sábado, 4 de fevereiro de 2012

Gente sem tino e sem emenda


Com a crise cada dia mais pesada para a generalidade dos cidadãos, não faltam assuntos políticos onde se envolver. Fusão de freguesias, junção de municípios, situação na autarquia tomarense, estudos tendentes a encontrar uma alternativa ao Aeroporto da Portela para as companhias  low-cost, desemprego no concelho, proposta da Entidade de Turismo do Oeste, sugerindo uma nova orgânica turística da região, que englobe a extinta Região dos Templários e a do Ribatejo, etc. etc. Pois não senhor! Os tomarenses, regra geral do mais pacato que há neste país, encrençaram com a reforma do hospital e não querem mudar de assunto. Já está prevista mais uma concentração, desta vez até com intuitos de bloqueio, no dia 14, à porta do hospital.
Perante tanta insistência e acusações tão diversas, do tipo "Querem fechar o hospital", "Há um grupo bancário interessado no Hospital", "A sociedade X já comprou o sexto andar do hospital", "Os governantes querem prejudicar Tomar" "Com a reforma perdem-se 100 postos de trabalho, ocupados por gente jovem e qualificada", resolvi ir indagar junto de quem de direito. O que ouvi deixou-me envergonhado e apreensivo. Envergonhado por ser conterrâneo e partilhar a cidadania e a nacionalidade com determinadas criaturas, indignas das funções que ocupam. Apreensivo por me parecer quase impossível que se consiga ultrapassar a crise com gente desta, sem tino e sem emenda.
Tenho para mim que as pessoas honestas envolvidas na contestação, tanto profissionais como simples manifestantes, foram endrominadas e continuam a ser deliberadamente manipuladas por dois tipos de figurões pouco recomendáveis -os sapadores e os sacadores. Aqueles, executando ordens provindas de alhures a sul, invocam os interesses dos doentes, dos funcionários e da população em geral, para levar a cabo o seu trabalho de sapa = conseguir agitação social, que impeça a implementação do programa negociado com a troika e, se possível, provoque a destabilização e até a queda do governo. Para depois poderem alegar que não há condições para honrar os compromissos do país perante os seus credores.
Já os sacadores -que tudo indica sejam igualmente os incumbentes do trabalho de sapa e portanto das manifestações- alegam defender a qualidade das prestações médicas. Até eu, já calejado de muitas outras campanhas, cheguei a acreditar nisso. Mas não. Vai-se a ver, tudo se resume a uma questão de dinheiro ao fim do mês e a situações insustentáveis em tempo de crise, que apesar disso os actuais beneficiários pretendem manter, contra tudo e contra todos, se for preciso.
Estou a falar de cirurgiões-sacadores, médicos-sacadores e enfermeiros-sacadores, que para defenderem certos privilégios lautamente remunerados, até já recorreram pelo menos uma vez à chantagem explícita, coisa que eu julgava impossível na classe médica do meu país. Infelizmente estava enganado. A falta de sentido ético e de civismo já chega onde menos se esperava -ao escol. Os que entram nas universidades com médias altíssimas.
Resta portanto esperar que o bom senso acabe por imperar, uma vez que não cabe na cabeça de qualquer adulto com um mínimo de massa cinzenta que queiram fechar o hospital, que haja uma conspiração contra o hospital de Tomar, que o governo queira prejudicar Tomar ou qualquer outro concelho, que os privados queiram comprar hospitais que nunca tiveram nem têm uma exploração equilibrada, mesmo quando financiados pelos contribuintes e portanto com a clientela máxima. Tudo não passa de insinuações, suspeitas, falsidades, congeminações e outras que tais.
Quanto aos tomarenses endrominados, ou mudam ou vão sofrer as consequências. O tempo em que as coisas lhes vinham cair no regaço já foi. E nem o que têm está garantido A paz civil, o ordenado ao fim do mês, as férias pagas, a assistência médica praticamente gratuita, a educação idem idem, a cultura, os transportes subsidiados, correm sérios riscos de vir a definhar e até de desaparecer, caso entretanto não se encontrem novos meios de financiamento O problema é particularmente grave para a função pública, preponderante no concelho de Tomar, que não gera riqueza por não produzir valor acrescentado. Vive dos impostos, que são cada vez mais pesados mas menos suficientes para todas as despesas públicas. Até mesmo em Fátima já deixou de haver milagres. E os mercados poderão ter todos os defeitos menos um: parvos não são!

