terça-feira, 20 de julho de 2010

VELHOS MERCADOS E NOVO MERCADO

Lamentamos ter de desiludir alguns dos nossos contraditores. Não corremos atrás de qualquer forma de protagonismo. Limitamo-nos a exercer o melhor possível os nossos direitos e deveres de cidadania, fazendo aquilo que os mais novos não fazem, por não quererem, não poderem, ou não saberem.
A nossa actividade não é um combate político. Somos pacifistas, legalistas e respeitadores das boas maneiras. Reconhecemos que os actuas autarcas tem toda a legitimidade para levar a cabo aquilo que entenderem até ao final do mandato. Foram legalmente mandatados pelo voto. Apenas não concordamos com a maior parte das suas orientações, ou falta delas, pelo que somos forçados a criticar frontalmente, procurando sempre não ofender nem os visados, nem a verdade dos factos. O que temos escrito nestes quase dois anos de blogue, fala por nós.
Também não somos candidatos a qualquer lugar, de eleição ou de nomeação. Nem agora nem mais tarde. Ainda assim, os tomarenses podem contar connosco, para qualquer função que caiba no âmbito das nossas capacidades, desde que escolhidos por uma larga maioria, livremente expressa. Poderemos ser a vossa voz e a vossa vontade, se assim o entenderdes. Mas só nessas circunstâncias.

Quanto à eventual destruição do nosso actual mercado, desde Julho de 1950 sucessor dos pavilhões situados nas traseiras da Câmara, permitam-nos a apresentação de outro caso, para poderem comparar.

Este é o edifício dos Paços do Concelho de Pádua - Itália, à noite, na parte virada para a praça ou mercado da fruta. As bancas respectivas são instaladas e levantadas todos os dias. No piso térreo da câmara local funciona o mercado de produtos alimentares (carne, peixe, charcuteria, pastelaria, cafés, restaurantes, bares...).

Do lado oposto é a praça ou mercado dos legumes, cujas bancas são igualmente montadas e desmontadas todos os dias. Sob os arcos, os estabelecimentos do mesmo tipo dos já referidos acima.

Entre as duas praças, no primeiro piso, funcionam os serviços administrativos do município (comuna em italiano).

No segundo e último piso situa-se o salão nobre, onde se reúne a população e se fazem as grandes recepções (na foto a festa anual da polícia). Até ao século XIX aqui funcionavam igualmente os diversos juízos do tribunal local, cada um com o seu banco. A um canto do salão está exposto um enorme marco de pedra, com uma grossa corrente, em cima de uma base de mais ou menos um metro de altura. Aí eram amarrados os caloteiros, com as calças deitadas abaixo, durante o tempo sentenciado pelo juíz.
O tecto é de madeira, em forma de barco, com o fundo virado para cima.
Este belo edifício, cuja designação oficial é "Palácio da Razão", foi edificado no século XIII (há quase 800 anos), quando em Tomar apenas existiam o castelo, a Charola, Santa Maria do Castelo, Santa Maria dos Olivais, e pouco mais de uma dúzia de casas dentro das muralhas. No vale coaxavam as rãs, no pântano da Várzea Pequena e no pântano da Várzea Grande. Dá que pensar, não dá?

Na sequência das várias ideias aqui apresentadas para resolver o berbicacho do mercado, parece ter havido três tipos de reacção. A maioria dos leitores "enconchou" e aos factos disse nada. Terão constatado que afinal ideias não faltam por aqui. E que o tal plano para Tomar existe mesmo. Paciência para aturar os tomarenses é que por vezes já vai faltando, se nos permitem o desabafo.
Outra reacção mais saudável foi a daqueles leitores que apontaram detalhes da nosssa proposta, com os quais não concordam. Um deles foi o da alegada poluição "com metais pesados" dos pavilhões citados, uma vez que serviram de oficina durante anos e anos.
Terceiro tipo de reacção: o mercado já não tem mais futuro; agora há as grandes superfícies; deixem aquilo para estacionamento dos autocarros de turismo.
As primeiras quatro ilustrações mostram o abismo que continua a separar-nos da Europa Ocidental em termos comportamentais. E retiram qualquer validade à ideia de obsolescência do mercado. Se o de Pádua e os de tantas outras cidades europeias já têm séculos e séculos e continuam a servir a população, porquê destruir o de Tomar, com apenas 50 anos? Somos um povo de bárbaros canhestros, ou quê? Julgam que por essa Europa fora não há também grandes superfícies comerciais? Até foi de lá que veio o modelo...
Quanto à questão da contaminação com metais pesados, ou outros resíduos, apresentamos mais três pavilhões devolutos, vastos, situados entre a Rodoviária e a Avenida Nun'Álvares, com um assaz grande terreno igualmente livre, e LIMPOS. Apenas serviram de garagem e (um deles) de adega.

Esta fotografia mostra os três pavilhões devolutos, cobertos de telha em bom estado, e o muro do referido terreno livre.

Nesta ilustração, na extremidade esquerda o telhado de um dos pavilhões, ao meio o edifício das Estradas de Portugal, à direita a ex-Adega Albano Barreira (Canal 7, entre outros), agora também devoluta e com ligação larga a um dos pavilhões.

