quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA DA ZONA DESTA SEMANA

COLABORAÇÃO DA PAPELARIA CLIPNETO LDA.
Há na imprensa regional desta semana dois temas a merecer destaque, um no Cidade de Tomar, outro no Templário. No primeiro, trata-se do delicioso título da manchete: "Terceira fase da recuperação das ruas do centro histórico avança logo que possível". No caso do semanário dirigido por José Gaio, avulta a peça "Tomar, património, e não só...", na página 17.
Indo por partes, a manchete de Cidade de Tomar parece deliciosa por se integrar perfeitamente no curioso estilo de prosa que se usa, com alguma frequência, neste país que é o nosso. Como já referido em crónica anterior, volta e meia, quando nos deixa para sempre alguém conhecido a nível nacional, lá aparece na TV um respeitável director clínico a indicar como causa do óbito "paragem cárdio-respiratória". Como se alguma vez alguém se tivesse finado de outra forma. Pois agora também o semanário de António Madureira usa do mesmo estilo lapalissiano, por culpa do respeitável autarca que entendeu dever divulgar tal informação, que afinal nada adianta. Como é óbvio e sempre tem acontecido, as obras só começam logo que possível. O que os cidadãos desejam certamente saber é a data mais ou menos precisa em que tais arranjos terão início. Quando houver mais dinheiro disponível ? Então é melhor não termos pressa nenhuma.
Face a estas notícias para não dizer nada de novo, apenas para mobilar e entreter o pagode, se calhar seria bom indagar se alguns políticos não estarão mesmo, embora sem eventualmente de tal se darem conta, a brincar com a presuntiva ignorância dos eleitores. Escrever frases redondas não será certamente a melhor forma de aumentar o interesse dos leitores pela informação local.
Quanto à já citada peça do Templário, dá a ideia de terem os defensores da limpeza/lavagem da Janela do Capítulo decidido passar à segunda fase da refrega. Após o insucesso da artilharia pesada, com Iria Caetano e Carlos Veloso, aparece agora a infantaria, com o desconhecido Rui Bernardino. A argumentação continua a ser a mesma, manifestamente à míngua de melhor. "Deixem-nos trabalhar", o IGESPAR tem "uma direcção experiente, amigos, colaboradores, investigadores de reconhecida importância nacional e internacional", "deixem os assuntos mais complexos para os especialistas, que sabem o que estão a fazer", "há pessoas que, não sabendo do que estão a falar, nem procuram saber, opinam sobre o que quer que seja, com um descaramento de bradar aos céus." Nem mais. Tudo isto escrito por um cidadão que está a fazer um mestrado em arqueologia pré-histórica e arte rupestre, supõe-se que no Politécnico de Tomar, ou na sua dependência de Abrantes e arredores.
Pois vamos então aos factos. Nada adianta mencionar os hipotéticos recursos humanos do IGESPAR, pois ainda que possam ter ou não a craveira que lhes é atribuída, não são eles que fazem os projectos, nem executam ou sequer fiscalizam as operações de restauro, manutenção, ou lavagem/limpeza. Por isso, certamente, os resultados têm sido tão bons. Acresce não se perceber ao que vem a referência a amigos do IGESPAR.
Quanto a saber ou não do que se está a tratar, manifestamente Rui Bernardino meteu-se por terrenos que pouco ou nada conhece. Refere, por exemplo, que o conjunto monumental Convento de Cristo, Capela da Conceição, Aqueduto dos Pegões, merece respeito por ser Património Mundial, quando tal não corresponde à verdade. Só o Convento foi classificado, não os dois outros monumentos. Quanto à Janela, além de também recorrer ao estilo frase redonda, com uma magnífica "Deixar como está é o contrário de fazer alguma coisa", o senhor Bernardino alude à "futilidade de alguns comentários de pseudo-especialistas de trazer por casa." Ignorando a quem se quererá referir, não se pode todavia deixar de pensar que terá de ser a algum dos mais de cem subscritores do apelo "Salvar a Janela do Capítulo". Dado que há entre eles professores universitários, doutorados, arquitectos, historiadores, um antigo director do Convento e até o redactor do dossier que permitiu alcançar a classificação de património mundial para o Convento, em Friburgo, em 1982, seria muito útil que o cidadão Bernardino fosse mais explícito e indicasse igualmente quais são os seus principais predicados enquanto crítico dos tais especialistas de trazer por casa, e outros ignorantes de marca. Porque a questão fulcral continua a ser deliberadamente mantida na sombra. Qual é afinal a fundamentação para a pretendida limpeza/lavagem da Janela? Está degradada ? Não. Corre perigo de ruína ? Não. Está suja ? Não. Os musgos que cobrem algumas partes são-lhe prejudiciais ? Não. Então para quê tanto empenho em gastar verbas importantes e tão necessárias noutros sectores, numa iniciativa manifestamente supérflua? Para contentar os tais amigos ?
Houve quem dissesse ao Templário que um relatório do LNEC aconselhava o método que vai ser utilizado. Não é de todo verdade. O referido relatório data de Janeiro de 2002, não aconselha qualquer método, antes propõe ensaios prévios, nunca explicitando os motivos que poderiam justificar a pretendida limpeza/lavagem. O seu autor, um especialista de rochas ornamentais, afirma-se favorável a tal operação mas não justifica minimamente a sua opção.
Escreve o senhor Bernardino que "afinal aqui ninguém quer mal à Janela !" É provável. Mas há quem queira demasiado bem ao vil metal e aí é que parece estar o busilis da questão. De qualquer maneira, lida a sua prosa, podemos dizer que com amigos como o senhor mestrando Bernardino, a Janela não precisa de inimigos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Se eu fosse o mestrando Bernardino, depois de ler o seu hilariante (mas sério) artigo, enfiava-me na casota do cão do vizinho - para não aturar os pinotes do seu (dele), a gozá-lo.

Anónimo disse...

A canção fala no rouxinol do Bernardim.

Aqui fala-se do passarão do Bernardin o.

Faz toda a diferença.

è como que um elefante numa loja de porcelanas!!!

E Viva a Janela da Sala do Capítulo! Por muitos e muitos séculos! Livre desta corja de amigalhaços ... do papel moeda!!!!!!!!

Anónimo disse...

Esta análise que é feita aos jornais de Tomar é de todo muito oportuna. É mesmo uma contribuição que, se for tida em conta e se for repetida por outros, pode contribuir para que a própria comunicação social possa melhorar. Muito fazem já perante poucos recursos, é um facto, e por isso merecem uma palavra de apreço, mas a cada dia há algo de melhor para fazer. Num dos «posts» recentes, fala-se do caso Mário Crespo vs José Sócrates. Cada qual acredita no que quer mas, o que salta à vista, é que já são casos a mais para um primeiro-ministro que se quer um exemplo para a sociedade. Aliás, o teor das escutas vindas hoje a público, afundam ainda mais a sua imagem. E, desta vez, não podemos esquecer que está em causa a apreciação a conversas que, com efeito, aconteceram mesmo. Espero que este mau exemplo não alastre para Tomar. Espero que a imprensa local tenha coragem e não se desvie um milímetro do serviço público que é sua obrigação prestar.

XóKratEx disse...

você gosta do Sócrates, portanto eu para ser do contra quero a janela limpa. Para sujidade já basta um governante do pior que há, e, mais grave ainda, haver quem o apoie.