11 comentários:

Luis Ferreira disse...

Sim senhor, gostei. Foi um post no melhor estilo tomarense: adjectivação variada em relação a suposições e zero de argumentos.

Acha mesmo que o interesse da população de Tomar está assegurado com a reestruturação em curso no Hospital de tomar onde, por exemplo, desaparecem mais de 30% das camas existentes?

E que a existência de uma urgência básica, com dois médicos e dois enfermeiros de serviço, mas sem puderem sequer cozer três pontos numa cabeça partida, melhora o acesso à emergência dos nossos conterrâneos?

Dó pode estar a brincar...

Se há abusos combatam-se, que é para isso que cada um dos cinco administradores, que ganham mais do que qualquer presidente de Camara eleito pelo povo, lá estão. Agora não brinque com a saude das pessoas, porque o que está a ser feito Nao faz qualquer sentido...

Anónimo disse...

Ó Luis ! Nem sei o que te possa valer neste caso! Então agora até estás contra a implementação de uma reforma congeminada e publicada em DR pelo teu camarada Correia de Campos, em 2008? Achas que o governo Sócrates e o dito ministro da saúde também estavam contra Tomar? Que queriam prejudicar os tomarenses? Que pretendiam privatizar o hospital? Que depois iam vender as instalações por andares?
Não, pois não? Então porque será que a dita reforma, de Fevereiro de 2008, não saiu do papel durante quatro longos anos?
Última questão: Dando de barato que eu possa estar enganado e tu cheio de razão, de onde viriam as verbas para manter tudo como até aqui? Porque no fundo é isso que se pretende. A coberto, naturalmente de nobres intenções: interesses das populações, qualidade do serviço, rapidez de atendimento, empregos qualificados...
Meu prezado amigo, não é com rafeiros coxos que se conseguem vencer corridas de galgos. Além de que, como tenho referido diversas vezes, nunca vi chaparros a dar pêssegos...

alexandre leal disse...

Professor Rebelo

As minhas felicitações pela oportunidade,clareza e coragem do seu texto.
Como poderá compreender apenas poderei falar dos sapadores: certeiro e brilhante!

O vereador Luis Ferreira, pessoa por quem tenho apreço e me parece bem preparada(na lógica dos aparelhos partidários) e claramente empenhado e trabalhador ,desilude rotundamente com um comentário em linha com
as luminárias políticas da terra.
Perdeu uma excelente oportunidade de demonstrar a diferente estatura que julgo ter,por exemplo face ao
previsível,banal e ansioso guru dos independentes(?).
Assim e voltando ao texto do Professor,faz figura de sapador...

Pedro A. disse...

