sábado, 3 de março de 2012

Quando falta o pão...

Em casa onde falta o pão, todos ralham e todos têm razão, eis como descrever sucintamente a actualidade tomarense e nacional, servindo-se de um velho rifão, ligeiramente modifificado. Todos têm razão, ainda que, como no caso da igualdade, uns mais do que outros. Em séculos anteriores, enquanto a tracção animal assegurou o essencial dos transportes, conjuntamente com os barcos, os proprietários com burros, mulas, machos, cavalos, carroças, galeras, tipóias, landaus, caleches, carros de bois e quejandos, eram praticamente forçados a dispor igualmente de abrigo para animais e veículos. As chamadas cocheiras.
Entretanto, o progresso trouxe os veículos a motor e transformou os habitantes todos em cidadãos. Generalizou-se o uso do automóvel e criou-se o hábito de o deixar na rua, tão próximo de casa quanto possível. Daí à situação actual, em que os cidadãos motorizados consideram que "as autoridades" = "eles" = "esses gajos"=governo e/ou autarquias, têm o dever de lhes arranjarem estacionamento gratuito, foi um passo. Com razão de resto, posto que cada vez pagam mais impostos. Que para alguma coisa hão-de servir. O problema é que, em cada vez mais cidades, o total dos veículos usados pelos respectivos habitantes deixou de caber no conjunto dos parques e arruamentos. Ainda não sucede nas urbes médias e pequenas, mas para lá caminhamos a passos de gigante.
Cada vez mais vorazes, as autarquias procuram arranjar novas fontes de receita, que lhes permitam sustentar clientelas cada vez mais vastas. O estacionamento pago constitui um desses manás e, simultaneamente, mais uma dor de cabeça para quem habita nos bairros antigos. Não é com efeito nada agradável ter de pagar para estacionar, quando nos outros bairros se pode aparcar gratuitamente, embora fiquem demasiado afastados para ter o carro "debaixo d'olho", como convém, que os tempos não estão para brincadeiras. Inconvenientes do progresso. No tempo do "arre macho" não acontecia nada disto.
Todo este intróito para situar as queixas dos moradores do Bairro da flores (Rua do Camarão, Rua Sacadura Cabral, Rua Gil de Avô, Largo do Pelourinho, Rua Dr. Sousa...). Alegam não ter onde estacionar sem pagar. Sentem-se prejudicados em relação aos moradores da Alameda, por exemplo. Pedem por isso providências. Dísticos de isenção ou de redução de tarifas, só para os moradores do núcleo histórico, resolveriam o problema. O pior é que se alguma vez a relativa maioria vier a enveredar por essa via (o que não é de excluir, dado que há eleições o ano que vem), outros quarteirões vão exigir as mesmas regalias.
O ideal seria pois um plano de conjunto, abrangendo toda a área urbana, naturalmente dividida em zonas, consoante as opções previamente adoptadas após largo debate. Trata-se contudo de algo demasiado complexo e por isso laborioso, pelo que não parece que alguma vez os senhores autarcas que temos se abalancem a tal aventura. É muito mais simples e barato ir remendando aqui e acolá, do que encomendar um fato novo, começando por escolher o modelo e o tecido. Chegará porém o tempo em que já não haverá sequer algo para remendar. O costume. E assim vai acontecendo...

1 comentário:

Leão_da_Estrela disse...

Professor, a este propósito e se servir de ajuda:

http://www.louresparque.pt/

Cumprimentos