terça-feira, 17 de julho de 2012

Verticalidade e critérios

Em comentário que pode ser lido no post anterior, o leitor Pedro César coloca um problema que merece abordagem detalhada. Escreve ele, em linguagem cordata, que "Por vezes o que me desagrada é a sua aparente dualidade de critérios." Aponta depois dois exemplos, um de nível nacional, outro nabantino.
Obrigado Pedro César, por me facultar uma excelente oportunidade de esclarecimento.
No meu entender, no domínio político, como de resto em todos os outros, as situação não são equiparáveis. Na capital, os habituais passarões, por si e através dos seus lacaios, ultrapassados pelos acontecimentos, tentam desesperadamente salvar as pratas, uma vez que para mais não dispõem de recursos intelectuais. Por intermédio de uma manhosa campanha de intoxicação -particularmente evidente no caso Relvas, em que até recorrem a um expediente já com mais de seis anos- procuram provocar uma eventual remodelação, no infantil convencimento de que os substitutos renunciaram a aplicar os ditames da troika. Como se tal fosse possível e o exemplo grego bem mostra. Trata-se, por conseguinte, de mera animação de pista, com objectivos que nada têm a ver com a felicidade dos eleitores. Apenas servem para ir mobilando, distraindo os cidadãos do essencial e adiando a inevitável busca de soluções credíveis para o país. Daí a minha condenação veemente. Há dúvidas a tal respeito?
Sete meses antes já um conceituado maçon de outra loja garantia em Tomar que Relvas ia ser queimado publicamente...
Aqui nas margens nabantinas também tem havido algumas manobras do mesmo estilo. Estou-me a lembrar daquela proposta para destituir Miguel Relvas da presidência da AM de Tomar, cargo que exerce há mais de 14 anos. Entregue por um funcionário do PCP, o referido papel não incluía qualquer argumentação justificativa, nem a CDU alguma vez abordara antes o assunto com as restantes formações políticas...
Na mesma linha, uma comissão de utentes -com o beneplácito de uma unitária comissão de saúde da AM- tem vindo a convocar sucessivas manifestações públicas (de êxito desigual) contra a reforma do Centro Hospitalar do Médio Tejo. Palavra de ordem: suspensão imediata da reforma em curso.
Como bem se vê, tal estilo de actuação só pode contribuir para desmoralizar os cidadãos, já de si pouco reivindicativos, ao constatarem que não adianta protestar. O que é pena pois se enquanto país estamos num apertadíssimo colete de forças chamado "Memorando de entendimento", como município nada obsta à mudança. E quanto mais se prolongar a presente situação pantanosa, mais difícil será depois iniciar a recuperação.
Desta dualidade resulta o meu entendimento implícito de que para problemas diferentes, entendimentos diferentes. Espero ter esclarecido a dúvida que teve a frontalidade de apresentar em termos cordatos, caso assaz raro para ser realçado.

1 comentário:

Pedro disse...

Caro professor Rebelo, agradeço o tempo dispendido a redigir o seu esclarecimento. Quanto ao modo cordato, não tem de o agradecer, uma vez que para mim é condição primordial para o debate. Palavras rudes mais não são que má criação encapotada de frontalidade e firmeza.
Quanto à sua resposta, entendo a sua base de argumentação, no entanto permita-me que continue a discordar da sua posição neste assunto. Percebo que lidamos com problemas de génese distinta, no entanto compreendo e acredito, que o direito e o dever à indignação são uma maravilhosa conquista... seja ela contra o deficit nacional, a performance de um Governo, as reformas hospitalares ou as habilitações de uma ministro.

Aceite os meus cumprimentos.
Pedro César