Dito isto, há um aspecto que ainda não conseguimos entender minimamente. Segundo o sr. presidente da edilidade, vão montar uma tenda no terreiro a sul do mercado. Subentende-se que para os vendedores de carne, de peixe e de outros produtos alimentares. Era para estar pronta já esta sexta-feira, agora ficou para a próxima, e assim sucessivamente...Isto porque, onde estão as infra-estruturas? A água corrente? Os esgotos separados? A rede eléctrica, de acordo com as normas europeias? Os sistemas anti-insectos? A rede de frio? Os balcões e bancas Inox? E a segurança? Quanto vai custar a segurança, durante pelo menos 12 horas por dia? Sim, porque umas instalações de lona, ou de material do mesmo tipo...
Outra problemática ainda, para fechar por hoje. Sabe-se que governar é prever e decidir em consequência. Qualquer que venha a ser a decisão final -recuperar o mercado, acrescentá-lo, deitá-lo abaixo e fazer um novo, destruí-lo e fazer o tal fórum- durante as obras, que não poderão deixar de ser longas: 1 - Para onde irão os vendedores de frutas e legumes? 2 - Para onde irão os vendedores do mercado abastecedor? 3 - Onde se realizará o mercado das sextas-feiras? Os autocarros de turismo vão estacionar onde? No pó da Várzea Grande? 4 - A ASAE vai consentir que o mercado do peixe e da carne funcione em instalações precárias, numa tenda, numa zona de obras demoradas, de muito pó e de trânsito de camiões?
Não será melhor parar tudo, para pensar melhor? Por enquanto ainda não é tarde. Depois, não venham dizer que ninguém vos avisou.

6 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Rebelo, é quase "ignóbil" apresentar aqui exemplos, como o de Pádua, que nos fazem sintir ainda mais pequenos do que somos! Se eu lhe mostrassse fotografias do edifício da câmara municipal de Brugge, Bélgica, ou do edifício da biblioteca central de Los Angeles, EUA, mas principalmente do átrio dessa mesmo biblioteca, então a sensação seria ainda mais deprimente.
Não pode haver comparação possível entre dois mundos separados por anos-luz de mentalidade, de planeamento, de respeito pela comunidade, etc.
São outros mundos, outras gentes...

Anónimo disse...

Trata-se apenas de mostrar que o mundo é grande, ameno e variado. Não acaba ali em Carvalhos de Figueiredo. Sem qualquer intenção de ofender ou sequer de amesquinhar.
Somos como somos. Temos é de começar a mudar um bocadinho mais depressa. Se realmente queremos sobreviver como comunidade livre, que escolhe os seus governantes.Por enquanto.

Anónimo disse...

Ainda voltando à vaca fria da temática da rotunda cibernética em fase de enterro, permita-me transmitir aqui um pensamento que há muito tinha contido.

É lamentável que o sr. Paiva, mentor e acérrimo defensor de tal caricatura arquitectónica, pessoa viajada, com apreço por visitas a Nova Iorque e amante de ténis, se alguma vez visitou o centro tenístico de Flushing Medows, nunca tenha reparado na fonte de água ali bem pertinho da grande esfera armilar e apreciado o seu desenho arquitectónico e os efeitos de luz que tem de noite. Aquilo é um exemplo acabado de como de forma minimal se conseguem resultados estéticos e visuais deslumbrantes.

Diz-se que a ideia do mamarracho parque de estacionamento nas traseiras da Câmara resultou duma visita à Áustria onde terá visto uma coisa semelhante, foi azar nosso não ter tido o bom gosto de copiar o exemplo de Nova Iorque para cá.

Anónimo disse...

Eu proponho fechar o troço oeste da rua D.Aurora Macedo, entre a rua do pe da costa de baixo e a rua de infantaria 15. Aí se realizaria o mercado semanal, ao ar livre e com ocupação de algumas das casas para a venda de peixes e carnes, para terem todas as condições que a ASAE exige.

Isso seria inovador e único, capaz de aumentar a procura.

Anónimo disse...

Professor concordo consigo, que não é só de 4 em 4 anos que nós damos o contributo, ou no caso de quem trabalha todos os mêses. Ainda bem que existe este blogger, para o debate de pessoas anonimas ou não algumas até se conhecem, que é saudavel, para a nossa cidade. Pois é lido por muita gente, alguns politicos(a meu ver havia de ser mais divulgado para outros contributos)que não são só governates que tem ideias daqui ou de outros sitios podem tirar ideias, mas dos governates que não houvem as pessoas. Pena é que algumas pessoas não contribuão positivamente, as vezes da-me vontade de dizer algumas coisas ás pessoas que sobre o anonimato utilizam linguagem imporpria, para se escrever ou dizer.Porque erra todos erramos, mas ofender niguém tem o direito. Em relação ao debate já dei a minha opinião ontem, porque a meu ver o mercado de Tomar perdeu qualidade ao ser dividido

Anónimo disse...

Qualquer tomarense que se preze não pode se não exigir o restauro e a requalificação do actual mercado...a intenção do novo riquismo pimbalhão que nos governou, foi deixá-lo degradar para erguer no seu lugar um fórum pimbalhão. O homem, é certo, não tem culpa de ter mau gosto, mas escusava de ter usado o nosso dinheiro para destruír a cidade. Com um terço do dinheiro tinha feito as obras de saneamento sem destruir a zona histórica. Tinha deixado a rotunda com flores e relva, tinha fechado a corredoura pondo estrados para esplanadas mas mantendo a traça...mas não, deu-lhe um ataque de pimbalhice e ainda estamos a pagar o desvario, com dinheiro que não temos e meia cidade tipo cenário de guerra. Longe se mantenha dos destinos de Tomar...que vir cá dormir é uma afronta. Dir-me-ão que foi eleito e temos o que merecemos. Concordo que a prol é extensa, ainda que não saiba muito bem o que anda a fazer...ou antes, funcione acriticamente como pagadora de promessas.