terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

UM ORÇAMENTO VIRTUAL PARA UMA REALIDADE VIRTUAL


Houve alguma hesitação sobre a oportunidade de escrever uma vez mais sobre o orçamento municipal. Um documento que indica, logo na página 4 da introdução, ter "como objectivo fundamental cumprir o programa apresentado à população e encontrar as soluções mais adequadas para a concretização dos principais anseios dos munícipes", não merece qualquer crédito. Por dois motivos principais, a saber. Por um lado, a ser verdade, tratar-se-ia de cumprir que programa ? O PSD, que se saiba, não apresentou tal coisa durante a campanha eleitoral. Cumprir então o programa do PS ?
Por outro lado, bem sabem os senhores autarcas quais são os principais anseios dos munícipes, quanto mais agora concretizá-los !
Logo a seguir, decerto porque uma desgraça nunca vem só, é dito que vão trabalhar "com grande empenho, tentando ser rigorosos, transparentes, justos, leais e firmes", demonstrando que estão a escrever "para dentro". Donde a inevitável interrogação: Então a circunstancial coligação ainda é um bébé e já padece de falta de justiça, de lealdade e de firmeza ? Se assim é, não nos parece que consiga ultrapassar o meio mandato...
Um outro aspecto, à primeira vista muito intrigante, é a infografia da página 5. Nela se vê que o total orçamentado pela autarquia diminuiu progressivamente entre 2004 e 2007, mas depois subiu em 2008, aumentando este ano de 11 %. Temos assim uma situação deveras insólita, quiçá susceptível de interessar os economistas do FMI, do BM e do BCE - Quanto mais grave e prolongada é a crise económica, mais crescem as receitas do município de Tomar. Deve ser caso único no Mundo, pois nem a jardinista Madeira se nos compara. Mais 11%, com o país em recessão e acossado pelos especuladores internacionais, é obra ! Afinal, viva a crise ?
Sejamos sérios e realistas. Até porque a inspecção que por aí esteve, especificou no seu relatório final que o município devia deixar de empolar as receitas, tendo até o sr. vereador Carrão respondido por escrito que cumpriria na medida do possível. Com aumentos anuais da receita de 11% em tempo de crise ? Está-se mesmo a ver !
Na mesma página, julgamos que inadvertidamente, a tal circunstancial maioria explica-se, num troço mal alinhavado: "Dado estarmos na vigência do Quadro Comunitário (QREN) é nossa obrigação estar atentos a todas as novas oportunidades que contribuem para o desenvolvimento do nosso concelho e bem-estar das populações, temos que prever realizar o maior número de obras que possam vir a ser objecto de candidatura QREN."
Aí temos a triste e bacoca realidade. Qual programa, qual história ! O que vier à rede, é peixe ! Obnubilados pelos fundos europeus, como outrora, com os resultados que se conhecem, os nossos antepassados pela pimenta da Índia, os escravos africanos e/ou o ouro do Brasil, os autarcas tomarenses estão como aquele desportista amador, que continuou a nadar, apesar de já não haver água na piscina...
Não, meus senhores. Os fundos praticamente acabaram e os próximos tempos serão de penúria. Infelizmente para todos nós. O economista americano Nouriel Roubini, que foi o único a prever a actual crise, garante agora que o pior ainda está para vir. O que não custa a crer, tendo em conta que os mais sensatos compreendem ninguém poder gastar sistematicamente mais do que aquilo que ganha. É, no entanto, na parte que nos interessa, o que têm feito, e continuam a fazer, tanto o Governo Português como o Município de Tomar. Só que, a partir de agora, o crédito vai ser cada vez mais caro e mais difícil de obter. É, por conseguinte, imperativo elaborar programas fecundos, realizáveis e flexíveis, projectos mobilizadores, integrando investimentos assaz rentáveis para remunerar o capital aplicado. A médio e longo prazo, adeus modelo social europeu, adeus função pública pletórica, bem remunerada e com aumentos anuais, adeus investimentos eleitoralistas, adeus quadros de apoio. Há que mudar de vida e quanto mais tarde, pior maré. Se não viermos a ser forçados a abandonar a zona euro, já não será mau de todo. De qualquer forma, vai ser duro. Muito duro mesmo. Para todos. E olhem que os gregos estão aflitos, sobretudo porque tinham o hábito lamentável de empolar receitas e camuflar despesas. Exactamente como acontece por estas bandas. Tudo tem um fim !

1 comentário:

Anónimo disse...

" temos que prever realizar o maior número de obras que possam vir a ser objecto de candidatura QREN."

Está visto. Somos governados por uma cambada de oportunistas que só pretendem deitar a mão aos fundos de Bruxelas.
Se o QREN financiasse a prostituição estaríamos ricos...