Começa a exasperar ouvir por aí que andam a prejudicar Tomar e a tramar os nabantinos, nomeadamente no caso da reforma do CHMT. Porque a música é velha e relha. Porque só em cabeças pouco e mal artilhadas cabe a ideia segundo a qual, numa democracia ocidental, algum ou alguns políticos resolvem prejudicar intencionalmente uma urbe ou uma região. A realidade é bem diferente e muito desagradável, forçando por isso os pensadores que temos a usarem amiúde o estilo meia bola e força. Chutando com o pé que têm mais à mão, como disse já não me lembro que futebolista. Donde o referido estilo de argumentação redonda, sem ponta por onde se lhe pegue.
O principal problema de Tomar, aquele que por arrastamento provoca todos os outros, são os próprios tomarenses. Mais precisamente a mentalidade dominante na cidade e no concelho. Não de forma deliberada, claro está. Creio que apenas por ignorância, por preguiça e por conformismo se insiste num modelo social que há muito deu o berro por todo o lado. Esse modelo consiste em proteger os incapazes, os incompetentes, os balofos, fazendo simultaneamente todos os possíveis para escorraçar aqueles que pelas suas capacidades poderiam contribuir para mudar a pouco e pouco este pântano político mal cheiroso que é o vale do Nabão. Assim uma espécie de caçada permanente aos inconformistas.
Não é verdade, exclamarão as ratazanas do costume, que vivem bem e nalguns casos até vão engordando à custa do sistema vigente. Pois então vejamos. Desde o 25 de Abril, já vamos no sétimo presidente de câmara. Todos da autodesignada "boa sociedade tomarense" (seja lá isso o que for). Ou seus fiéis serventuários. Olhe-se sem lentes partidárias ou antolhos preconceituosos para a cidade e para o concelho. Estamos melhor do que em 1974? Qual ou quais as obras relevantes de cada um dos sete alcaides citados? Se fosse possível, voltaria a votar em qualquer um deles? Então porque o fez naquela altura? "Lá vamos cantando e rindo, levados, levados sim". Infelizmente.
Ainda restam dúvidas? Seguem dois exemplos concretos. A dada altura, quando se procurava conseguir a construção de um novo hospital em Tomar, após um laborioso convite às duas da manhã em Santarém, consegui trazer a Tomar o então ministro da saúde, o socialista Maldonado Gonelha. Que visitou o hospital velho, concordou com a construção de um novo e até desbloqueou verbas para equipar a clínica que depois veio a ser o anexo de além da ponte. Na altura integrava a bancada do PS na Assembleia Municipal. Cuidam que alguém me agradeceu a iniciativa? Pelo contrário. Liderados pelo então presidente PSD, cujo nome calo porque já não pode exercer o contraditório, os então senhores vogais -um dos quais é hoje senhor deputado municipal e faz parte da Comissão de Saúde- tentaram fazer-me uma espécie de julgamento sumário, alegando que eu não informara da visita ministerial o Exmo. presidente do órgão. O tal conformismo. Politicamente incapazes mas bem comportados e obedientes. Debalde tentei fazer valer como justificação que se tratou de uma visita partidária, pois o ministro era militante PS e eu também. A farsa prolongou-se, aguentei estoicamente, após o que decidi não voltar a sentar-me naquele areópago. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.
Outro exemplo, este sem qualquer implicação da minha parte. Ou quase. Ainda durante a chamada "Primavera Marcelista", aquando da célebre reforma do ensino de Veiga Simão, (ministro socialista após o 25 de Abril), os dois primeiros Institutos Politécnicos criados no país foram o da Covilhã e o de Tomar. No nosso caso porque um dos mentores da reforma era tomarense de nascimento e vivência. Filho de um conhecido causídico, agora até com nome de rua além da ponte.
Quase cinquenta anos mais tarde, o instituto da Covilhã transformou-se na próspera Universidade da Beira Interior, com uma excelente Faculdade de Medicina, entre outras. No extremo oposto, embora apenas a pouco mais de 150 quilómetros da Covilhã e mais próximo de Lisboa, o IPT vai-se arrastando com falta de ar, falta de alunos, falta de professores à altura, falta de qualidade, falta de projecto, falta de originalidade e falta de peso específico. Um cadáver adiado, como já aqui foi escrito. Por culpa de quem? Dos que alegadamente insistem em prejudicar Tomar? Ou apenas mais uma vítima do miserável conformismo nabantino, aliado ao compadrio gritante e esterilizante?
PS - Alguns conterrâneos bem intencionados (e outros nem tanto) vão-me recomendando que não diga mal dos tomarenses. Agradeço os sucessivos reparos. Sucede porém que não tenho nunca a intenção de dizer mal, de caluniar, de mentir ou sequer de dar a entender que. Limito-me a relatar a verdade dos factos, tal como a vejo. Se estou errado, não seria melhor corrigir-me de maneira fundamentada? O tempo do 31 de boca já lá vai e não volta. Como a era das farturas e das vacas gordas. Agora, ou mudam de mentalidade ou mudam de cidade!
3 comentários:
No jornal Correio da Manhã do último dia do mês de Fevereiro vem mencionado o TOP 50 das Câmaras Municipais que mais devem.
São apresentados dados que constam do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, apresentados no passado dia 28 pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas.
Entre um total de 308 Câmaras a de Tomar aparece “bem” posicionada no 35º lugar.
Assim apresenta um total de passivo no ano de 2010 igual a 32,8 por cento, para uma média do quadro de 50 Câmaras Municipais se situar em 52,1 por cento.
Também a Câmara Municipal de Tomar apresenta o valor de 12,4 por cento de aumento em relação ao ano de 2009 para uma média de 26,2 por cento nesta variável.
Serão estes números suficientemente esclarecedores para os responsáveis camarários abrirem de vez os olhos?
Provavelmente vai mais um tintol para esquecer esta crise.
Para mim a divida,dentro da razoabilidade e proporção, seria o menos importante desde que tivesse correspondência em obras úteis aos munícipes e potenciadoras do desenvolvimento do concelho. Seria um investimento .Como desconheço estes dados seria pouco correcto fazer qualquer comentário.
Julgo porém que a mentalidade que faz escola em Tomar e que o Prof.Rebelo tão bem retrata ,será a grande causadora do atraso em que nos encontramos. Os executivos podem ser melhores ou piores,os presidentes assim e assado,mas uma boa parte dos
tomarenses tem línguas viperinas e gostam muito mais de criticar do que fazer,esquecendo-se que o passado só a poucos dará de comer. Os pergaminhos e um mais que discutível nível intelectual com que alguns se pavoneiam pouco valem quando pouco se faz e, pior,se hostiliza quem quer fazer qualquer coisa.
E depois ainda temos aquele vicio de nos pendurar-mos no Estado. Mas isso foi chão que deu uvas.Tanto abusaram que a fonte secou , embora ainda haja quem nao tenha percebido e tome lugar na fila.
E assim continuamos na pasmaceira habitual.
Oh meu caro José Correia, e não é que estou de acordo consigo?!
Tão de acordo que a situação já me levou a dizer neste blog ( e em mais locais ), que os melhores tomarenses são os que aí não estão, porque se fartaram!
Assim mal "acomparado", faz-me lembrar o meu Sporting, não tem onde cair morto, mas continua a defender ser um clube de gente diferente e de bem e dirigido, também, por uma estirpe iluminada do eixo Lisboa/Cascais/Qta da Marinha.
Assim tem estado Tomar, dirigida por gente "bem" que de outrora apenas conseguiu guardar os dedos. Até quando?
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