A Marcha dos cágados

Logo aquando das eleições aqui foi dito que com tais candidatos e tais "programas" iríamos ter mais quatro anos "a mastigar marmelada". A não ser que... A seguir aconteceu aquela estranha mancebia, com cada uma das partes cuidando pela calada que ia impor o seu modelo de vida. Embalados pelo conforto material de cada dia e do fim de cada mês, os eleitos socialistas levaram dois longos anos de tranqauibérnias várias para romper o conúbio.

Sem acesso ao pote do mel, chegou a esperar-se entre os observadores mais atentos da políticas local que os pedristas procurassem alinhar-se com os seus dois homólogos oposicionistas, no sentido de pôr fim à participação de cães-salsicha em corridas de galgos. Que é como quem diz, acabar com uma maioria relativa que nunca funcionou nem sabe funcionar de forma realmente democrática.

Passaram mais três longos meses até que finalmente os IpT lá se resolveram. "Ou saem [os eleitos PSD do executivo], ou terá que haver uma postura dos outros movimentos e partidos", disseram em conferência de imprensa, a ouvir aqui. Fica o pacato cidadão na dúvida angustiante: Postura de ovos castanhos? Amarelos? Brancos? Movimento de rotação da Terra? Movimento de translacção? Movimento perpétuo? Se não estão reinar com o pessoal, pelo menos denotam estar naquela fase bem conhecida, mas há muito ultrapassada, em que um pouco corajoso cidadão gritava: Segurem-me, que senão faço uma desgraça!

Logo no dia seguinte, os socialistas locais responderam no mesmo tom. Declararam-se abertos a todas as soluções (excepto a manutenção do actual stato quo, supõe-se), rematando com este primor de manuelino linguístico: "Estamos disponíveis para falar com quem quer que seja", afirmou Anabela Freitas aqui. Mas dar o primeiro passo, está quieto! Fica para depois.

Sentindo-se de pedra e cal no cadeirão presidencial, graças à evidente inércia dos seus opositores, Carlos Carrão continua a alinhar vacuidades e lugares comuns, como se o mundo estivesse parado à sua espera e os tomarenses desejosos de que se apresente para o elegerem triunfalmente. Qual caciquelho nordestino dos anos 50 do século passado, distraiu-se e até se confessou: "Serei candidato e por uma razão muito simples: eu e a minha equipa estamos a fazer o melhor que sabemos e que podemos." Já se tinha notado, mas fica sempre melhor quando o culpado se confessa. Pena é que nem lhe passe pela cabeça a confragedora realidade. Fazem o melhor que sabem e podem, estão nos limites, mas nem assim conseguem parar a marcha cada vez mais acelerada para o abismo, de uma cidade que já foi líder regional.

De forma que, sejamos honestos e frontais. À relativa maioria é inevitável dizer que, como manifestamente não conseguem dar conta do recado de forma satisfatória, nem coisa que se pareça, tenham ao menos a coragem e humildade de dar a vez a outros. Ao PS e aos IpT, aconselha-se que se deixem de prólogos e passem quanto antes aos finalmentes. Estamos todos fartos desta espécie de infindável marcha dos cágados. Sentem-se a uma mesa e conversem! Se precisarem de mediação neutra, também se arranja! Mas não moam mais o juízo ao pessoal com blábláblá só para mobilar.