Correio da Manhã, 19/09/2012, página 25
Com tantas certezas alardeadas pelos políticos agora na oposição, até cheguei a duvidar da bondade da minha dúvida metódica. Cada vez que lia ou ouvia a palavra de ordem do PS "Há outro caminho", ficava muito incomodado por ninguém conseguir levar o secretário Seguro a esclarecer qual, como, quando, por onde, com quem, ao mesmo tempo que encarava a hipótese de me deslocar a um próximo comício PS para fazer a singela pergunta "Qual é afinal o outro caminho, camarada Seguro?"
Andava eu nesta angústia quando finalmente tive o prazer de encontrar as declarações que acima se reproduzem. Felizmente não estou só na pradaria, aqui em Tomar Oeste. Até no Conselho de Estado há quem também duvide muito da existência real do tal caminho. Tanto mais que, entretanto, o secretário Seguro veio hoje garantir na TV que a acentuada descida de juros, verificada na mais recente colocação de dívida pública portuguesa, se fica a dever ao anúncio da eventual compra ilimitada de dívida soberana pelo BCE, em caso de necessidade. Medida que o secretário-geral do PS afirma ter vindo a defender há mais de um ano. Vejam lá e vejam bem! De acordo com o conceituado dirigente socialista, se têm seguido imediatamente o seu sábio conselho, tinha-se evitado toda esta crise, que entretanto alastrou a Espanha, Itália, Bélgica e França. Ele há coisas!
Infelizmente para António José Seguro e para a oposição portuguesa em geral, não consta por estas bandas nem nos meios europeus que alguém tenha defendido a compra ilimitada de dívida soberana antes da recente reunião Hollande/Monti/Rajoy. Quando muito, Seguro terá defendido em tempos a emissão de eurobonds, o que não é bem a mesma coisa.
Em qualquer caso, convém não abusar na área da demagogia e do oportunismo, uma vez que, mesmo com a prometida compra ilimitada pelo BCE de dívida soberana até três anos, não nos vamos ver livres das medidas de austeridade já em vigor e daquelas que inevitavelmente se seguirão, durante os próximos 10/15 anos. Consequência de erros crassos, e até intencionais nalguns casos, não do actual governo, ao contrário do que nos querem fazer crer, mas do anterior. O de José Sócrates, cujos ajudantes no fim de contas não foram só "socratinos". Foram também e sobretudo "socretinos", como mostram à saciedade os sucessivos e onerosos bicos de obra que por aí deixaram. E agora ainda insistem em nos vender a balela do "Há outro caminho?" Ganhem mas é juízo! Pelo andar da carruagem, quando e se vieram a ganhar as legislativas e forem novo governo, é quase certo que terão de implementar medidas de austeridade bem mais gravosas do que as actuais. Vai uma aposta?
4 comentários:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Vês, Rebelo, que não me engano quando digo que és idealista, as tuas posições visam um perfeccionismo impossível, és adepto de cada coisa no seu sítio, cada pessoa no seu lugar, preconizas "obediência" a quem comanda, dizes que não há outro caminho, etc.. E aqui está o perfil de um radicalista chapado.
E isso está expresso nesta citação de tua autoria neste post:
"Consequência de erros crassos, e até intencionais nalguns casos, não do actual governo, ao contrário do que nos querem fazer crer, mas do anterior. O de José Sócrates, cujos ajudantes no fim de contas não foram só "socratinos" - ...também cretinos...
Tal como muitas vezes isolas os problemas de Tomar do contexto nacional e internacional, responsabilizas os governos de Sócrates pela crise portuguesa, isolando-a do contexto internacional. Isto é radicalismo puro. De direita, bem entendido. Se é mera agitação e propaganda..., bem podes mudar de estilo e de forma, já ninguém papa disso.
Ora a realidade é bem diferente.
É verdade que também tenho uma costeleta radical do lado esquerdo, de que nunca me curarei..., enquanto as que tens do lado direito são todas elas radicais.
Talvez não dês por isso..., mas topa-se cada vez mais.
José Sócrates responde-te a ti, e aos outros como tu, com uma metáfora arrasadora: SILÊNCIO!
Eu sei que ele vos serviu de banquete. Chegou agora a hora de vomitarem tudo do que se alimentaram dele. E ai dos bichinhos que se atrevam a alimentar-se desse vomitado!...
Eu sei. A verdade nua e crua incomoda sempre. À falta de argumentação coerente, respondem os acólitos das sanguessugas com acusações ocas. Bem dizia o Guterres: É a vida!
Caro prof.,
Vou desistir!
"O meu amigo a dar-lhe e a burra aos coices..."
De tanto bater-lhe, a tecla está gasta, caramba!
No entanto, antes de ir, deixo-lhe mais um contraditório, para que os seus leitores saibam que nem tudo o que este governo nos quer vender, é de comprar:
"TSU: CES diz que Governo tem demasiadas expetativas.
