quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Contra os trabalhadores? Ou a favor?

O atento leitor e prezado comentador Leão da Estrela enviou uma citação sobre a Comissão Europeia e a redução da TSU para os patrões que constitui uma boa ocasião para esclarecer uma zona de sombra existente nos meus escritos. Diz a citação (escrevo de cor) que a Comissão Europeia pode recuar na querela da TSU caso o governo português encontre alternativas que produzam os mesmos efeitos. Estamos assim confrontados novamente com o problema da equidade entre contribuintes, que já anteriormente levou os meritíssimos conselheiros do Constitucional a chumbar parcialmente o corte dos 13º e 14º mês aos funcionários, a priori por não se darem conta de estarem a tratar por igual coisas diferentes. O corte dos dois vencimentos aos funcionários e aposentados constitui para o Estado uma redução da despesa, enquanto que a mesma medida, se aplicada aos privados e a favor do Estado, é uma aumento de receita. O que faz toda a diferença, posto que a troika exige ao governo que reduza a despesa, não que aumente a receita, coisa aliás bem difícil nos tempos que correm, a não ser mediante impostos ainda mais confiscatórios. 
Temos por conseguinte mais um quebra-cabeças para Vítor Gaspar, desta vez com uma situação que os manuais de economia não contemplam: o patronato contra a redução dos custos de produção, quando até agora tem sido sempre o contrário. No meu entender, trata-se de tamanha originalidade, que a resultar na anulação total ou parcial da medida proposta, redundará muito provavelmente na vinda a Portugal daquela malta de Harvard, Stanford, Yale ou Berkeley, sempre muito atentos às novas tendências. E que aproveitarão para almoçar com o antigo aluno Belmiro...
Porque uma coisa é certa: que Belmiro de Azevedo se tenha pronunciado frontalmente contra, percebe-se. A SONAE opera sobretudo na área do consumo e o aumento da TSU para os trabalhadores, resultando numa redução do líquido a receber, só pode provocar uma redução do consumo, NUM PRIMEIRO TEMPO, depois compensado pelo aumento do número de consumidores devido à redução do desemprego. Já a posição global do patronato português me parece de todo folclórica, (para não dizer outra coisa) visto que, se não concordam, têm a faca e o queijo na mão -basta-lhes devolver aos seus trabalhadores a taxa confiscada pelo Estado.
Já a "oportuna" notícia segundo a qual vários economistas não identificados concluíram que a redução da TSU vai provocar a supressão de 68 mil empregos, traz água bico e até prova em contrário não passa de um conto da carochinha para pessoal de esquerda. Basta interrogar-se um pouco para assim concluir: Que economistas? Com que parâmetros? Porquê menos 68 mil e não 5, 30, 70 ou 100 mil? Qual a relação coerente entre uma coisa e outra, uma vez que, regra geral, redução de custos de produção = redução de preços = aumento de vendas = aumento de lucros = aumento de produção = criação de novos postos de trabalho = crescimento económico? Os manuais de economia e gestão passaram agora a estar errados? Ou trata-se apenas de mais uma sacanice refinada para entalar o governo, por ser de direita?
Resta um outro caso sobre os trabalhadores coitadinhos, mais precisamente sobre os funcionários da autarquia tomarense. Segundo o mesmo comentador Leão da Estrela, em escrito anterior, assumo por vezes posições contra os citados empregados do Estado pagos por todos nós, apesar de nem todos justificarem o dinheiro que lhes cai cada mês na conta. E aí é que está o busilis. A retoma nabantina, a interrupção da até agora inexorável caminhada para o abismo da insignificância, não se conseguem só com as alterações da TSU. Passa obrigatoriamente pela acentuada redução de emprego público, condição sine qua non para em simultâneo baixar custos e asfixiar o polvo burocrático local, única forma de tornar o concelho de novo atractivo para o investimento. Não se trata portanto de ser a favor ou contra o funcionalismo municipal, que controla a autarquia. (Sem tentáculos não há polvo voraz e empecilhante...) Apenas de ser frontal, realista e consequente. Nunca vi fazer omeletes sem partir ovos e já conheço muito mundo...

