quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

SOBRE O ENCRESPADO CASO MÁRIO CRESPO

Começo por me situar politicamente, uma vez mais. Tomarense, português, europeu, por esta ordem. De esquerda, pluripartidário. Socialista de bem antes de Abril. Votei Sócrates, conforme informei na altura. E ainda não estou arrependido. Dito isto, para obviar a posteriores comentários demasiado bem intencionados, como é costume nas margens nabantinas, passo ao essencial -o incómodo que me causa o encrespado caso Mário Crespo. Por isso decidi escrever sobre ele, confesso que com pouco prazer.
Desde o início da governação de Sócrates que têm vindo a aparecer alegados "casos" envolvendo o actual primeiro-ministro. Dos seus hipotéticos hábitos sexuais à licenciatura, passando pelos projectos feitos na zona da Guarda, pela TVI e por Alcochete, já houve praticamente de tudo. E tudo ficou até agora em águas de bacalhau. Se tais "ocorrências" correspondessem à realidade, Sócrates seria ainda melhor em política que um misto de Ronaldo e Berlusconi, em termos de visão de jogo, construção de jogadas e poder de finta. E deixaria, ao mesmo tempo, a morosa justiça portuguesa ainda mais mal vista do que já está.
Curiosamente, ou talvez não, tais casos aparecem sempre quando estão em causa opções fundamentais para o país e o apetite insaciável do governador Jardim. Tal como agora, aqui há tempos houve o caso da "asfixia democrática", nunca devidamente fundamentado pela dirigente máxima do PSD, mas já com Jardim ao ataque ao orçamento do Estado...
No presente imbróglio Mário Crespo, há erros que ou são voluntários, ou são de palmatória. Um jornalista conceituado e muito experiente não devia cair na asneira de citar nomes de governantes, que envolve numa alegada tramóia, deixando ao mesmo tempo no anonimato, de forma deliberada, a identidade de outros envolvidos na mesma manobra, segundo refere. Português como eu, Crespo saberá certamente que a melhor maneira de revelar o fundamental é tentar ocultá-lo.
Pelas bandas do JN, outra incongruência -recusar a publicação porquê ? O texto não estava devidamente assinado ? O prestigiado diário do norte não dispõe do chapéu "opinião" ? O seu director desconhece uma das máximas do jornalismo de estilo europeu, de acordo com a qual cada profissional deve sempre publicar "a verdade tal como a vê", sem qualquer necessidade de contraditório, que pode sempre ser exercido à posteriori ?
Pelo que se sabe, preferiu agarrar-se à angélica e diáfana fantasia do dito contraditório, coisa que na Europa Ocidental ninguém tem em conta. E com razão, porque a informação livre e sob qualquer forma não faz parte, nem está portanto abrangida por quaisquer normas a respeitar pelo poder judiciário. A título anedótico, e para que os leitores possam aferir do realismo da coisa, imagine-se que determinado jornalista vem a saber estar em preparação um grave atentado, seguido de uma tentativa de golpe de estado. Seguindo as suas fontes, consegue deslindar todo o caso, em tempo ainda oportuno. Apenas não consegue, como se compreende, o ponto de vista dos envolvidos em ambos os crimes a perpetrar. Honrando a sua profissão, incomodado pelo dilema informação/delação, opta pela publicação, em vez de previamente comunicar às autoridades competentes, por não se considerar "bufo". Surpresa das surpresas, ou nem tanto, o seu director, já escaldado por outros incómodos e por isso medroso como a maioria dos portugueses, recusa a publicação. Alega que o jornalista não respeitou o contraditório...
Neste episódio Crespo, embora de outra dimensão, estamos mais ou menos na mesma. Alguém acredita que o primeiro-ministro e alguns dos seus ministros vão discutir assuntos sensíveis em voz alta para locais públicos e perante muita gente ? Unicamente para intimidar o interessado ? Para isso há outros meios bem mais discretos, que até aqui em Tomar vêm sendo aplicados desde há muitos anos. Com excelentes resultados, de resto. Alguém está a ver Mário Crespo, para respeitar o tal princípio do contraditório, dirigir-se ao primeiro-ministro e dizer-lhe de caras, "Afinal o que é que o senhor e os seus ministros têm contra mim ? Que mal é que eu vos fiz ?". Anotando, para agregar à sua prosa informativa, as peculiares respostas obtidas. Mesmo o clássico "Não desejamos comentar por enquanto esse assunto."
Ou, mais extraordinário ainda, um Mário Crespo bajulador do tipo "Os senhores dão-me licença? Façam o favor de me desculpar, mas é que eu ouvi a vossa conversa e como tenciono publicar este rascunho sobre o assunto, ficaria muito grato caso me honrassem com a vosso ponto de vista sobre a questão. Para respeitar o sacrossanto princípio do contraditório, como decerto não ignoram..."
A não ser que, extraordinária manobra das agências de comunicação, que tudo fazem a troco de patacos, o real objectivo seja levar os portugueses a perceberem, por intermédio desta hábil e aparentemente lateral encenação, que tanto José Sócrates como alguns dos seus principais ministros não merecem a confiança dos portugueses, porque têm tendência a abusar da garrafita e quando assim acontece padecem de incontinência verbal... Estaria assim explicada a "embirração" em relação ao governador Jardim e à sua megalomania despesista. Tratar-se-ia apenas de forçar o madeirense a fornecer mais umas barricas do afamado e divino néctar insular, como ponto prévio a qualquer discussão tendente a sacar mais dinheiro aos "cubanos do contenente".
Exagero imaginativo ? Se calhar nem tanto assim. Embora o néctar possa ser outro...
É o país que somos todos.

