sexta-feira, 20 de julho de 2012

Eu não disse??!!

"O CRIME DE RELVAS"

"Escrevo semanalmente sobre política há mais de 30 anos, mas mesmo assim ainda consigo surpreender-me. Nas últimas semanas tenho ficado embasbacado ao ver pessoas adultas e supostamente inteligentes passarem noites inteiras nas televisões a discutir o "caso Relvas". Mas haverá assim tanto para discutir sobre este "caso"?
A história conta-se em seis linhas: Miguel Relvas apresentou o currículo na Universidade Lusófona, esse currículo foi considerado equivalente a 32 cadeiras, Relvas fez as quatro cadeiras restantes e obteve o canudo. Não há mais nada para noticiar. Pode argumentar-se que houve uma situação de favor -e se calhar é verdade. Provavelmente Relvas não deveria ter tantos "créditos".  Mas essa situação diz respeito à universidade e não ao próprio.
Onde é que, neste processo, Relvas poderia ter cometido um "crime"? Em duas situações: ou falsificando o currículo ou corrompendo alguém para lhe dar mais créditos do que aqueles a que tinha direito. Ora, aparentemente nenhuma destas hipóteses ocorreu. O currículo, que se saiba, está correcto; e não há nenhum indício de corrupção. O que se discute então?
Deveria Relvas ter recusado os créditos que lhe foram atribuídos? Mas alguém já fez isso em Portugal (ou noutro país do mundo)?
O "caso Relvas", neste momento, já não tem que ver com o seu curso mas sim com a luta política. Em torno de Relvas trava-se um braço-de-ferro entre a comunicação social e o governo, para ver quem é mais teimoso. Ocupam-se horas e horas na TV e na rádio com este assunto, e enchem-se páginas de jornais, apenas para manter o tema na agenda -pois já não há mais nada para dizer.
Mas, por isso mesmo, Miguel Relvas não poderá demitir-se nem ser demitido. Isso seria um tremendo erro político. Diz-se que a sua presença no governo está a contribuir para o desgastar. Ora o governo desgastar-se-ia muito mais se Relvas saísse. Porque seria uma cedência. Uma prova de fraqueza. Um sinal de incapacidade para resistir à pressão.
Voltemos um pouco atrás no tempo. Qual era um dos grandes trunfos de Sócrates, reconhecido mesmo pelos seus adversários? Era essa capacidade de resistir, a que começaram a chamar "resiliência". Sócrates resistiu ao caso da licenciatura (que era bem mais complicado que o de Relvas, pois continha irregularidades), resistiu ao caso dos mamarrachos, resistiu ao caso do aterro da Cova da Moura, resistiu ao caso Freeport, resistiu ao caso Face Oculta -chegando às eleições e obtendo, ainda assim, um resultado razoável. Ora porque carga de água deveria Relvas demitir-se "à primeira"?
Como se entende que pessoas que defenderam Sócrates com unhas e dentes até ao fim, venham agora dizer que Relvas devia demitir-se?
Demitir-se porquê?
Por ser mais gordo?
Por ser mais baixo?
Por ser do PSD e não do PS?
Um governante não deve demitir-se debaixo do fogo da comunicação social. Esta é uma regra de ouro. Num momento em que trava um braço-de-ferro com os media, não pode ser o governo a ceder. Nem há objectivamente razões para isso.
Se Miguel Relvas obteve o diploma "por favor", então reúna-se uma "comissão de sábios" para analisar o seu processo e outros idênticos -e retire-se o canudo a quem não o deva ter.
Mas poupem-nos esta novela mexicana que "já não tem mais lenha por onde arder".

P.S. - O único interesse do "caso Relvas" foi revelar aquilo que o "caso Sócrates" já tinha mostrado, mas muita gente teimava em ignorar: a falta de exigência que se verifica nalgumas universidades, distribuindo-se canudos com demasiada facilidade. Espera-se, assim, que o ministro Nuno Crato leve por diante aquilo que prometeu, isto é, analise este problema com o máximo rigor e mude o que estiver mal."

