segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

SÃO CEGOS OU NÃO VIVEM NESTA TERRA ?

Cada vez entendo menos os senhores auto-proclamados especialistas em conservação, restauro, manutenção, recuperação, requalificação e mais o que quiserem. Contra a realidade envolvente e ao arrepio de qualquer lógica, salvo naturalmente melhor opinião, insistem na lavagem/limpeza do exterior da Nave Manuelina, incluindo a Janela, uma operação manifestamente muito dispendiosa, muito perigosa e totalmente desnecessária. Como o teste inicial acaba de demonstrar, a construção manuelina não está degradada e a infestação vegetal não danificou nem prejudica minimamente a pedra. Tudo se resume portanto a uma questão de estética e a uma espécie de luta de galos entre os que gostam do passado com todos os sinais da sua idade, por um lado, e os que, como os americanos, povo sem grande passado, gostam de tudo "clean". Gostos não se discutem, desde que não impliquem o esbanjamento de dezenas e dezenas de milhares de contos dos bolsos dos contribuintes. Que ainda por cima tanta falta fazem noutros sectores do mesmo monumento. Como por exemplo nesta Casa da Água dos Pegões, datada de 1613 e da autoria de Filippo Terzi, o mesmo arquitecto do Claustro Principal. Actualmente o seu aspecto exterior é este. Quanto ao interior, aberto em permanência aos homens e aos ventos, mete nojo e mete dó. Vão lá e vejam...



Quanto ao aqueduto, vítima de tudo e de todos, há anos que aguarda uma intervenção que lhe devolva a sua antiga função de abastecimento de água para o Convento, para a rega do pomar no interior do castelo e para a rega da Mata. O aspecto actual é este. Ervas por todo o lado, cortado em pelo menos um sítio, por um agricultor mais atrevido, que precisava de um caminho para passar com o tractor. Sem água, a estrutura vai-se degradando pouco a pouco, até à ruína final.


Este é o aspecto exterior da Casa da Água da Porta de Ferro, próximo dos Brazões. Trata-se de uma magnífica construção com abóbada, igualmente da autoria do italiano Filippo Terzi, o autor do projecto de todo o aqueduto. Apesar da nutrida e muito antiga vegetação infestante do telhado, a cobertura abobadada continua a resistir, testemunhando a excelência da sua construção. Mas conseguirá resistir muito mais anos, se não lhe acudirem quanto antes ? O que será realmente mais urgente ? Acudir a estas situações-limite ? Ou proceder à supérflua e muito perigosa limpeza da Janela ? Dado que os recursos são cada vez mais limitados, há que escolher quanto antes. Afinal, governar é optar. Haverá coragem, ou a ganância levará a melhor ?



3 comentários:

Maria disse...

Como de costume, estamos de acordo.
Senti-me doente, quando há cerca de dois anos, levei o meu marido e o filho mais novo, aos Pegões. Também lá tinha andado em miúda, não a jogar a bola, mas bricando e correndo, comendo a merenda, precisamente junto à Casa da Água, onde aliás, as bebidas ficavam a arrefecer. Aquilo era o paraíso para nós. Quando vi o estado em que está, chorei, eu que nem consigo chorar com muita coisa. Como a nossa terra mudou amigo!
Sabe? Também eu fui baptisada na Igreja de São João e lá fiz a comunhão solene. Só não casei lá, porque não casei pela Igreja.
Abraço solidário
Maria

Anónimo disse...

Também choro por dentro quando passo pelos Pegões e percebo o desmazê-lo com que é tratado e desprotegido.
Claro que é roteiro certo na feira das vaidades que é o turismo nesta cidade, mas depois é sempre esquecido.
E que tal arregaçar as mangas e, todos juntos, dar-mos o exemplo?

Sebastião Barros disse...

A melhor maneira de "arregaçar as mangas" seria conseguir que os autarcas que temos se declarassem candidatos a gerir o património que nos pertence. É, porém, muito mais fácil continuar a dizer que a Câmara não tem estruturas nem técnicos competentes, ao mesmo tempo tempo que se continua a beneficiar de vencimentos e mordomias, com um mínimo de trabalho útil e eficaz em prol da comunidade tomarense. Quanto menos chatices melhor, não é verdade ? Penso eu de que !