sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Relato sucinto de uma experiência




Após meses e meses de dores na garganta e num dos ouvidos, ida ao médico a Coimbra. Consulta  marcada em especialista, professor de ORL (Otorrinolaringologia) na Faculdade de Medicina. Hora e meia à espera, apesar da marcação antecipada.
Exame detalhado e diagnóstico: paciente operada às amigdalas há muitos anos; remoção incompleta; "toco" que ficou, muito sujeito a infecções; prescrição de três medicamentos; se não se sentir melhor, volte. Honorários da consulta: 100 euros. 
Sem melhoras após a toma, procura de um especialista em Paris, pela Internet. Marcação de hotel no 5º bairro. Selecção de hospital público o mais próximo possível, entre os 52 existentes. Marcação no Hospital Cochin (1100 camas, 722 médicos, 4496 não médicos, despesa anual 358 milhões de euros). Consulta marcada para as 14H15 de 7 de Fevereiro. Doutor Pascal Corlieu, professor de ORL no CHU Paris-Descartes (ver ilustração supra).
Duas horas de comboio para Lisboa. Há 35 anos era mais rápido. Havia comboios directos. Saída na Gare do Oriente. AeroBus para o aeroporto. Quilómetro e meio = 3 euros e meio/pessoa. Ordenado mínimo nacional = 500 euros.
Duas horas mais tarde, aterragem em Paris Orly. OrlyBus para Paris (ver ilustração supra). Vinte e dois quilómetros = 7 euros/pessoa. Ordenado mínimo em França = 1398 euros.
Inscrição prévia no hospital Cochin, mediante mail anterior. Indicação de que se trata de consulta privada, sujeita ao pagamento de honorários. À hora marcada, o próprio professor Corlieu veio chamar. Questionário prévio sobre antecedentes; exame detalhado. Passagem ao bloco operatório. Anestesia local e intervenção com laser de cerca de 10 minutos.
Prescrição de um genérico ( 1 euro e 68), a tomar três vezes por dia, só em caso de dor insuportável. Pagamento de honorários: 100 euros.
A consulta e a intervenção cirúrgica tiveram lugar no Hospital Cochin, durante a hora normal de serviço do professor Corlieu, que contou com o apoio dos serviços administrativos e de uma enfermeira para a intervenção cirúrgica.
Regresso a Lisboa e a Tomar. Portugal é um grande país. Tem um clima excelente, 800 quilómetros de costa, uma população muito fraterna e come-se muito bem. Os médicos fazem tão bem ou melhor que no estrangeiro. Quando querem.
Fui comprar os jornais. Pedem-me para assinar uma petição contra o encerramento do hospital. Após leitura, constatei que afinal é o já conhecido texto "Pela suspensão imediata da reestruturação do CHMT". Não assinei e expliquei porquê: está por demonstrar que se pretenda encerrar o hospital de Tomar.
Esta gente é teimosa até mais não. E recusa-se a aprender. É pena. 

4 comentários:

Luis Ferreira disse...

Não brinque Prof.Rebelo que o que está em marcha em Portugal é a destruição do SNS, para dar lugar a gestão privada, paga com o dinheiro dos nossos impostos e com o esforço financeiro de todas as famílias.

Tem dúvidas?
Experimente comparar o número de camas que havia no CHMT antes da reestruturação e depois. Serão menos 10%. só em Tomar se reduz mais de 30%.

Deixa de haver urgência em Tomar e Torres Novas, logo lassaremos a ter de ir a Abrantes ou a Leiria, depois do IC9 terminado dentro de meses. Quanto nos custará isso a mais? Por cada acesso mais cerca de 20-30€, além de cerca de 40min de deslocação para cada lado.

E já agora o salário mínimo nacional em Portugal é de 485€, sendo que todos os que têm rendimentos inferiores a (419,22€ x 1,5 x 12) anuais não pagam taxas moderadoras, mas também não terão dinheiro para pagar um carro ou ambulância para se deslocarem a Abrantes ou Leiria.

É especialmente para esses que vai o nosso trabalho de defesa do SNS, não para quem pode ir de avião a Paris ao médico.

Sinceramente acho que deveria começar a olhar para o que está a acontecer ao seu redor e a ser justo na sua análise. Ou acha mesmo que quando se fazem contas de gestão publica não se deve entrar com a despesa das famílias? É que isto de encerrar serviços públicos de saude porque custam dinheiro, muitas das vezes apenas porque sao mal geridos, custará quanto às pessoas? E quantas vidas se perderão? Já sabe da morte de Quinta-feira na Alameda? Seja justo!

Anónimo disse...