José António Saraiva, Política a Sério, Sol, 20/07/2012, página 5

Nota final de Tomar a dianteira

Dado que estou, se me é permitida a imagem, com a caneta na mão, gostaria de aproveitar para avançar com dois temas locais. Um na área do ensino, outro na do jornalismo.
Constando que o Politécnico de Tomar é dos melhores do país, tem excelentes professores, os seus cursos asseguram bastante empregabilidade, são grandes as suas exigências para com os alunos, mas apesar de todos estes aspectos a sua frequência tem vindo a diminuir de ano para ano, não seria conveniente mandar proceder a uma auditoria externa por entidade isenta e credível, como forma de alicerçar um glorioso renascimento?
É que assim estamos todos na dúvida, entre os defensores que tecem louvores e cada vez mais candidatos que votam com os pés aos gritos de "Vai pra lá tu!"

Divina surpresa no microcosmo informativo nabantino. Após anos e anos de estudada e muito conveniente neutralidade pelo mutismo, um semanário local ousa romper o silêncio. E logo pela pena do seu director. Estou a falar d'O Templário e de José Gaio, por mera coincidência docente no Politécnico e técnico superior municipal em regime de licença ilimitada e sem vencimento.
Pois perante a atitude caricata dos membros da espécie de executivo que temos, que vão fingindo governar-nos, ao expulsarem os jornalistas da reunião de ontem, entre o executivo, membros da AM e representantes de todas as freguesias, para debater a reforma administrativa, o director d'O Templário escreveu na edição electrónica aquilo que se impunha. Numa simples frase, que pode representar a charneira para uma nova idade tomarense: "O jornal O Templário lamenta e critica tal decisão."
Tomar a dianteira aplaude e clama: Até que enfim! 
Porque expulsar jornalistas ou simples cidadãos dos Paços do Concelho só pode ser obra de broncos, que nada entendem de democracia e liberdade de informação.

2 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Referindo-me ao Post "Análise da Imprensa local desta semana":

O jornal "O Templário" "informa" nesta sua edição qual vai ser o cabeça de lista do PSD para a Câmara Municipal de Tomar nas próximas autárquicas.

Trata-se do chefe de uma brigada que actua na SIC Notícias, que desempenha a função de pronto-socorro nos estapanços da rapiazada que através da mentira e calúnia conseguiu endrominar milhares de portugueses nas últimas legislativas.

O Dr. Rebelo bem por lá andou: não vão estes, aqueles também não, e para cabeça de lista em Tomar o PSD vai apresentar um tomarense de "gabarito", independente... (como convém...), escolhido pela Mesa da Consciência ou Puridade ou lá o que é, presidida por Miguel Relvas.

O Templário dá essa "notícia" ao divulgar o Congresso sobre Tomar a realizar nos dias 29 e 30 de setembro ano corrente, ao destacar a foto desse Ponta da Unha, convidado especial a orar... no dito Congresso, carregado de armas e bagagens provenientes de Lisboa. A maravilhosa Lisboa!

Trata-se, de facto, do lambe-botas de Miguel Relvas e deste governo, o inefável jornalista José Gomes Ferreira, o que deita os foguetes, faz a festa e apanha as canas, prodigioso em facilitar o desempenho aos seus entrevistados de "gabarito", endereçando-lhe perguntas e as respetivas respostas empacotadas.

Fica assim claro que em Setembro deste ano vai ter lugar em Tomar um Congresso para indicação do cabeça de lista à Câmara Municipal de Tomar.

Imagino o que sofreu o Dr. Rebelo por ter de esconder o nome!!!!!

Miguel Relvas não brinca em serviço. Não é facilmente que lhe destroem a Lapa, para o que dispõe em Tomar de uma reserva de passarada especial, sempre de bico aberto por painço, para eles e suas ninhadas.

É só para avisar o pessoal que anda por aí à rasca - nem ata nem desata.
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Li à pressa este post do Dr. Rebelo e não resisto a felecitá-lo pela forma como defende Relvas. É nos momentos difíceis que devemos mostrar quem somos. E fez muito bem em socorrer-se do Sraiva do "Sol", jornalista credível, culto, desempoeirado, independente. Um exemplo. Bons defensores que tem o Dr. Relvas!

Anónimo disse...

O que tu sabes, Templário! Um jornalista da SIC como cabeça de lista em Tomar? Mas quem é que te vendeu semelhante mercadoria?
Sobre a minha alegada defesa de Miguel Relvas, quero lembrar-te a minha posição desde o início do caso: critiquem, ataquem, acusem o ministro adjunto por aquilo que como governante faz ou tenciona fazer. Deixem-se de "minhoquices de recurso", só para mobilar e entreter o pagode.