Hesitei bastante antes de decidir traduzir e publicar o que vem a seguir. Por vários motivos. É assaz longo; é muito complexo; aconteceu longe de Tomar e de Portugal; permite as mais variadas interpretações. Apesar de tudo isto e o do resto, resolvi meter mãos à obra, em prol do conhecimento e da liberdade de informar e de ser informado. Considero que com a falta de informação atempada e adequada só ganham os que se dão mal com a democracia.
Dada a extensão do texto, será o mesmo dividido em três entradas.
Ciganos reunidos no funeral de Luigi Duquenet, mulheres de um lado, homens do outro. Foto Adrien Matton/Le Monde
O "CHAPÉU" DA REPORTAGEM, NA PRIMEIRA PÁGINA
"Página 3
Cólera cigana"
"Luigi Duquenet, de 22 anos, foi morto na passada sexta-feira por um guarda republicano que tentava parar a sua fuga, numa estrada do distrito de Loir-et-Cher. O fugitivo tinha acabado de roubar 20 euros e era procurado há quatro meses, por não ter cumprido o seu regime de semi-liberdade.
Após a morte, verificaram-se vários actos de violência contra uma caserna da guarda republicana, contra estabelecimentos comerciais e contra árvores, que foram cortadas. Durante o funeral, a comunidade cigana estava inconformada: Segundo eles, Luigi "morreu em vão". O inquérito oficial ao incidente, que ainda deverá ser completado com exames balísticos, concluiu entretanto que o guarda republicano autor do disparo mortal agiu em estado de legítima defesa."
A reportagem
"A MORTE DE LUIGI DUQUENET, MORTO POR NÃO TER PARADO NUMA OPERAÇÃO-STOP, PROVOCOU UMA ONDA DE VIOLÊNCIA EM VÁRIAS POVOÇÕES DO LOIR-ET-CHER" [Distrito de Blois, a cerca de 350 quilómetros a sudoeste de Paris]
FUGA MORTAL, LUTO CIGANO
"Vieram vestidos à verão. Calados e recolhidos, cerca de 300 membros da comunidade cigana chegaram em grupos, provenientes dos distritos vizinhos, para acompanharem o funeral de um membro da comunidade, até ao cemitério de St.-Gervais-la Forêt. O defunto, Luigi Duquenet, 22 anos, foi morto a tiro na noite da sexta-feira anterior, após ter fugido numa operação stop e numa tentativa para lhe pôr fim.
As mães mais novas, com os filhos nos braços, acompanhadas pelos maridos a fumar, agruparam-se à volta de Alison Courtois, companheira de Luigi e mãe de Yanna, 3 anos, filha de ambos, aquando da chegada do carro funerário. Diáfana, esta viúva ainda adolescente acompanhou em pranto o caixão levado em ombros pelos homens da família, ao mesmo tempo que se ouviam os gritos lancinantes de Kátia, a mãe do defunto, amparada por familiares. Em frente da igreja inundada pela sol, onde mais de metade da assistência não conseguiu arranjar lugar, os mais chegados à família, que tinham velado o morto durante toda a noite, à volta de uma fogueira como manda a tradição, ganharam coragem e começaram a contar o seu drama aos estranhos.
Do seu ponto de vista, Luigi "foi morto sem razão", ou por tão pouco -roubo de 20 euros-, e o guarda republicano da operação-stop, cuja bala o atingiu mortalmente, não disparou nada em posição de legítima defesa, ao contrário do que afirma o inquérito oficial, que deve ainda ser completado com o resultado dos exames balísticos. "Há coisas...não joga, não joga... mais tarde hão-de perceber", prometeu com ar misterioso Pierre Duquenet, tio do morto." (Continua)
Patricia Jolly - Le Monde
Tradução e adaptação de A. Rebelo
7 comentários:
Foi esta morte que originou a queima e destruição indiscriminada de vários veículos particulares de cidadãos que -azar- não possuem garagem?
E o que diz aos seus amigos socialistas andarem a aprovar com o Corvêlo, casas para ciganos na zona industrial?
Grandes socialistas! Parece que os sentimentos de esquerda se esfumam quando se começa a receber um cheque ao fim do mês, mais o carro, mais o telmóvel...
E desdenhavam do Carlos Silva!!
Para 13:22
Foram sim senhor. Mas como aconteceu em França, 5 dias depois já foram julgados e condenados alguns dos prevaricadores. 10 meses de prisão para um, 2 meses para mais dois. Um menor de 17 anos foi deixado em liberdade, sob controlo judiciário. A polícia continua a procurar os restantes arruaceiros, para os apresentar em tribunal. Em França, as leis da República são para cumprir. Por todos.
Para 13:27
Ou muito me engano, ou trata-se apenas de fogo de vista, para entreter a plateia. A comunidade cigana acabará por ser alojada ou na Choromela ou no Bairro Salazar. É só aguardar. Sentado, que a coisa ainda vai levar o seu tempo.
Essa do vandalismo sobre as árvores, traduzido no corte das mesmas, lembra-me que cá na aldeia templeira não é preciso haver quezílias com os ciganos para haver lugar a poda. Os ilustres camarários encarregam-se de a pouco e pouco despir a cidade do seu manto verde...
Parece que os socialistas afinal sempre são contra a construção de habitações, para os ciganos na zona industrial.
Pelo menos é o que se percebe do recente comunicado, no seu blogue oficial do PS-Tomar.
Mais um bonito guardanapo para o Curvelo se limpar.
Só faltava esta?
Anda tudo maluco! É do calor? Não, é imcompetência.
Sempre achei que esta solução era de uma falta de senso enorme! para além de não se poder lá viver, os ciganos nunca deixariam a cidade, pois é aqui que têm a sua ocupação - se a isto se pode chamar ocupação! Ficavam com as casas lá e vinham fazer barracas para as imediaçõse da cidade (lá não teriam alvos nem clientes - não há gente). Não podia ser de outra forma. Prepare-se um terreno com as infraestruturas necessárias, construam lá casas de madeira e instalem as famílias ciganas com o pagamento de uma renda mensal descontada directamente no Rendimento de Inserção Social, assim como as contas de água e luz!
Enviar um comentário