7 comentários:

Anónimo disse...

"Uma nota final para o Director do JN. Na minha opinião esteve absolutamente correcto ao não publicar aquilo que não era um artigo de opinião de Mário Crespo, mas incontestavelmente uma suposta notícia (ainda para mais em causa própria), sem ter para a mesma qualquer contraditório.
Assim procedessem sempre todos os responsáveis pelos orgãos da comunicação social.

(e lá voltamos a Tomar: entre tantos exemplos ao longo dos anos, principalmente nos jornais, o que dizer na actualidade de um certo programa semanal da rádio Hertz, onde sem qualquer contraditório se confundem factos com opinião, e que não tem qualquer outro propósito que não seja o ataque aos alvos dos comentadores residentes?)
COLOCADO ÀS 13:21"
berloque "alguresaqui"

Malandrice!!!!!!

Sebastião Barros disse...

Com o devido respeito, discordo frontalmente de Hugo Cristóvão em relação à posição do director do DN,entre outros, pelos motivos que alego no meu texto. Penso que a peça de Mário Crespo era sem dúvida alguma "a verdade tal como ele a viu". Uma vez que em Portugal se pratica quase só um jornalismo de estilo pretensamente americano, no qual não encaixa essa noção de verdade pessoal contextualizada, podia e devia ser publicado, em último caso com o chapéu "Opinião".
É a minha posição.

AR

Anónimo disse...

Pois é, os socialistas Tomarenses quando estavam fora do taxo, eram adeptos do programa, agora que são poder, ha que cala-los. (realmente parece que ambos os protagonistas nunca pretenceram ao poder um pelo PS e outro pelo PSD, IRONIAS).

O Sr. Socrates, tem no futuro dele, uma sombra Vale Azeviana, ou seja, quando estiver limitado no acesso aos poderes, vai ter de explicar as coisas, não encoberto na capa do estado, mas na lisura de qualquer cidadão (vejam a dificuldade do A. Vara).

Fica de seguida o Estalinismo bacoco e serodio a que chegamos nesta noticia no J. Negocios.

