segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

DE REGRESSO AO CONFRONTO




De regresso ao contacto e ao confronto sereno com os leitores, conforme havia sido prometido em 15 do mês findo. De regresso a "este país que tão generosamente me acolhe no seu seio", para citar Cutileiro. Não o escultor. O outro, o embaixador.
Como decerto os mais astutos já detectaram, onde está país, deve ler-se cidade, que assim é que faz sentido.
Nas imagens, dando banho ao búfalo, fiel companheiro de trabalho e de transporte, catando piolhos à sombra e transportrando turistas para ganhar a vida, numa aldeia cujos habitantes ainda usam 15 elefantes comunitários. Apenas três fotos, das mais de mil trazidas por Tomar a dianteira de três países, vizinhos mas muito diferentes.
Um é uma monarquia constitucional (Tailândia) e o mais avançado da zona, apesar de enormes problemas sociais, entre os quais a prostituição infantil. Outro é um regime comunista (Laos) que todavia não nacionalizou quase nada, nem tão pouco garante à sua população aquilo que por estas bandas europeias temos por adquirido -assistência médica gratuita, educação para todos, rendimento mínimo, segurança de emprego, subsídio de desemprego. Uma p0breza visível que faz doer o coração, mas um povo sorridente, humilde e trabalhador, apesar de mal pago. (Um guia turístico ganha cerca de 50 dólares por mês...). Nem sabem nem sonham o que é a Europa. Quando se perguntou à guia, que até já esteve em França por duas vezes, se havia pluralismo partidário, a resposta foi seca: Para quê ?!
Na outra fronteira a Birmânia, agora Mianamar, por vontade dos militares, que governam após um golpe de estado. Ainda mais pobre que o Laos, se tal é possível. Automóveis com mais de 20 anos. Não há "multibanco" nem cartões de crédito. Mas também não há polícia (fardada ?) nas ruas e as pessoas parecem felizes. No Lago Inle, centenas e centenas praticam agricultura flutuante. À falta de terra para trabalhar, arranjam faixas de cultivo sobrepondo algas e terra sobre a vegetação flutuante. Seguram estas faixas, de metro e meio de largo por alguns metros de longo, com uma ou duas estacas espetadas no fundo. Tudo é feito de barco, do tipo canoa de fundo chato -preparação, sementeira, apanha. Para comerem e para guardarem alguns bens, usam barracas pequenas, cobertas de colmo, sobre estacas altas, uma vez qaue não podem pisar a terra de cultivo. Se o fizessem iam ao fundo.
Após mais de 13 horas de avião e hora e meia de automóvel, de novo nas margens do Nabão. Outro mundo, outros problemas.Gente que pensa ter o Estado a obrigação de nos sustentar, de cuidar de nós e da nossa saúde. Que tudo nos deve e a quem não devemos nada.
Eleitos cuidam que a melhor política consiste em sacar da vaca orçamental a maior quantidade possível de leite, enquanto a teta não seca. Vá portanto de nomear secretários, adjuntos, assessores e etc. Gente sem eira nem beira, conhecida como gente da viagem, que nunca pagou nem tenciona, salvo raras excepções, vir a pagar impostos, resolve manifestar para obter casa própria, naturalmente à custa da tal teta orçamental. E os nossos autarcas concordam. Só falta saber se haverá dinheiro para tanto. Vontade parece haver...
Enquanto isto, um reputado intelectual da nossa praça, após ter decidido agredir por escrito os subscritores do apelo para salvar a janela do capítulo, resolveu apelidar de "repugnante" a resposta afiada aqui publicada. E até nos ameaça com a justiça, porque, diz ele, "O regabofe também tem limites." É capaz! A falta de vergonha é que não parece ter. O que permite a gente de gabarito ir-se abalançando a fazer o mal e a caramunha, graças a uma velha artimanha que consiste em ler só o que nos convém naquilo que os outros escreveram, procurando assim desviar a atenção do tema central. Demasiado elementar, meu caro Watson !
Ou como dizia o outro "O mundo está cada vez mais perigoso !" E esta terra então, nem se fala !

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo regresso, julga-se que correu tudo bem!

Isto está perigoso, está e muitíssimo.
Veja-se este flagrante exemplo:


"O Fim da Linha

O texto de Mário Crespo que não foi publicado

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada."

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) no Jornal de Notícias.

Pensamentos soltos disse...

Perigosa esta terra, isto é tão perigoso como beber leite morno a beira de uma estrada.

Anónimo disse...

Bom dia António Rebelo,

Há que dar a volta! O problema é que somos um povo medroso num país merdoso. Metade puxam a carroça e a outra metade são bufos...