2 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Lisonjeado pela imerecida atenção.

Gostaria no entanto de lhe chamar a atenção para a "sacanice" da sua argumentação, passe o vernáculo: o que eu lhe quis fazer ver, é que a posição da troika não é cristalizada. Perante a realidade de casa situação e a assumpção de dificuldades de cobrança da dívida, ela vai adaptando o seu modo de actuação; é que pior que cortar a torneira, é cortar a torneira e saber que desse modo não receberão o que já escorreu...
veja-se o exemplo da Grécia.
Já quanto aos funcionários municipais, omitiu o "pequeno" pormenor de que lhe dei o benefício de estar certo pontualmente; ele há bons e maus, como em todo o lado! mas olvidou que o problema não é o Assistente que ganha 500 Euros, caramba! o problema está nos milhares de boys e compadres e amigos e correlegionários que não põem os pés nos locais que lhe pagam e eu conheço bastantes e que ganham ordenados chorudos e têm carro e telefone e almoçaradas, etc., etc.
Já agora, diga-me lá como reduz o emprego público, sem aumentar exponencialmente o desemprego. Era caso para chamar essa rapaziada toda que citou de "Harvard, Stanford, Yale ou Berkeley, sempre muito atentos às novas tendências."
E diga-me lá, muito sinceramente, porque é que os números por si citados são sempre credíveis e os dos outros não? que diabo, dê-se um pouco à dúvida e aceite que nem tudo é como o governo lhe vende. Eu admito que já não esteja em idade (não lhe estou a passar nenhum atestado, acredite) de ter paciência para procurar alternativas ao que lhe apresentam, mas permita que outros o façam, com o entusiasmo de quem quer que o país progrida e o povo tenha uma vida melhor, sem se acomodarem à inevitabilidade de que se estamos endividados, estamos perdidos para todo o sempre!
Os sacrifícios são precisos? pois, infelizmente por culpa dos políticos que nos "governaram" nos últimos 30 anos e que por incompetência uns, por interesse próprio, outros, deixaram grassar a corrupção a todos os níveis (vide submarinos, travessias do Tejo - ponte Vasco da Gama- PPP's, etc.) que trouxeram o país até esta situação, hoje e durante algum tempo, esperemos que não muito longo, vamos passar fome (isso mesmo, eu disse VAMOS PASSAR FOME), mas creia que quem conduziu o país a este estado de coisas, continua refastelado, sentado à mesa do orçamento, mamando na teta agora mais seca, defendidos por pessoas como o meu amigo, que ingénuamente ainda acredita na sua boa vontade.
Não sei se o Seguro sabe o caminho, mas ele há outro sim senhor! quanto mais não seja, o de "dividir o mal pelas aldeias", que já não é despiciendo.

Cordialmente

Edmundo Gonçalves

Anónimo disse...

Amigo Edmundo:

Bem haja pelo seu comentário. Concordo inteiramente com a maior parte do que nele diz. E não ignoro que os maiores mamões, na maior parte das vezes, nem são funcionários de carreira, nem eleitos. Dito isto, pode crer que não procuro defender este governo. Apenas tento manter o bom senso crítico e a capacidade analítica, com a maior imparcialidade possível. Por vezes erro? É claro que sim! Creia contudo que nunca deliberadamente, "à Louçã", ou por omissão "à Seguro".
Se isso o pode serenar um pouco, acredite que não perdi a esperança. Nem em relação ao país, nem a esta nossa amada terra, "madrinha de forasteiros, madrasta dos seus próprios filhos" como dizia o saudoso Nini Ferreira.
Se o despedimento de funcionários vai provocar mais desemprego? Depende do modo como vier a ser feito e da maior ou menor criação de postos de trabalho no privado. Porque uma medida dessas faz parte da tal destruição criadora, uma vez que com as actuais condições existentes em Tomar, por exemplo, ninguém quer investir. E sem investimento, mais tarde ou mais cedo a autarquia será forçada a reduzir pessoal, que a cadela não vai poder com tanto cachorro...se é que ainda pode.

Cordialmente,

A.R.