“Não é aceitável que venham dizer que a pessoa está doida, que precisa de ser internada num manicómio. É curioso, Estaline fez isso”. Desabafos de Mário Crespo a propósito do que alegadamente José Sócrates terá dito sobre ele e que, em entrevista ao “i” e ao “24 Horas”, se diz também triste e magoado com a falta de reacção de Nuno Santos.

Nuno Santos, director de informação da SIC, foi uma das três pessoas que terão ouvido as alegadas acusações do primeiro-ministro de que Crespo, jornalista da estação de Carnaxide, era “um problema que precisava ser solucionado”, assim como Medina Carreira, comentador habitual do seu programa "Plano Inclinado".

Bárbara Guimarães e uma terceira pessoa até agora não identificada terão também ouvido a conversa que chegou ao conhecimento de Mário Crespo por email. “Mal recebi o email, reecaminhei-o para o Nuno Santos e pedi-lhe uma explicação”, diz ao “i”. Mas “ele não justificou o que aconteceu. Consubstancia o que aconteceu. E era importante que ele tivesse reagido”.

Nuno Santos não ter defendido Crespo “é uma fragilidade, mas poderá ter sido de momento. O primeiro-ministro a falar alto é uma figura intimidante – para quem é intimidável”, argumenta Mário Crespo.

Ganda Noia - Isto de dar a cara em Portugal é cada vez mais uma imbecilidade pelo que me mantenho no meu nick name

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

A propósito do caso de... Mário Crespo:
Volta não volta, somos confrontados com situações novas que a nossa democracia de 34 anos nos coloca, com algum sarcasmo, para pôr à prova a nossa fortaleza para conviver com ela. Parece a democracia a brincar connosco...

Nos últimos meses tivemos três situações interessantes:

1 - UM GOVERNO MINORITÁRIO, saído de um combate contra uma aliança radical entre toda a direita e parte da esquerda (20% dos elitores), cujos partidos meteram na cabeça que, se não poderiam governar de S. Bento, iriam governar através da AR, argumentando com a recusa de diálogo por parte do governo investido. Pouco tempo depois bateram todos a bolinha baixo (P.República idem - e também o Governo), porque o zé povinho, afinal, tem um "chicote" que provoca feridas a quem não se porta com juízo democrático. A custo, aprenderam todos e os pregadores de desgraças assentaram...

2 - MÁRIO CRESPO -
Mas há sempre quem não perceba que a democracia é muito movediça, sujeita a deslizamentos que surpreendem mais facilmente os que estão em bicos dos pés como está a acontecer com o super delicado jornalista de conversa mole, Mário Crespo. Como já vinha acontecendo nas últimas legislativas, continuou a intensificar o seu ódio ao Primeiro Ministro de Portugal, como moderador de debates na Sic Notícias (para ele os resultados foram um faz-de-conta); em cada programa faz alinhar os jogadores mais maneirinhos à sua tática arruaceira, cristalina e civilizada..., Até aqui, nada a dizer, bem como o ter direito a odiar quem bem entender.

O problema é quando se comporta como jornalista hipócrita, ou seja, para dar alguns exemplos: quando os seus convidados criticam as políticas do seu inimigo de estimação, o homem não se satisfaz e vai de tentar extorquir a saca-rolhas, não críticas, mas piques certeiros para atingirem o homem no coração. "O senhor doutor, que é reconhecidamente um sabedor, diga lá... (faz pausas, inflexões, expressões faciais), acha que este Primeiro Ministro, José Sócrates é o Homem certo, tem credibilidade..., tem capacidade para...", e por aí fora, a deixa às vezes os entrevistados com as calças na mão. Já o ouvi perguntar "acha que o povo votou bem"? O seu comportamento durante o conflito laboral dos professores não foi o de um jornalista, mas o de um agitador da sua causa e de partidos. MC parece um moderador daqueles debates da Televisão Cubana que vejo às vezes. As perguntas a orientar as respostas - as que ele quer ouvir.