Ninguém de boa fé pode hoje defender a rede hospitalar que na década de 90 foi desenhada para a nossa região. Construir 4 hospitais num raio de 60 km foi desbaratar centenas de milhões de euros dos contribuintes com o fim exclusivo de satisfazer lógicas partidárias numa demonstração de total desprezo pelas boas normas de condução de uma política de saúde ao serviço da população.
Foram responsáveis por esta monstruosidade um governo imcompetente e oposições irrisiveis,todos eles-governo e oposições- condicionados por partidos abertos à corrupção como, também hoje, está perfeitamente identificado (ver entrevista do Dr Paulo Morais, presidente da Transparência Internacional - Portugal à TVI24).
O sr Luis Ferreira, que já foi autarca e, tanto quanto sei,tem a ambição de voltar a sê-lo, sabe que as coisas são mesmo assim. O que talvez não saiba é que hoje há muita gente que também sabe ou, que não sabendo, começa a desconfiar.Portanto será melhor o sr Luis Ferreira, de uma vez por todas, convencer-se que a bagunça com o dinheiro dos contribuintes tem os dias contados.
Posto isto, felicito António Rebelo pelo desassombro e coragem do seu texto.
Contudo, não posso deixar de lamentar que o mesmo António Rebelo que denuncia uma situação criada pela submissão dos interesses da população às lógicas partidárias, venha defender que Tomar e os tomarenses tirem proveito da presença do sr Miguel Relvas no governo.
Já reparou que, a acontecer, seria, mais uma vez,submeter os interesses da população a uma lógica partidária?
Do sr Relva, Tomar só precisa que ele prove que é uma pessoa decente. E para o fazer, terá, pelo menos, que explicar como é que colecionou tantas consultorias e administrações ao longo da sua vida de deputado. Será que a Assembleia da República tem agregada uma central de negócios? Igualmente terá que explicar como é que, ainda deputado, intermediou um negócio de 500 milhões de euros no universo do BPN, esse antro de vigaristas que já custou aos contribuintes portugueses milhares de milhões de euros. Estas explicações deve-as, aliás,como resposta, que tarda, às acusações feitas pelo nosso conterrâneo Francisco Oliveira Baptista, em carta publicada pelo semanário Expresso.
Pelo que leio, António Rebelo é pessoa com muito mundo. Sabe perfeitamente que carreiras como a do sr Relvas seriam impossíveis em parlamentos de países com democracias a sério.

Anónimo disse...

Para Pedro A

Das minhas deambulações pelo mundo trouxe pelo menos esta certeza:Qualquer cidadão tem direito ao seu bom nome e considera-se inocente até prova em contrário, num julgamento livre e justo. Pelo facto de ser governante, Miguel Relvas não perdeu os seus direitos de cidadania. Assim sendo continuarei a tê-lo como um honesto presidente da Assembleia Municipal da minha terra. À qual poderá vir a prestar relevantes serviços, sempre na mais estrita legalidade.
Conquanto critique acerbamente os políticos locais, sempre procurei não confundir as coisas: discordar políticamente, sim senhor; acusar e condenar sem julgamento independente e fora desse âmbito, não senhor. Todos os exemplos conhecidos dessa prática de condenação sumária, deram mau resultado.
Há delitos ou crimes? Investiguem-se, julgue-se e condene-se ou absolva-se. Julgamentos populares? Nunca!

Luis Ferreira disse...

É bom saber que os gurus do neo-liberalismo nem precisam de mandar a Tomar um Ministro, um secretário de estado ou um adjunto de um qq governante, como eu fui do primeiro governo de Sócrates, que parecem estar bem defendidos por aqui.

Quanto a factos vamos a eles. Portaria de 2008? Sim senhor, está publicada e foi cumprida em parte, uma vez que na mesma os hospitais de tomar e Torres novas eram dados como tendo urgências do tipo SUB5, definida como em complementariedade com a urgência medico-cirúrgica de referencia (Abrantes). Não era uma urgência básica comum, como aquela que a 1 de março caóticas a funcionar.

E já agora essa definição ficou assim acordada após reunião realizada no governo civil de Santarém com o anterior secretario de estado da saude. Ficou assim garantido que as urgências continuariam a ter uma ampla hipótese de resolução de problemas, com pequena cirurgia e sempre, mas sempre, com medicina interna como suporte. Não há urgências sem cirurgia, nem esta sem medicina interna, foi na altura explicado.

Ou seja, o governo PS Nao aplicou na integra a solução técnica proposta pelo grupo de trabalho da reforma das urgências, por pressão política e garantiu assim que os cidadãos servidos pelas unidades de tomar e Torres novas mantiveram uma urgência diferenciada, ao contrário do que agora é feito.

