"A França tem de investir nos docentes"
"A França sem "profs"? A imagem surpreende, para não dizer que revolta. Num país que desde 1870 tem sido feito pelos docentes do primário e do secundário, já não se conseguem recrutar professores? Num país em que a taxa de desemprego dos jovens ultrapassa 22% da população activa, há falta de candidatos ao professorado? Num país em que a sala de aula foi sacralizada pela literatura e pela mitologia nacional, há agora uma crise de vocações?
Divulgados esta semana, os resultados deste ano do Certificado de Aptidão ao Professorado do Ensino do Segundo Grau - CAPES, são inapeláveis. Havia poucos lugares a concurso; apenas 4.847. Mesmo assim, cerca de 15% ficaram por preencher por falta de candidatos. Se quisermos ser optimistas, consideraremos que em 2011 ainda foi pior. 20% dos lugares a concurso ficaram por preencher.
A profissão docente deixou de ser atractiva. É triste e tem consequências graves. A falta de candidaturas obriga a ser menos exigente: há que conseguir professores para todas as turmas. Claro que continua a haver esforços no sentido de manter o bom nível do corpo docente. A verdade porém é que os critérios selectivos são aliviados e o nível geral baixa. Na França de 2012, que ouve por toda a parte discursos sobre a economia do conhecimento.
Porquê um tal desinteresse? Trata-se afinal de uma falência colectiva, na qual a esquerda não conseguiu melhor do que a direita, nem o Estado melhor que a sociedade civil, ou os professores melhor que os pais.
Sem pretender abordar agora as razões profundas desta evolução, convém notar que a profissão docente perdeu a sua atractividade porque, como diriam os economistas, o seu estatuto social e a respectiva remuneração se afundaram. Um docente com 17 anos de escolaridade entra na carreira auferindo 1580 euros mensais. Dez anos mais tarde ganhará apenas 1900 euros.
Trata-se de vencimentos inferiores à média da OCDE (América do Norte, Japão, Europa). A França paga mal aos seus docentes. Dado que, por outro lado, é também um dos países europeus que mais gasta por aluno do ensino secundário, tem-se a ideia de um grande sumidouro. Verbas espalhadas de qualquer maneira numa confusão de opções escolares, que permitem por exemplo optar entre 50 línguas no exame do 12º ano, ao mesmo tempo que o nível geral de francês é cada vez mais baixo!
Outra originalidade francesa: colocam-se os professores mais jovens, que naturalmente têm menos experiência lectiva, nas escolas mais difíceis. Na China, o governo da região de Xangai tenta, com bastante sucesso, a experiência inversa: os professores mais competentes e mais experientes são colocados nas escolas dos bairros mais desfavorecidos.
François Hollande tem razão em querer fortalecer a segurança geral nas nossas escolas. Nicolas Sarkozy também tinha razão quando pretendia professores talvez menos numerosos mas mais bem pagos. Evitemos as posições simplistas. Tem de haver professores bem formados, bem pagos e prestigiados. O que não tem a ver só com despesa pública, mas também e sobretudo com investimento no futuro. É uma questão tão moral quanto estratégica."
LE MONDE, Editorial, 13/07/2012, primeira página
Tinha a intenção de acrescentar uma nota final sobre vencimentos, crise, desemprego, vagas, natalidade, bairros periféricos, decadência, iliteracia geral...
É melhor deixar essa tarefa para cada leitor.
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