Porque não revelou essa informação pidesca nos seus programas na televisão? Porque não chamou lá os seus informadores? Porquê?...

3 - Divulgação dos rendimentos dos cidadãos na Internet.
Nem queria acreditar que o Governo tinha essa intenção. Escancararem os meus rendimentos para os meus vizinhos, amigos e inimigos saberem com quantas "notas" vivo? Têm o direito a saber as razões da proa e cagança, ou as dificuldades e humilhações que exibo na vida?

Que medida mais fantástica que a democracia portuguesa poderia implantar em prol da sociedade portuguesa! Se tinha dúvidas, as declarações que tenho ouvido sobre o assunto dissiparam-nas.

HC disse...

Caro Prof. Rebelo,

Uma vez mais cá passo e dou com a minha escrita aqui colocada. Enfim, serão fetiches de algumas pessoas, mas não será demais lembrar que quando quero dizer alguma coisa, assino.

Mas já que cá estou, permita-me que em relação ao JN mantenha o que disse, em contradição com a sua opinião. Eu acho que o director do JN esteve bem, acho que outros deveriam fazer o mesmo, seguindo de facto as regras do bom jornalismo.
É que eu não compreendo uma democracia sem regras, e este tipo de democracia em que os julgamentos se fazem na comunicação social não me parece a forma mais matura de a conceber. Sim, o contraditório pode ser feito à posteriori, depois de as acusações terem sido feitas!, depois de o mal estar feito, depois de já ninguém acreditar, depois de, mesmo que feito o desmentido ele nunca ter o mesmo destaque que a "notícia" original, ou de lhe ser dado sempre a imagem de que esse sim, é que é falso.
(E eu que já sofri pessoal, e por responsabilidades inerentes, de falsas notícias que poderiam ser desmentidas com um telefonema, sei bem do que falo).
A comparação que faz com o golpe de Estado, é aquele seu costumado hiperbolismo, que sendo inteligente como é, bem sabe que não tem na verdade comparação nenhuma.
No caso concreto do Mário crespo, confundir opinião, com acusações em causa própria, baseadas em supostos relatos de terceiros, são além de mau profissionalismo do jornalista, um atentado à inteligência.

E já agora para o senhor anónimo que não tem memória e não sabe do que fala, misturando programas de rádio com instrumentos de cozinha, deixe-me que lhe diga que eu sou responsável por de alguma forma ter travado, em período muito anterior às eleições autárquicas, uma queixa do PS à ERC sobre a rádio Hertz. E se travei a queixa, ainda que merecida, é porque entre outras questões, tenho a noção que aquele programa nos moldes em que está, acaba por a longo prazo prejudicar mais os intervenientes e a própria rádio, por evidente propósito e quase ridículo que é, do que atingir os objectivos que guiam os comentadores.

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Seja bem regressado prof. Rebelo, continue na sua senda, mas permita-me uma opinião que só naturalmente é minha e não tem de levar em conta: não seja tão "medina carreira" que os medinas do restelo acabam por não ser levados a sério, mesmo quando dizem coisas pertinentes, e já que como eu aprecia a personalidade de Sócrates, leve um pouco mais em conta aquela citação que ele tanto gosta de usar: "nunca um pessimista ganhou uma batalha".

os melhores cumprimentos

Anónimo disse...

Ambos sabemos o que motivou a queixinha, foi ficarem fora da brincadeira os meninos do PS, decididamente o cinismo faz escola no presente PS, amigos de Chaves e Cadafis e Berlusconis.

Sei bem o que escrevo, agora até comunico mais com os meninos Estalinistas do PS, derivado a uma coligaçao paranoica!

Ganda Noia

Anónimo disse...

o moralista huguinho aparece de quando em vez por aqui a espalhar a sua incontida vontade de protagonismo,

é um boy da escola carreirista que as jotas têm formado!!!!!!

o futuro deste país não passa por tais personagens, felizmente!!!!!