O PS explicou logo no dia 12 de Janeiro no seu primeiro comunicado sobre a matéria, que é favorável a uma reestruturação. Mais, digo eu que ela é exigida pelo serviço as populações: articulação da rede de cuidados de saude primários com a rede de cuidados hospitalares. 50% das urgências podiam simplesmente deixar de existir se houvessem mais SAP nos centros de saude. E ficava mais barato a todos. Alias ainda ninguém demonstrou que o que esta a ser feito fica mais barato do que o que estava em vigor.

E facto é que 10% das camas do médio Tejo desaparecem, quando faltam camas no hospital de Santarém e de Leiria, por exemplo. O objectivo que parece estar em marcha é apenas destruir, destruir, destruir. E nisso meus caros, sem estados de alma, terão sempre os governos, sejam de que partido forem, a minha total oposição. Não é a destruir o apoio às pessoas, a empobrecê-las e a mandá-las emigrar, que se constrói um pais. Paiva/PPD tiveram a mesma estratégia para Tomar e aí está o resultado... As mesmas soluções, dificilmene dão resultados muito diferentes.

jccorreia disse...

Este Luis Ferreira ainda só foi adjunto de um membro de um governo anterior mas já tem uma boa dose de demagogia e domina a nobre arte de falar , falar , mas dizendo pouco ou quase nada. Também já aprendeu a focar excessivamente um ponto quando quer que outros passem despercebidos.
Teve decerto um bom mestre.
De concreto e objectivo nada.
Um bom sapador !

joseccorreia disse...

Quem em Portugal tiver algum sucesso pessoal e/ou profissional e alguma evidencia publica logo começa a ser alvo de campanhas mais ou menos subtis insinuando que tal se deve a negociatas sujas e conspirações tenebrosas. Os autores são em alguns casos indivíduos mal sucedidos na vida mas ,mais frequentemente,aparecem por manobra hábil ou imposição clara de "mandantes" com matiz política.
Claro que acertam por vezes. Todos conhecemos infelizmente vários casos.
Mas também existem vários cidadãos inocentes com vidas estragadas por causa destes jogos.
E onde fica a presunção de inocência nos cérebros destes acusadores populares?
Com a lentidão da nossa Justiça estas brincadeiras vergonhosas tornam-se habitualmente eficazes.
Estamos perante um triste deficit democrático(aqui sim!) que nos faz recordar de forma impressiva o muito que há para fazer (e sem dinheiro para retocar gabinetes) nesta área.

jccorreia disse...

Sr Vereador deixe o Paiva em paz. O homem ganhou 3 eleições com maioria e limpinhas em Tomar, a primeira das quais a seguir ao tal Pedro Marques soube muito bem ao povo.
Você que tem o grande mérito de ter corrido com o tal rapaz Marques da esfera do grande PS, passe a jogar para primeiro e deixe de ser aguadeiro!
E submeta-se ao sufrágio popular! Se tiver coragem e o deixarem.

Cumprimentos

Tomar Tótó disse...

"A função pública não gera riqueza por não produzir valor acrescentado".Interessante noção a sua de uma sociedade moderna. Polícia, juízes, médicos, enfermeiros, auxiliares de jardim-escola e liceus, professores, bombeiros, condutores de ambulâncias,veterinários nos matadouros, fiscais de finanças e da segurança alimentar, militares e claro: membros do governo, autarcas, deputados e Presidente da Republica.
Defende-se o regresso ao tribalismo? Até na Idade Média existia um mínimo de organização central. E não se percebe quando tais opiniões venham de quem parece ter sempre desempenhado funções públicas ou "a cavalo" do orçamento de Estado.

Anónimo disse...

Para Tomar Tótó
Ignoro quem vossemecê seja. Economista ou mesmo aprendiz de economia não é de certeza. Quanto ao seu paleio de circunstância não desmerece numa terra onde todos julgam que sabem de tudo, o que já nos trouxe onde estamos e com boas perspectivas de irmos para muito pior. Não conte comigo para entrar nas suas querelas alambicadas. Se quer mesmo debater com seriedade, comece por assumir-se como cidadão digno desse nome: identifique-se cabalmente e inclua a sua foto de identidade ao lado.