Prezado amigo:
Habituei-me no serviço militar obrigatório, nomeadamente durante a guerra em Angola, a nunca brincar em serviço. Neste caso da saúde, começo por te pedir documentação idónea que prove a tua afirmação de que está em marcha a destruição do SNS, para dar lugar a gestão privada. A seguir, tenta convencer-me, se puderes, de que a gestão privada é sempre ruim, diabólica até, e a gestão pública isenta de erros ou de gamanços. Finalmente, como deves saber, o acrónimo SNS pode significar, consoante a envolvência, "Serviço Nacional de Saúde", "Seita Nacional de Sacadores", "Sindicato Nacional de Sapadores" ou "Sistema Nacional de Sacanices". Desde o início que apoio o primeiro, tal como agora apoio o combate acérrimo aos outros.
Quanto ao teu lamento sobre deslocações de pacientes, os habitantes do concelho de Ourém, que é agora o segundo do distrito em população e em impostos pagos, há anos que são levados para T. Novas, Tomar, Abrantes ou Leiria. E continuam sem hospital, sem quartel e sem politécnico, mudos e quedos porque sabemn que não há dinheiro para mais devaneios.
Quando estão mesmo aflitos, fazem como eu: metem-se no avião e vão a França. É sempre rápido, eficaz e muitas vezes mais barato que em Portugal, uma vez que por aqui se anda de consulta em consulta, de análise em análise, de exame em exame, de TAC em TAC...o que, tudo somado, custa mais que os 250 euros da viagem ida e volta a Paris, na TAP.
A terminar, permite que te lembre que os serviços públicos não se mantêm aqui puxando-lhes pelas caudas, quando já estamos à rasca, como agora no caso do hospital. Olha lá se tentam reformar o de Leiria, que há 45 anos não passava de uma cidadezita mais pequena que Tomar. Alguma vez os viste em manifestações para evitar isto ou suspender aquilo? Aprenderam com os emigrantes regressados que primeiro está o trabalho árduo e que pedinchar ou viver à custa dos outros é sempre uma vergonha.
A fechar: Essa história de que sem medicina interna já não é um hospital, não passa de mais uma balela mal intencionada. Consultei a lista alfabética dos hospitais de Paris e só até ao L encontrei 12, num total de 2700 camas, SEM MEDICINA INTERNA. Coitados dos parisienses! Ou de nós?
Cordialmente,
A.R.

jccorreia disse...

Caro Professor
Segundo notícias recentes estará eminente uma auditoria externas a horas extraordinárias versus produção no CHMT. Prevejo um escândalo e sempre quero ver a cara de alguns "sapadores" e "sacadores" lacrimejantes que se tem entretido a aproveitar o desconhecimento das populações em proveito próprio.
Por lado sabe-se que há números mínimos de cirurgias/ano que garantem o treino e a mão necessáriaspara operar o pobre do contribuinte. Quando for tornado publico o número de cirurgias realizado no CHMT em
2011 ,a sua distribuição e a quanto esse trabalho correspondeu em euros pagos aos cirurgiões,as
conclusões serão evidentes: a população que recorre ao CHMT mostra-se manifestamente insuficiente para
proporcionar o número de cirurgias necessárias ao treino
indispensável aos cirurgiões,face a padrões internacionais; existem cirurgiões a mais(o dobro) no CHMT.
Como nas diversas especialidades as questões se põem
de forma praticamente igual haverá que tirar conclusões.

jccorreia disse...

O sr.Vereador Luis Ferreira faz um aproveitamento que lhe fica muito mal , da morte ,no meio da rua , de um idoso .Quem ler poderá achar que se deveu a pérfidas medidas tomadas em perseguição inqualificável a Tomar por tenebrosas figuras que se acoitam na administração do CHMT.
Esqueceu-se de esclarecer que o sistema em vigor vem do tempo de Correia de Campos, sábio corrido por Sócrates quando a contestação apertou( são os politicos que temos).Também julgou pouco oportuno referir que outros casos se passaram idênticos , em que os Bombeiros estão a menos de 1 km mas a vitima tem de aguardar perto de
1hora pelo INEM.Recordo um homem de 40 anos, no
passeio da sua residência perto da rotunda do Bonjardim (que deixou uma filha ainda pequena ) e outro em plena sala de audiências no tribunal da cidade.Estávamos entao no paraíso socrático.
Onde estava o sr. Vereador ?
Acha mesmo que há algum privado que esteja interessado no H. de Tomar?
E ,apenas por curiosidade , esclareça sff : qual tem sido o seu trabalho de defesa do SNS. Basta um exemplo,um raciocínio...
Penso que estará a exagerar : gozar de mais com o pagode pode dar mau resultado!