplicação do velho anexim "Em casa amiga e feliz, quando estiverem a escolher não metas o nariz". Terminado o escrutínio laranja com a folgada vitória de João Tenreiro (112 contra 71 votos, num universo máximo possível de 218), há que dar os parabéns ao vencedor e cumprimentar o vencido, procurando situar o ocorrido e perspectivar o futuro.
Parece-me que venceu o futuro; que venceu o bom senso, que vencemos todos nós. Conforme tenho vindo a escrever, a pantanosa situação da autarquia tomarense só ainda sobrevive graças à cumplicidade de gente que se presta a desempenhar o lamentável e intrigante papel de colete salva-vidas. À espera de um impossível milagre?
A equipa de João Tenreiro pode até não resolver nada para já, mas é nela que há futuro. Não só pela idade e pelo estatuto, como pelas ideias e pela maneira de estar e de agir dos seus componentes.
Carlos Carrão foi mais uma vez iludido pelas aparências. Insistindo até à náusea na política da comezaina/tintol/palmadinha nas costas, recusa-se a admitir que é já o passado. Que muitos daqueles que continuam a garantir-lhe apoio e a dar-lhe palmadas nas costas, o que realmente lhe estão a indicar é que querem vê-lo pelas costas quanto antes. O que se compreende sem qualquer esforço. Sem planos, sem dinheiro, sem ideias profícuas, atascado em dívidas, ninguém entende o que levará Carrão a insistir numa continuidade que já ninguém deseja, a não ser ele e os seus pares coletes-salva-vidas.
Relapso, o presidente em substituição do eleito, ainda há pouco respondeu a Luís Ferreira que não só não se demite como se candidatará em 2013. Após esta derrota inapelável, não se percebe como, com quem e para quê. Pois se nem os seus companheiros o querem já... Terminado em drama o tempo das farturas, da ganância e dos alambazados, é chegada a hora dos administradores POLÍTICOS. Que tenham uma ideia fecunda e promissora para Tomar. Que dêem garantias de que uma vez eleitos serão capazes de implementar aquilo que prometeram.
Se estivéssemos noutra cidade de outro país europeu, após este desfecho a relativa maioria apresentaria imediatamente a sua demissão, pedindo ao presidente da AM para providenciar a realização de eleições intercalares só para o executivo. Com estamos em Tomar, cujos habitantes maioritariamente adoram aquele célebre faduncho "Ó tempo volta pra trás", o mais provável é que tenhamos de suportar este clima pantanoso e nauseabundo até ao final do ano que vem. A ser assim, triste sina ò gente pequenina! Não conseguem olhar para a frente pelo menos uma vez? Depois não se queixem!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sondagem bastante participada

Fotomontagem Rádio Hertz

Com a votação ainda a decorrer e resultado final previsto para cerca das 23 horas, é já possível fazer um balanço sucinto da sondagem de Tomar a dianteira referente às eleições internas do PSD/Tomar, sem as influenciar:
Votos apurados....................................158
Carlos Carrão..................................57 36%
João Tenreiro..................................54  34%
Brancos..........................................23  14%
Nulos..............................................5     3%
Inscritos no PSD.............................11    6%
Inscritos noutro partido....................11    6%
Sem filiação partidária .....................47   29%

O primeiro comentário é sobre os votos apurados, que correspondem a cerca de 50% do habitual leitorado deste blogue. Com efeito, a média diária de visitas, excluindo sábados e domingos, é de cerca de 600. Uma vez que são publicados dois textos por dia, é natural que cada internauta efectue duas visitas, o que nos conduz aos tais 300 leitores diários. Ontem, certamente devido ao fecho da sondagem, o contador Google registou 704 visitas. Hoje até às 21 horas foram já registadas 528 visitas.
A ligeira vantagem de Carlos Carrão tem naturalmente várias leituras possíveis, que vão da importância decisiva dos funcionários da autarquia à natural proeminência da juventude quanto à posse e uso de computadores, o que deveria ter favorecido João Tenreiro, mas afinal não se verificou. Em todo o caso, tratando-se de um militante com tarimba e actualmente a presidir à autarquia, contra um jovem ainda com poucas provas dadas na política local, não se poderá dizer que a curta superioridade de Carlos Carrão seja muito prestigiante para ele. É até muito possível que anuncie já a sua derrota final nestas eleições.
Outro destaque a efectuar refere-se à elevada percentagem de votos brancos e nulos. 17% dos leitores disseram assim que nenhum dos candidatos lhes agradava. Referência também para apenas 22 inscritos em partidos, contra 47 sem filiação partidária.
Esclarece-se que não se tratou de uma sondagem representativa, mas apenas de um inquérito ao leitorado de Tomar a dianteira. Logo que conhecidos os resultados finais do escrutínio laranja, será então possível comparar e aquilatar da eventual convergência entre a sondagem e o escrutínio.