O Conselho Económico e Social (CES) diz que o Governo tem expetativas demasiado altas sobre os resultados da alteração da Taxa Social Única (TSU).
O Conselho Económico e Social admite o risco de a medida originar uma espiral recessiva nos próximos anos. O agravamento da TSU de 11 para 18 para os trabalhadores terá um forte impacto na procura e vai originar uma quebra das receitas fiscais.
Por essa via a medida pode até ter um efeito contrário ao desejado pelo Governo e agravar ainda mais o défice do Estado.
O órgão consultivo do Governo que junta patrões e sindicatos considera que a solução do Executivo é inédita e acrescenta que mesmo o impacto positivo previsto, como a criação de 50 mil postos de trabalho não parece proporcional ao sacrifício exigido às famílias. Um sacrifício que resulta da brusca diminuição dos rendimentos.
No parecer divulgado pelo Público é ainda feito um aviso. A medida é injusta e pode gerar conflitos desnecessários nesta fase da vida do país."
Cordialmente
Ainda lhe deixo mais uma, para que não se julgue que quem propõe alternativas ou se manifesta contra algumas medidas, não tem razão. Desta vez as portagens nas SCUTS:
EX-SCUT
Introdução de portagens afinal prejudicou o Estado
Ernst & Young conclui que, por cada oito euros de portagens pagos pelos automobilistas, Estradas de Portugal só ficou a ganhar um euro
A Ernst & Young arrasa a introdução de portagens nas concessões Norte Litoral, Grande Porto, Costa de Prata, Beira Litoral, que abrangeu ainda as concessões Norte e Grande Lisboa.
A consultora internacional conclui, pela primeira vez, que a decisão do governo socialista deu prejuízo ao Estado, em termos económicos.
«A nossa abordagem conclui que o prejuízo económico foi superior ao benefício líquido para a Estradas de Portugal (EP)», explica a consultora num estudo a que a TVI teve acesso.
O aumento de tempo das deslocações e o aumento da sinistralidade causados pelo desvio de tráfego para a rede de estradas secundárias são os dois factores económicos, não ponderados na altura, que levam agora a Ernst & Young a esta conclusão.
Nas contas da Ernst & Young, a redução de custos para a empresa pública, até ao final da concessão, foi verdadeiramente marginal.
Com o fim do modelo SCUT, a EP passou a receber portagens dos automobilistas, que antes circulavam de graça, mas aumentou o valor das rendas anuais a pagar às concessionárias privadas.
Antes das portagens, a EP tinha 3.579 milhões de euros de encargos com estas concessões; com a introdução de portagens, mesmo descontando a receita proveniente dos automobilistas, continuou obrigada em 3.216 milhões.
O benefício da introdução de portagens para a empresa pública, com base nas previsões de tráfego actuais da Ernst & Young, é de 362 milhões até ao fim das concessões.
Mas é preciso lembrar que os automobilistas foram metidos à força nestas parcerias público-privadas (PPP). É que antes circulavam de graça e agora calcula-se que venham a pagar quase 3 mil milhões de euros em portagens.
Feitas as contas, percebe-se que do ponto de vista público o negócio não foi brilhante. Na prática, por cada oito euros de portagens, a empresa pública só beneficia de um euro.
A consultora afirma que não foi possível efetuar a mesma análise para as antigas SCUT portajadas já por este Governo, cujo acordo celebrado pelo Ministério da Economia está ainda pendente de decisão final do Conselho de Ministros.
Em causa estão as antigas SCUT Beira-Interior, da A23, Torres Novas-Guarda, Algarve, da A25, Via do Infante,
e Interior Norte, da A24, Viseu-Chaves.
«Não efectuámos a mesma análise visto que não nos foram fornecidos os termos dos acordos e o respectivo modelo financeiro», explicam.
No entanto, a consultora conclui que o rendimento dos acionistas, na maioria das ex-SCUT agora portajadas pelo anterior e pelo actual governos, é hoje maior do que o previsto nos contratos iniciais.
«As taxas internas de rentabilidade aumentaram, em média, cerca de 2 pontos percentuais», conclui.
No cálculo da Ernst & Young, o cash-flow acionista subiu de 6,3 milhões para 38,8 milhões na PPP Norte Litoral, de 62 para 113 milhões na PPP Grande Porto, de 85 milhões para 165 na PPP Beiras Litoral e Alta e de 23 para 41 milhões na PPP Algarve, da Via do Infante.
A Ernst & Young conclui que os cash-flows dos acionistas das antigas SCUT têm uma «grandeza significativa» e que o o Governo dispõe de «margem para os reduzir com materialidade».
Será que rapidamente vamos ver alguém do anterior governo num qualquer conselho de administração duma destas concessionárias?... (a pergunta é minha)
Cordialmente
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