Do recente escrito de Rui Sant'Ovaia, n'O TEMPLÁRIO, já aqui comentado (ver post "Sobre economia e turismo", de 11/02/2012), começo por destacar um longo parágrafo que me tem dado que pensar: "Com património histórico, ainda que muito dele em degradação, mas longe do litoral povoado, sem acesso às grandes vias de comunicação (como Óbidos) e sem estatuto de "grande cidade" (não por acaso o Castelo de S. Jorge tem um milhão de visitas anuais, quando o Convento de Cristo tem 150 mil), com um clima não ameno e com actividades náuticas condicionadas (Castelo de Bode), não se percebe como o turismo pode garantir a sobrevivência de uma cidade com a dimensão de Tomar." (Negrito de Tomar a dianteira)
Uma posição tão categórica permite várias respostas, umas mais contundentes, outras mais pacatas, outras ainda mais pedagógicas. Vamos por uma destas. O raciocínio do articulista pode aplicar-se a qualquer outro sector da sociedade portuguesa, bastando indicar exemplos e substituir turismo por agricultura, indústria ou serviços. Logo, não prima pela perspicácia. O que não é nada abonatório para um docente do ensino superior. Com efeito, aceitando-se que o turismo possa não vir a ser a poção mágica para Tomar, que fazer então? Tentar desenvolver que sector específico? Para produzir o quê? Para vender a quem? Na agricultura não temos experiência nem somos competitivos. Na indústria não temos savoir faire, nem procura interna nem mercados externos. Nos serviços estamos anos e anos atrasados em relação à Europa do Norte. Resta-nos então viver de esmolas? Ou morrer na miséria? O funcionalismo público foi chão que já deu uvas e daqui para a frente vai dar muitas lágrimas...
Um leigo não percebe como o turismo pode garantir a sobrevivência de uma cidade, tal como não percebe como se fabrica uma bomba nuclear, se transmite à distância sem fios, ou se fazem morcelas de arroz. Mas tudo isso se resolve com estudo e, sobretudo, com trabalho árduo. No caso do turismo, poderia até explicar-lhe já como proceder, não fora o hábito lamentável desta terra e deste país de surripiar ideias alheias, estropiá-las e depois asseverar que afinal não prestavam. Há até pelo menos um exemplo no local de trabalho do professor Sant'Ovaia, que me dispenso de comentar. Afinal um pouco aquilo que acontece amiúde com as receitas de cozinha e com as partituras musicais, por exemplo, que quando executadas por amadores bem intencionados, a maior parte das vezes são de fugir.
Pode porém o professor Sant'Ovaia ficar desde já descansado. Em Tomar, a única actividade susceptível de dinamizar a economia local é o turismo. Naturalmente secundada por alguns complementos. A seu tempo se explicará como, quando, onde, com quem e para quê. As autárquicas são só daqui a 22 meses e a eventualidade de intercalares parece ter-se desvanecido, graças à preciosa ajuda dos Independentes por Tomar, que a seu tempo pagarão por isso. Em linguagem popular, "Não perdem pela demora".
1 comentário:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Inteiramente de acordo com as críticas do Dr. Rebelo. Excepto numa velha teimosia sua, incompreensível, que já várias vezes realcei aqui: essa preocupação de ocultar propostas para o concelho, com o argumento de que as possam "surripiar", distorcendo-as, depois, na sua aplicação. Boas ou más, em Democracia, devemos torná-las públicas e se as surripiarem e mal aplicarem, pena, paciência...; se outros as aplicarem mais ou menos, bem ou melhor, encantados da vida.
Tomar precisa de estudos bem elaborados para definir, pelo menos, duas áreas em que deva apostar. Uma delas seria, sem sombra de dúvidas, o Turismo, mas sem ambições desmedidas, tipo tudo ou nada - concordo consigo. Nas justas proporções da oferta que tem, mais em relação à qualidade que à quantidade.
E tem-na.
TURISMO CULTURAL é, para mim, uma das vertentes dessa aposta no turismo em Tomar, um maná do céu que tem sido desprezado.
Não sou especialista na matéria, mas arrisco uma proposta à consideração de quem sabe.
Tomar poderia erigir-se como grande centro nacional e internacional das temáticas Templária e Descobrimentos portugueses e do Pensamento Filosófico Português, que englobaria os pensamentos filosóficos arábico e hebraico, em tudo o que influenciaram a nossa cultura e a nossa existência como Nação.
O IPT devia estar na primeira linha no estudo de uma iniciativa destas, que se inseriria num ambicioso projeto cultural de debates, conferências, encontros, seminários, exposições, estudos - e até editorial. Fazer de Tomar um centro de "peregrinação" sobre aqueles temas. Matérias suficientes e relevantes para a criação de um Curso anual aberto, inclusivamente promovido junto das universidades estrangeiras.
Está a ver...? Não custa nada, mesmo que dirigido aos senhores Professores Doutores...
Quem me dera a mim que estivesse certo e me surripiassem a ideia!
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