sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OLHAR COM OLHOS DE VER




Ao empolar a agora aprovada hipótese de orçamento em mais 11% sobre a já empolada hipótese do ano passado, os autarcas que temos mostraram não dominar minimamente as técnicas de gestão. Realmente, ninguém concebe que, em período de crise, as receitas provenientes de pagamentos obrigatórios dos cidadãos, fortemente acossados pelo desemprego, possam aumentar numa tal proporção. Trata-se, por conseguinte, de um sinal negativo dado aos eleitores e aos candidatos a investidores: Se o orçamento aumenta a previsão de receitas numa proporção irrealista, tarde ou cedo, alguém terá de pagar. Excelente motivo para dar corda aos sapatos enquanto é tempo.
Segundo erro crasso, os senhores autarcas acharam ser agora uma boa ocasião para anunciar a contratação de mais 163 funcionários, seja por recrutamento externo, seja por transferência, seja por efectivação, o que representa um acréscimo de despesa corrente de mais de um milhão de euros anuais. Numa autarquia já a braços com problemas de tesouraria e com compromissos mensais superiores a 65 mil contos, só em juros e reembolsos de dívida, qual é afinal a ideia ? Assustar ainda mais os eleitores ? Procurar conseguir mais votos fixos ?
Para quem continue convencido de que a actual crise é passageira, que o pior já passou, convém lembrar duas coisas. Por um lado, o Japão, segunda maior economia mundial, entrou em crise no final de 1991 e nunca mais conseguiu recuperar, apesar das sucessivas injecções de biliões de yenes, por parte do governo. Por outro lado, aqui em Tomar nem sequer há recursos para injectar na economia local seja o que for, para além dos curiosos subsídios aos festejos carnavalescos, o desemprego aumenta de forma assustadora e a cidade velha, pomposamente designada pelos srs. autarcas como "Núcleo histórico", está a transformar-se aceleradamente num deserto humano. As ilustrações supra mostram a quantidade de bens à venda ou para trespasse, numa distância inferior a 50 metros. Mais precisamente na Rua Infantaria 15 (Rua Direita), entre a Rua da Graça e a Rua do Teatro. Se isto não testemunha um verdadeiro desastre, então não sabemos o que será um testemunho E é com estabelecimentos fechados, ou a fechar, que pretendem cobrar mais 11% que em 2009 ? Bem sabemos que Fátima não fica longe, mas mesmo lá, com a vinda do Papa e tudo, os milagres já não são o que eram. Muito cuidado portanto, sem nunca esquecer que o mais perigoso é ficar no meio do rio, sem saber se convém avançar ou recuar.


1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde António Rebelo,

Realmente as tabuletas das imobiliárias, quais lápides, já não anunciam nada! Que Tomar está aceleradamente a implodir já toda a gente sabe! O que é lamentável é que aos olhos dos nossos aurtarcas esta terra continue a ser um óptimo local para viver! Dizia-me há poucos dias o dono da mais famosa pastelaria da cidade que quando os velhos reformados do exército e do ensino se forem, mais vale fechar a porta, porque ainda são dos poucos que frequentam com alguma regularidade a sua pastelaria. A próxima geração de reformados nem para pagar a renda de casa terá dinheiro. O mal não é exclusivo de Tomar. O problema é que em Tomar mora gente que nunca se predispôs a prevenir o futuro, dotando a cidade de estruturas capazes de prover às intempéries económicas que ciclicamente alastram por todo o lado. Não se criou indústria, não se promoveu a imagem da cidade, não se atraiu gente. Agora, com o definhamento do tecido industrial do concelho, sobretudo depois da queda das empresas Platex e João Salvador, não há alternativas geradoras de riqueza para o concelho. A economia das famílias vai-se exaurindo. A migração é um facto. Consequentemente o comércio vai fechando aqui e ali, pontuando a malha urbana de casas e montras fechadas. Este cemitério de tabuletas vai ganhando espaço...