quinta-feira, 5 de julho de 2012

Demasiado boa para ser desperdiçada


Jornal de Leiria, 05/07/2012, página 13

Começo por pedir desculpa aos leitores. Vou insistir no tema da agregação de freguesias. A ocasião parece-me demasiado boa para ser desperdiçada. Passo a tentar explicar porquê.
1 - Aprende-se em qualquer escola de jornalismo que, quando um cão morde alguém, isso não é notícia. A não ser que o mordido seja célebre. Em contrapartida, seja ele célebre ou não, quando um homem morde num cão -isso é notícia e das boas. Na mesma linha de pensamento e na área da política partidária, que o PS tente boicotar a reforma das freguesias do governo PSD/CDS, ou que uma junta de freguesia do PSD aceite agregar-se a outra igualmente PSD, isso não é notícia. Inversamente, quando uma junta de freguesia do PSD decide suicidar-se, agregando-se a outra do PS, eis uma grande notícia. Curiosamente (ou talvez não) nem O MIRANTE nem o JORNAL DE LEIRIA noticiaram esse detalhe fulcral, que altera tudo. Porque terá sido?

2 - A notícia passa a ser ainda mais importante ao saber-se, pela versão do JORNAL DE LEIRIA, que os autarcas de Casal dos Bernardos -Honra lhes seja prestada!- agiram de acordo com as melhores práticas democráticas: primeiro convocaram a população por escrito e porta-a-porta; a seguir ouviram as opiniões livremente expressas num plenário com cerca de 30% dos eleitores; finalmente reuniram a assembleia de freguesia e ratificaram o que o povo já antes decidira. O que será que impede tantos outros autarcas de seguir este exemplo?

3 - Lendo as duas versões noticiosas da mesma ocorrência, uma n'O MIRANTE, da região de Santarém, outra no JORNAL DE LEIRIA, da zona da capital do Lis, é nítida a diferença de estilo redactorial. Complexo, arrebicado, longo, nem sempre claro, no caso do semanário chamusquence; escorreito, despojado, preciso, objectivo, limpo, no caso do semanário leiriense. Não se trata de uma opinião, mas de uma simples constatação. Também não é questão de manifestar preferência por um ou por outro. Cada leitor dirá de sua justiça, se assim o entender, tirando as conclusões que se impõem. Não será certamente por mero acaso que a consequências da crise são bem mais graves no distrito de Santarém que no de Leiria. Em economia nada é de geração espontânea.

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